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sábado, 21 de abril de 2012

UMA REFLEXÃO SOBRE O 21 DE ABRIL


 

A data 21 de abril fora instituída oficialmente no Brasil a partir do Decreto Nº 155, de 14 de janeiro de 1890, sancionada pelo golpista Marechal Deodoro da Fonseca, o chefe do governo republicano provisório. 

Porém, em virtude de uma campanha de um jornalista paulista a época descaracterizando a importância de Tiradentes no movimento ocorrido em Minas Gerais; deste modo, em 1930, no governo do presidente Washington Luiz fora abolido o feriado. 

Mas, pouco tempo depois, surgira uma campanha iniciada por uma Câmara municipal do interior de São Paulo, se propagando para o país inteiro; e desta livre e espontânea pressão, o feriado de 21 de abril fora restaurado e sancionado pelo então, Presidente Getúlio Vargas através do Decreto Nº 22647 de 17 de abril de 1933. Surge uma nova campanha contra a memória do “herói nacional” Tiradentes motivando, assim outra extinção do feriado, desta vez através da lei Nº 662 de 6 de abril de 1949, pelo presidente da Gaspar Dutra(Declara Feriados Nacionais os dias 1º de janeiro, 1º de maio, 7 de setembro, 15 de novembro e 25 de dezembro). Enfim, o mesmo Gaspar Dutra através da Lei Nº 1266 de 8 de dezembro de 1950,  institui novamente o feriado, isto pode ser comprovado  através da redação do artigo 3º desta Lei : “É feriado nacional o dia 21 de abril, consagrado  à glorificação de Tiradentes  e anseios da independência do país e liberdade individual”. Mais tarde no governo ditatorial do Marechal Castelo Branco, a Lei 4897, de 9 de dezembro de 1965, declara Joaquim José  da Silva Xavier, o Tiradentes, Patrono Cívico  da Nação Brasileira.

É importante o leitor observar quem eram os chefes do Estado Brasileiro e a que grupos políticos serviam e qual eram os seus propósitos no período dessas nuances a respeito do feriado 21 de abril.

Grosso modo, falando com o advento da Proclamação da República, que na verdade foi um golpe dado pelos militares na decadente Monarquia, era preciso se criar um herói, e, no entanto, como o povo não participara deste “magnífico evento”, nada mais conveniente do que a imagem de um indivíduo de origem humilde com a semelhança do Cristo, para simbolizar uma identidade nacional e assim, justificar e eternizar o feito do Marechal Deodoro da Fonseca. Daí a construção da figura de Tiradentes que agradava tanto a elite dominante como o povão de uma maneira geral.

Contudo, afinal quem era Tiradentes? Por que foi o único condenado à morte? O que tinha de especial? Analisadas detalhadamente as suas atitudes ou estudadas as circunstâncias motivadoras da sua atuação, seus atos e/ ou ideologias professadas, a historiografia brasileira afirma que, Tiradentes era de origem humilde e possuía pouca instrução. Mas com muito esforço aprendera francês, inglês e tivera contato com as obras dos enciclopedistas e também com a Declaração de Independência dos Estados Unidos, propagandeado-as por onde passava. Afirma-se, também que Fora comerciante ambulante, minerador, dentista prático (daí seu apelido) e tropeiro de cargas.

O insucesso financeiro levou-o a ingressar na 6ª Companhia de Dragões de Minas Gerais. Pelo fato de ser branco e descendente de cristãos velhos, teve o privilégio de ser admitido já como oficial: tornara-se alferes (segundo-tenente). Destacando-se pela sua lealdade ao militarismo, tanto na Região das Minas como no Rio de Janeiro, para onde fora transferido. De volta a Vila Rica (atual Ouro Preto então capital de Minas Gerais), fora designado para comandar a patrulha do Caminho Novo, por onde o ouro da Região das Minas se escoava para o Rio de Janeiro, a fim de ser transportado para a metrópole portuguesa. 

