O mês de maio, período da estação do ano Outono. A estação
que sucede ao verão e antecede o inverno. Porém, essa estação tem como
peculiaridade o abaixamento das temperaturas médias, com exceção das regiões
próximas a linha do equador, e também as árvores ficam amareladas e liberam
suas folhas, indicando a mudança entre as estações do ano verão e inverno. “O
Outono do hemisfério norte é chamado de ‘Outono boreal’, e o do hemisfério sul
é chamado de ‘Outono austral’. O ‘Outono boreal’ tem início, no Hemisfério
Norte, a 23 de setembro e termina a 21 de dezembro. O ‘Outono austral’ tem
início, no Hemisfério Sul, a 21 de março e termina a 21 de junho”. Portanto,
este mês é um libelo para as aulas de História que em tempos de informação
instantânea e alta competitividade profissional, o professor não pode abrir mão
de apresentar aos alunos o patrimônio cultural da humanidade.
Pois, o papel do
professor é senão estabelecer uma articulação entre o patrimônio cultural da
humanidade e o universo cultural do aluno. Assim sendo, neste mês de maio o
professor tem um leque de possibilidades para trabalhar várias temáticas
históricas que não aparecem comumente nos livros didáticos, e quem sabe utilizando
essas alternativas o aluno (a) venha despertar o interesse pela disciplina. Deste
modo, poderíamos afirmar que, neste mês fora assinado o tratado da Tríplice
Aliança (1°de maio de 1865); instituído o Dia Mundial do Trabalho (1º de maio
de 1890); Criação da Impressão Régia (13 de maio de 1808); Abolição da
Escravatura (13 de maio de 1888); Dia das Mães (No Brasil fora oficializado em
1932, pelo então presidente Getúlio Vargas, sendo celebrado sempre no segundo
domingo de maio).
Além dessas possibilidades elencadas acima, gostaria de
presentear também aos caros leitores e leitoras uma análise das obras: As Veias
Abertas da América Latina de Eduardo Galeano e Cem Anos de Solidão de Gabriel
García Márquez. Obras que pela nossa concepção mostram eventos transformadores
ou por que não dizer des (cons) truidores na América Latina.
As Veias Abertas da América Latina
Há muitos
livros sobre a América Latina e sempre aparecem outros, reiterando elementos já
explorados ou refazendo novas leituras de um continente que teve a sina de ser
rico em todos os seus aspectos, e, sobretudo cobiçado e atraído pelos
exploradores e ceifadores de vidas humanas (negros, indígenas, mulatos,
cafuzos, mamelucos e os menos favorecidos).
Mas sem dúvida, embora datado, este
texto de Eduardo Hughes Galeano não é a melhor publicação feita a respeito
deste continente, mais merece uma leitura por parte daqueles que tem interesse
em compreender esse mosaico que chamamos América Latina.
Em primeiro lugar pela
competente analogia que Eduardo Galeano faz das rapinagens e deslealdades
cometidas neste continente pelos impérios europeus no período colonial e na contemporaneidade pelo império dos americanos
do norte. Em segundo pela linguagem
simples e de fácil de compreensão. Neste sentido, apresento uma breve análise a
respeito do livro do Escritor:
Eduardo Hughes Galeano nasceu aos 3 de setembro de
1940 em Montevidéu capital do Uruguai, iniciou
sua carreira jornalista no primeiro quartel de 1960 como editor de um influente
jornal semanal chamado Marcha; diga-se
de passagem, esse jornal tinha como colaboradores de peso escritores como Mario Vargas Llosa e Mario
Benedetti.
Galeano fora também editor e editor-
chefe dos respectivos jornais: Diário de Época e Jornal Universitário. Esse
jornalista investigativo e militante ao longo de sua brilhante carreira
trabalhou em diversas áreas: pintor de letreiros, mensageiro, datilógrafo,
caixa de banco e chargista. Em 27 de junho 1973 quando o então presidente Juan
María Bordaberry apoiado pelos militares fechou o Senado a e Câmara de
deputados lançando o país numa ditadura civil-militar brutal e sangrenta
proibindo os partidos políticos, colocando os sindicatos na ilegalidade e
perseguindo, torturando e executando os seus opositores, Galeano fora preso e
forçado a exila-se na Argentina.