No desempenho dessa função Tiradentes viajou por todos os rincões da região, conhecendo de perto a angústia, a miséria do povo e a tirania que pairava sobre eles. A situação piorou cada vez mais com a chegada do novo governador de Minas Gerais, Luís da Cunha Meneses (1783). Este, um governante arbitrário, só valorizava seus subordinados que fossem bem nascidos ou aduladores. Porém, esse governo só priorizava e favorecia aos filhos de Portugal. 

Assim sendo, Tiradentes começou a sentir na própria carne a injustiça das autoridades, pois os anos passavam e ele continuava alferes. Não sendo português nem possuindo um nome ilustre, tinha poucas possibilidades de progredir na vida militar. 

Desiludido e frustrado com o militarismo pedira licença e seguira para o Rio de Janeiro. Na capital da colônia elaborou projetos importantes, tais como a construção de armazéns e a canalização dos rios Andaraí e Maracanã, que iriam solucionar o problema do abastecimento de água da cidade. Mas, sem amigos influentes para dar vazão aos seus projetos, caíra no esquecimento, aproximou-se do jovem José Álvares Maciel, que regressava da Europa (setembro 1788), alimentando sonhos de independência e de liberdade. Esse encontro fortaleceu ainda mais os ideais políticos que povoavam o espírito inquieto de Tiradentes. 

Diga-se, nesse período a Europa fervilhava, em ideais revolucionários e na América do Norte, as Treze Colônias haviam se libertado da Coroa Inglesa recentemente, era um exemplo a ser seguido. Contando com a colaboração de Maciel, Tiradentes aproxima-se da intelectualidade de Minas Gerais e acaba se tornando um dos principais Ativistas (propagandeador das ideias do movimento) da Conjuração Mineira, por onde passava, ia deixando como um rastilho a arder, a flama de seu entusiasmo. 

Além dos ativistas, existiam mais dois grupos que davam sustentabilidade ao movimento: os Intelectuais (grupo do qual estavam os poetas árcades, como Tomás Antonio Gonzaga, Cláudio Manuel da Costa e outros mais, padres, advogados, médicos etc.) e os Magnatas (o grupo que financiava). Esses dois últimos grupos era a quem de fato a Conjuração Mineira interessava; pois, eles quem eram os verdadeiros proprietários de escravos, proprietários de grandes latifúndios e os donos das minas de ouro.

Portanto, as cobranças abusivas de impostos e as dívidas impagáveis reivindicadas pela coroa portuguesa, fora alguns dos motivos que os fizeram se rebelar e ao mesmo tempo propagar uma separação de Portugal.

Conquanto, a Coroa Portuguesa sabia que, “Tiradentes não era o líder do movimento. Nenhum daqueles homens ricos da colônia, educados na Europa, sofisticados, aceitaria ser comandado por uma pessoa sem cargo de destaque, sem ‘cabedal’(riqueza), que nunca esteve na faculdade. Tiradentes era o único pobre do grupo. Ele deveria ser enforcado para dar exemplo para a ‘ralé’”. (Schmidt, 2007).

Então, no dia 10 de maio de 1789 Tiradentes foi aprisionado, não se desesperou, não culpou os outros e não intentou nenhuma retratação. Em 19 de abril de 1792, após três duros anos de prisão foi condenado a forca. E ainda de acordo com a sentença Sua casa seria arrasada, e salgado o lugar onde fora edificada. Seus bens seriam confiscados, seus filhos e netos declarados infames. Na manhã de 21 de abril de 1792, no Largo da Lampadosa, (atual Praça Tiradentes) na capital da colônia, Rio de janeiro, Joaquim José da Silva Xavier – o Tiradentes fora enforcado, esquartejado, em seguida feito todo o ritual que rezava na sentença proferida por D. Maria I.

Enfim, uma breve reflexão a respeito de um período da História do Brasil que precisamos estudar cada vez mais para não cometermos os erros ou apresentá-lo tal qual faz a historiografia tradicional. Está aberto o debate...

Referência bibliográfica

SCHMIDT, Mário. Nova História Crítica. São Paulo: Nova Geração, 2007.
http://www.jusbrasil.com.br acessado em 21 de abril de 2012.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

UMA REFLEXÃO SOBRE O 19 DE ABRIL


É normal que um historiador discorde do outro. Cada historiador tem sua própria interpretação de um determinado fato ou evento. As diferenças de interpretação não se devem apenas ao gosto pessoal de cada um, mas também ao que cada historiador considera importante para explicar os acontecimentos. O avanço do conhecimento histórico parte exatamente dos debates, críticas e autocríticas. Neste sentido, quero apresentar esse texto do CIMI para que possamos fazer uma reflexão sobre o  19 de abril. E assim sendo, nos conscientizarmos que é preciso não aceitarmos mais os desrespeitos, as tiranias, as discriminações e as violências que são praticadas com os nossos indígenas diariamente.

A PRIMEIRA INVASÃO DE NOSSA TERRA

"O rei da Espanha e o rei de Portugal queriam tomar conta do mundo inteiro. Eles já tinham até combinado dividir para eles todas as terras que encontrassem. Os portugueses chegaram numa praia que hoje se chama Bahia. Essa praia era terra da nação Tupinikim. Fazia muito tempo que os índios Tupinikim moravam naquela terra!Fazia muito tempo que os índios Tupinikim plantavam naquela terra!Mas os portugueses não respeitaram o direito da nação Tupinikim. Os portugueses Puseram um marco de pedra na terra Tupinikim. Puseram um marco com o sinal do rei de Portugal. Puseram um marco com cruz. Cruz da religião do povo de Portugal. Puseram um marco para dizer que aquela terra era do rei de Portugal. No dia que eles chegaram aqui, eles rezaram uma Missa para festejar a invasão de nossa terra... Os índios Tupinikim não estavam sabendo o que os portugueses queriam. Eles não sabiam que os portugueses tinham vindo ocupar a nossa terra. Eles não sabiam que os portugueses tinham vindo mudar nossa vida. Por isso, eles deram presentes para os portugueses. Antes dos portugueses chegarem, cada lugar de nossa terra tinha um nome. Os rios já tinham nome. Os morros já tinham nome. Mas logo os portugueses trocaram os nomes de tudo. O lugar onde eles encostaram as caravelas eles chamaram de Porto Seguro. O primeiro morro que eles enxergaram, eles chamaram de Monte Pascoal. Os Tupinikim já tinham dado nome para esses lugares. Os portugueses mudaram o nome da terra. Os portugueses roubaram a terra também. A terra do povo Tupinikim era grande. Até hoje, a nação Tupinikim está lutando para conseguir um pedacinho de terra. Assim aconteceu com a nação Tupinikim. Assim foi acontecendo. Com todas as nações indígenas. Assim ainda acontece hoje com quase todas nações indígenas".  
CIMI- Conselho Indigenista Missionário. História dos Povos Indígenas. p.86-9 (texto adaptado).

segunda-feira, 16 de abril de 2012

CINEMA E MÚSICA


Apresentamos a seguir alguns vídeos com sugestões de filmes e músicas que consideramos importantes fontes para compreendermos e analisarmos a história afro-indigenista brasileira. É uma pequena seleção feita por nós, com base em nossa vivência e experiência crítica e espontânea como docente e amante da produção cinematográfica e musical brasileira. Assim sendo, acreditamos que a o cinema e a música são fontes importantíssimas no ensino-aprendizagem da História. Bom divertimento a todos.