Pois, durante esse período que Galeano esteve exilado na Argentina lançou a revista
cultural: Crisis. Três anos depois, um grupo de extermínio conhecido como
esquadrões da morte liderado pelo então general Jorge Videla, enquadra o
jornalista como persona non grata ao regime uruguaio; porém, Galeano temendo
por sua segurança foge e exila-se na Espanha, voltando ao país somente em 1985
com a redemocratização do país.
Contudo,
o grande marco no âmbito da literatura histórica desenvolvido por esse fabuloso
jornalista sem sombra de dúvida fora o livro “As Veias Abertas da América
Latina”, escrito em 1971. Embora seja um livro datado é uma obra que merece ser
lida, pois haja vista que, o autor analisa de forma contundente espoliação do
continente latino americano pontuando desde o período colonial até os idos da
contemporaneidade, enfatizando a dilapidação e exploração econômica, social,
cultural e política do povo latino-americano primeiro pelos intrépidos europeus
depois pelos imperialistas da América do Norte.
Além desta obra-prima, Galeano tem uma
infinidade de livros, artigos e trabalhos publicados em periódicos do mundo
inteiro, pode-se apreciar em nosso idioma também livros como: Vagamundo (1973);
Días y noches de amor y de guerra (1978); Memória do fogo (1982-1986); O livro
dos Abraços (1989); Las palabas andantes (1993); O futebol ao sol e à sombra
(1995); Mulheres (1997); Patas arriba: la escuela del mundo al revés(1998);
Bocas del Tiempo(2004); O Teatro do Bem e do Mal (2002); Espelhos - uma quase
história universal (2008).
Com “As veias abertas da América Latina”,
a editora Paz e Terra oferece um livro que pretende ser um manual de cabeceira
para todos aqueles que almejam apreender os fatores que culminaram com o
subdesenvolvimento da América Latina.
Conhecido
tanto no Brasil como no exterior Eduardo Galeano um jornalista de pesquisa, num
período conturbado onde as ditaduras e as tiranias vilaniam a nação e abalavam
de maneira vil o caráter latino-americano; alienando as novas gerações,
tornando-as impossibilitadas de compreender a sociedade em que viviam;
formidavelmente este uruguaio escreve a fantástica obra “As veias abertas da
América Latina” denunciando “A exploração do homem pelo homem” e também a
exploração da terra nos seus mais diversos setores (agrícola e mineral).
Galeano
convicto politicamente despreza a imaginação romântica do continente e procura
narrar fatos que tenham seus correspondentes na realidade exterior, evitando,
portanto, situações que venham parecer artificiais ou improváveis.
Partindo
deste pressuposto, concluiu-se que, o autor de “As veias abertas da América
Latina” dividiu a obra em duas partes: “A pobreza do homem como resultado da
riqueza da terra”, onde ele assinala que o continente latino-americano fora
incorporado no sistema internacional de comércio e também de colonização nos
meados do século XV pelos países da península ibérica (Portugal e Espanha) de
uma maneira árdua e tirânica, condicionado pela força e com muito sangue. “O
sangue da terra, que produzia tantos produtos tropicais e riquezas cobiçadas; o
sangue de homens e mulheres, cujos corpos se dissolveram como fermento nos
processos produtivos, fazendo crescer a civilização capitalista”.
Ademais,
ilustrando cada vez mais a asserção mencionada, o próprio Galeano diz: “Do
Potomac ao rio da prata, os escravos edificaram a casa de seus amos, abriram as
matas, cortaram e moeram cana-de-açúcar, plantaram algodão, cultivaram o cacau,
colheram o café e o tabaco, afogaram-se dos sovacãos mineiros”.
Porém,
mais adiante ele conclui: “Os donos de terras, mineiros e mercadores tinham
nascido para cumprir esta função: abastecer a Europa de ouro, prata e alimentos".
Enquanto
na segunda parte do livro, “O desenvolvimento é uma viagem com mais náufragos
do que navegantes”, discute-se a “Dependência econômica dos novos estados
americanos em relação ao capitalismo europeu, sobretudo Inglês, que comandava a
economia mundial do século XIX”.
Todavia,
para justificarmos o mencionado no parágrafo anterior, recorremos a um
fragmento do próprio livro que diz: “A expansão dos mercados latino-americanos
acelerava a acumulação de capitais nos viveiros da indústria britânica”.