CINEMA

O Grito dos Filhos da Terra


Sinopse
Um documentário que mostra o encontro indigenista no Planalto Central (Brasília-DF) onde diversos povos de diferentes lugares do Brasil, chamam a atenção das autoridades legalmente constituídas, que é preciso se fazer uma reflexão a respeito da questão ambiental, e, sobretudo a forma como eles são tratados neste país. E além do mais, que sejam ouvidos e consultados sobre quaisquer questões que digam respeito as suas terras e principalmente aos seus direitos.
Documentário, 10:12min.



Índios , Os Donos da Terra
 

Sinopse
Um documentario interessante sobre a aldeia indigena Ribeirão Silveira em Bertioga Sudeste do Brasil relatando o cotidiano de uns poucos sobreviventes indigenistas que apesar da tirania do homem branco lutam para preservar a sua cultura e defender sua terra. 
Documentário, 27:14min.

 


Abolição

Sinopse
Faz o resgate de 100 anos de abolição no país, através de um olhar preto. Entrevistas com personagens importantes para a preservação da cultura, como Abdias do Nascimento, Lélia Gonzalés, Beatriz do Nascimento, Grande Otelo, Joel Ruffino, Dom Elder Câmera em contraposição com D. João de Orleans e Bragança e Gilberto Freire. Um importante documento das ideias desses pensadores, como também de presidiários, mendigos e artistas populares na sua maioria negros. Questiona que tipo de abolição houve neste país já que a situação 100 anos depois continuava de muita luta desigualdade e racismo.
Direção: Zózimo Bulbul. Brasil, 1988- 150 min.(Documentário)



   

Quilombo

Sinopse
Num engenho de Pernambuco por volta de 1650, um grupo de escravos se  rebela e ruma ao Quilombo dos Palmares , onde existe uma nação de ex-escravos fugidos que resiste ao cerco colonial, entre eles Ganga Zumba , um príncipe africano. Tempos depois, seu herdeiro e afilhado, Zumbi, contesta as ideias conciliatórias de Ganga Zumba e enfrenta o maior exército jamais visto na história colonial brasileira.
Direção Cacá Diegues. Brasil, 1984-119min.

 



MÚSICA


Temática: indígenas

Canoa, canoa


Compositores:
ÂNGELO, Nelson & BRANT, Fernando (1977)

Intérprete:

Simone (Álbum: Face)

Letra:
"Canoa, canoa desce no meio do rio
Araguaia, desce no meio da noite
Alta da floresta levando
A solidão e a coragem dos homens que são
Ava avacanoê
Ava avacanoê
Avacanoeiro prefere as águas
Avacanoeiro prefere os peixes
Avacanoeiro prefere o rio
Avacanoeiro prefere remar
Ava prefere pescar
Ava prefere pescar
Dourado, arraia, grumatá
Piracará, pira-andirá
Jatuarana, taiabucu
Piracanjuba, peixe-mulher
Avacanoeiro quer viver
Avacanoeiro só quer pescar
Dourado, arraia e grumatá
Piracanjuba, peixe-mulher"


Saga da Amazônia


Compositor:
FARIAS, Vital (1989)


Intérprete:
Vital  Farias

Letra:
"Era uma vez na Amazônia
A mais bonita floresta
Mata verde, céu azul
A mais imensa floresta
No fundo d'água as iaras
Caboclo, lendas e mágoas
E o rio puxando as águas
Papagaios periquitos
Cuidavam de suas cores
Os peixes singrando os rios
Curumins cheios de amores
Sorria o jurupari
Uirapuru seu porvir
Era flora, fauna, frutos e flores
Toda mata tem caipora
Para a mata vigiar
Veio caipora de fora
Para a mata definhar
E trouxe dragão de ferro
Pra comer muita madeira
E trouxe em estilo gigante

Prá acabar com a capoeira
Fizeram logo o projeto
Sem ninguém testemunhar
Prá o dragão cortar madeira
E toda a mata derrubar
Se a floresta meu amigo
Tivesse pé prá andar
Eu garanto meu amigo
Com o perigo não tinha ficadolá
O que se corta em segundos
Gasta tempo prá vingar
E o fruto que dá no cacho prá gente se alimentar?
Depois tem o passarinho, tem o ninho, tem o ar
Igarapé rio abaixo, tem riacho e esse rio que é um mar
Mas o dragão continua na floreta a devorar
E quem habita essa mata
Prá onde vai mudar?
Corre índio, seringueiro, preguiça, tamanduá,
Tartaruga pé ligeiro, corre-corre tribo dos kamayurá
No lugar que havia mata
Hoje há perseguição
Grileiro mata posseiro
Só prá lhe roubar o chão
Castanheiro, seringueiro, já viraram até peão
Afora os que morreram

Como ave de arribação
Zé de Nana ta na prova
Naquele lugar tem cova
Gente enterrada no chão
Pois mataram o índio que matou grileiro, que matou posseiro
Disse um castanheiro para um seringueiro
Que um estrangeiro roubou seu lugar
Foi então que um violeiro

Chegando na região
Ficou tão penalizado e
Escreveu essa canção
E talvez desesperado com devastação
Pegou primeira estrada, sem rumo, sem direção
Com olhos cheios de água
Sumiu levando essa mágoa
Dentro do seu coração
Assim termino essa história
Para gente de valor
Prá gente que tem memória
Muita crença, muito amor
Prá defender o que ainda resta
Sem rodeio, sem aresta
Era uma vez uma floresta
Na linha do Equador."

Índios


Compositor:
RUSSO, Renato (1986)


Intérprete:
Legião Urbana (Álbum: Dois)

Letra:
"Quem me dera, ao menos uma vez,
Ter de volta todo o ouro que entreguei
A quem conseguiu me convencer
Que era prova de amizade
Se alguém levasse embora até o que eu não tinha.
Quem me dera, ao menos uma vez,
Esquecer que acreditei que era por brincadeira
Que se cortava sempre um pano-de-chão
De linho nobre e pura seda.
Quem me dera, ao menos uma vez,
Explicar o que ninguém consegue entender:
Que o que aconteceu ainda está por vir
E o futuro não é mais como era antigamente.
Quem me dera, ao menos uma vez,
Provar que quem tem mais do que precisa ter
Quase sempre se convence que não tem o bastante
E fala demais por não ter nada a dizer
Quem me dera, ao menos uma vez,
Que o mais simples fosse visto como o mais importante
Mas nos deram espelhos
E vimos um mundo doente.
Quem me dera, ao menos uma vez,
Entender como um só Deus ao mesmo tempo é três
E esse mesmo Deus foi morto por vocês -
É só maldade então, deixar um Deus tão triste.
Eu quis o perigo e até sangrei sozinho.
Entenda - assim pude trazer você de volta prá mim,
Quando descobri que é sempre só você
Que me entende do início ao fim
E é só você que tem a cura para o meu vício
De insistir nessa saudade que eu sinto
De tudo que eu ainda não vi.
Quem me dera, ao menos uma vez,
Acreditar por um instante em tudo que existe
E acreditar que o mundo é perfeito
E que todas as pessoas são felizes.
Quem me dera, ao menos uma vez,
Fazer com que o mundo saiba que seu nome
Está em tudo e mesmo assim
Ninguém lhe diz ao menos obrigado.
Quem me dera, ao menos uma vez,
Como a mais bela tribo, dos mais belos índios,
Não ser atacado por ser inocente.
Eu quis o perigo e até sangrei sozinho.
Entenda - assim pude trazer você de volta prá mim,
Quando descobri que é sempre só você
Que me entende do início ao fim
E é só você que tem a cura para o meu vício
De insistir nessa saudade que eu sinto
De tudo que eu ainda não vi.
Nos deram espelhos e vimos um mundo doente
Tentei chorar e não consegui."