Entretanto, percebe-se cabalmente o valor que tem esta obra para entendermos todo esse contexto político, social e econômico que envolve a América Latina.
Por fim, um livro que garimpa e
evidencia toda essa engrenagem de saque e extorsão de um continente por uma
trina europeia (Portugal, Espanha e Inglaterra), e posteriormente pelos
americanos do norte nos parece uma chama sempre viva.
Cem Anos de Solidão
É, Uma tarefa complexa escrever um romance histórico de forma que prenda o leitor do início ao fim do enredo; porém, neste livro Garcia Márquez não somente fez essa mágica através do seu realismo fantástico, como discerniu a transcendência dos fatos com desenvoltura e paciência de um artesão ao narrar à saga dos Buendía; Trazendo para os amantes da literatura “Cem Anos de Solidão”, que de uma maneira fictícia estabelece relações com os eventos ocorridos na América Latina a partir da década de sessenta, com uma linguagem acessível e gostosa a qualquer leitor.
A
presente obra está inserida entre muitos trabalhos escritos a respeito deste
continente que teve suas populações massacradas, escravizadas e levadas à condição
de subserviências pelos donatários do poder ao longo dessas eras. Assim sendo,
de forma simples, mas contundente fizemos esse breve estudo comparativo sobre a
obra do Escritor:
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Gabriel García Márquez |
MÁRQUEZ, Gabriel García. Cem Anos de Solidão. Tradução Eliane Zagury. 52ºed. Rio de Janeiro: Record, 2002.
O
livro Cem Anos de Solidão é uma obra que transita entre a literatura, a
história e a ciência, ao unir a perspectiva científica, de alicerce naturalista
e evolucionista, ao tecimento literário, que se fundamentou num fatalismo
trágico e numa visão romântica da natureza.
O
autor teve a perspicácia de perceber, de maneira dramática, esse embate entre
natureza e história e a partir de então, moldou Macondo como cenário, cuja
"aldeia à margem de um rio de águas diáfanas", permitiria antever a
cobiça dos forasteiros. “Recriou, pelo ritmo binário e pela sintaxe
labiríntica", as chegadas esfuziantes dos ciganos "todos os anos,
pelo mês de março" e o comportamento inquietante de seus habitantes.
É
interessante também frisar que, a luz envolvente que emana de Cem Anos de
Solidão é aquela que o espírito angustiado do autor precisou existir para se
locupletar e nela se exprimir. Este colombiano através da imaginação vai dando
vida a paisagem em sua volta, vendo por toda parte imagens e cenários que
remetem à mitologia, à história e à literatura.
A saga dos Buendía em Macondo, por exemplo,
Gabriel García Márquez, a priori com muita destreza, já nos conduz, a um universo
onde o confronto ideológico das personagens pululam de maneira clara e
evidente.
Porém,
em primeiro plano apresenta o tipo José Arcadio Buendía dominado pela emoção ao
invés da razão, a visão subjetiva da realidade, a ânsia do desenvolvimento e a
transformação do povoado.
No
outro extremo, aparece a estereótipo de Úrsula Iguarán que se transveste de
ficção e realidade, neste momento, é evidenciado o predomínio da razão sobre a
emoção, a observação e a análise do comportamento humano.
Neste
instante, o autor se revela de maneira sutil deixando transparecer sua
frustração pela chegada do estranho.
Certamente,
o autor através da perspicácia, sutileza e sensatez das mulheres que povoam
Macondo mostra-se incomodado e ao mesmo tempo defensor de seu povoado.
Podemos
ainda acrescentar que, as mulheres além de donas de casas e mães, também
exercem as funções de orientadoras, informantes, sonhadoras, guerreiras,
amantes, lideranças, e sempre conscientes de tudo que acontece em Macondo;
sutilmente o autor mostra também os seus sonhos e desilusões, através das
batalhas memoráveis travadas pelos heróis da independência da América Latina
como Símon Bolívar, Miguel Hidalgos e tantos outros que morreram sem alcançar
seus verdadeiros objetivos.
Mas,
mesmo assim não tira esse ímpeto de decisão destas mulheres que romperam com os
preceitos determinado pela sociedade, tecendo de maneira brilhante o papel
social feminino na construção de um mundo digno e humanitário.