 
Temática: Negro Brasileiro


O quilombo




Compositor:
LENINE (1990)


Intérprete:
Lenine

Letra:
"Saiu do Congo num navio negreiro
Baixou no litoral
Batuque e banzo no chão do terreiro
Pra suportar o mal
Correu, fugiu, sofreu, sumiu e subiu o morro
E o horizonte era o fundo do quintal
Os atabaques gritaram na macumba
No tom dos ancestrais
Na voz do blues, no rebolado da rumba
Tem negro por detrás
Vem invadindo todas as fronteiras da história
Rumo ao futuro, driblando o temporal
Minha terra tem Palmares
Onde Zumbi foi eleito
Os negros que lá quilombaram
Sambavam do mesmo jeito
Mas a negrada é pau pra toda obra
E, é de decidir
Quem sabe samba e quem não samba, sobra
Ou paga pra assistir
Pela avenida, a força e o suor da negra
Mão nas cadeiras, fazendo o carnaval"


A mão da limpeza


Compositor:
GIL, Gilberto (1986)


Intérprete:
Gilberto Gil e Chico Buarque

Letra:
"O branco inventou que o negro
Quando não suja na entrada
Vai sujar na saída, ê
Imagina só
Vai sujar na saída, ê
Imagina só
Que mentira danada, ê
Na verdade a mão escrava
Passava a vida limpando
O que o branco sujava, ê
Imagina só
O que o branco sujava, ê
Imagina só
O que o negro penava, ê
Mesmo depois de abolida a escravidão
Negra é a mão
De quem faz a limpeza
Lavando a roupa encardida, esfregando o chão
Negra é a mão
É a mão da pureza
Negra é a vida consumida ao pé do fogão
Negra é a mão
Nos preparando a mesa
Limpando as manchas do mundo com água e sabão
Negra é a mão
De imaculada nobreza
Na verdade a mão escrava
Passava a vida limpando
O que o branco sujava, ê
Imagina só
O que o branco sujava, ê
Imagina só
Eta branco sujão"


Brilho de Beleza
 
Compositor:
TENGA, Nego (1990)


Intérprete:
Gal Costa (Álbum: Plural)

Letra:
"O negro segura a cabeça com a mão e chora
E chora, sentindo a falta do rei
O negro segura a cabeça com a mão e chora
E chora, sentindo a falta do rei
Quando ele explodiu pelo mundo
Ele lançou seu brilho de beleza
Bob Marley pra sempre estará
No coração de toda a raça negra
Quando Bob Marley morreu
Foi aquele chororô na Vila Rosenval
Muzemza trazendo Jamaica
Arrebentando nesse carnaval
Adeus não, me diga até breve
Adeus não, eu sou muzemza do reggae
Adeus não, me diga até breve
Adeus não, eu sou muzemza do reggae"


Meu Homem (Carta a Nelson Mandela)

Compositor:
VILA, Martinho (1988)


Intérprete:
Beth Carvalho (Álbum: Alma do Brasil)

Letra:
"Meu homem
Dormi com saudades suas
E sonhei coma liberdade
Caminhando livremente
Como gente
Sob o sol de Joannesburgo
Meu homem passeando pelo parque
Sem notar que existem brancos
E sem ver que haviam negros
Pelos guetos
São irmãos brancos e pretos
Nos guetos, são irmãos brancos e pretos
Meu homem
No meu sonho nós dormimos e
Abraçados nos amamos
Doces beijos, ternos mimos
Fui sozinha pra Namibia
E de lá fui pra Luanda
Com os artistas do "Amandia"
Pra cantar rezas num komba
E de lá fui pra kizomba
Lá nas terras de Zumbi
Lá nas terras de Zumbi dos Palmares
Lá nas terras do Zumbi
Ai../..Aí vi brancos e pretos
Me lembrei do "Apartheid"
E no meio da festança
Sem chorar me entristeci
Ai meu homem
Que vontade de chorar
Será quando que meus sonhos, meu homem
Serão só doces sonhar
Meu homem
Meu homem"