Porém,
Gabriel García Márquez retrata muito bem isto através das personagens de Úrsula
Iguarán, Amaranta, Pilar Ternera e Amaranta Úrsula. Contudo, o feito destas
mulheres de Macondo muito nos lembra a participação das mulheres nas lutas pela
independência política da América Latina.
Todavia,
sabe-se que, Cem Anos de Solidão foi escrito da efervescência das ditaduras
latino-americanas e na sedimentação das multinacionais no continente. Gabriel
García Márquez é um autor fantástico, pois, teceu a obra de uma maneira tal
que, enfatizou também, a exploração do homem pelo homem; a exploração da terra;
o poder exercido pela igreja; a influência da universidade e principalmente a
política caudilhista e os embates partidários.
Conquanto,
a partir de então, o Gabriel García Márquez, vai dando vida a suas personagens
no suntuoso anfiteatro "América Latina".
O
autor pontua de forma magistral a atuação da igreja católica em Macondo,
mostrando que, através das pregações e atitudes ambíguas da personagem do padre
Nicanor, pode-se perceber nitidamente que, é uma mera semelhança das práticas
que esta instituição vem desempenhando na América Latina desde a chegada dos
europeus ao Novo Continente.
O
autor também é muito perspicaz quando mostra Macondo sendo tomada por lutas
civis permanentes em torno de dois grupos políticos, os liberais e os
conservadores. Neste ínterim, a figura caudilhista entra em cena; esses
figurões na pós-independência dos países latino-americanos foram os detentores
de grandes latifúndios, poder político, arbitrários e grandes mestres nas
práticas fraudulentas dos processos eleitorais.
E
ainda outro ponto importante no qual, se enquadra tal asserção seria os
conflitos partidários entre os unitaristas e os federalistas desencadeados na
Argentina. Onde os unitaristas representavam à civilização e os federalistas a
barbárie. Isto é, o confronto entre cidade x campo.
O
autor pontua muito bem essa política caudilhista e os embates partidários
através das ações das personagens de José Arcádio Buendía, do seu filho o
coronel Aureliano Buendía, do seu neto Arcádio e do Sr. Apolinar Moscote.
Outro
ponto significativo que, o autor destaca também na obra é a influência que a
universidade proporcionou no continente Latino Americano, porém, é na figura do
cigano Melquíades que através de suas experiências científicas e a montagem de
um laboratório em Macondo que ele deixa transparecer a importância deste
estabelecimento educacional.
García
Márquez abordou nesta obra o povoado Macondo que significa república de bananas
como uma comunidade primitiva, dominada pela saga da família Buendía, onde
haveria o amor livre e o coletivismo dos bens.
Ademais
uma aldeia que tinha uma exuberante vegetação sustentada por um solo fértil, e
que de tempos em tempos era visitada por estranhos. É claro que logo seria
invadida e explorada. Era só questão de tempo.
Podemos
reforçar isto que falamos com palavras do próprio autor: "Não houve,
entretanto, muito tempo para pensar no assunto, porque os desconfiados
habitantes de Macondo mal começavam a si perguntar que diabo era o que estava
acontecendo, quando já a aldeia se tinha transformado em acampamento de casas
de madeira com teto de zinco, povoado por forasteiros...”.
E
ainda, é interessante também reter a fala de um Buendía a respeito da invasão:
"Olhem a confusão em que nos metemos só por termos convidado um americano
para comer banana".
Finalmente
em a luta política o autor de Cem Anos de Solidão narrou os acontecimentos de
guerra, que levaram ao extermínio de Macondo. Procurando mostrar como os dois
lados do conflito – a área rural e a área urbana –, se encontravam tomadas por
fanatismo políticos e econômicos.
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www.google.com.br acessado em 10 de maio de
2012.
www.explicatorium.com acessado em 10de
maio de 2012.
KARNAL,
Leandro (org.) et al.. História na sala
de aula:conceitos,práticas e propostas.6ºed.São Paulo:Contexto,2010.
BITTENCOURT,
Circe (org.) et al.. Dicionário de datas da História do Brasil.São
Paulo:contexto,2007.
MÁRQUEZ,
Gabriel García. Cem Anos de Solidão.
Tradução Eliane Zagury. 52ºed. Rio de Janeiro: Record,2002.
GALEANO,
Eduardo. As Veias Abertas da América
Latina. 41ºed. São Paulo: Paz e Terra, 2002.
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