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quinta-feira, 10 de maio de 2012

OUTONO AUSTRAL


  

O mês de maio, período da estação do ano Outono. A estação que sucede ao verão e antecede o inverno. Porém, essa estação tem como peculiaridade o abaixamento das temperaturas médias, com exceção das regiões próximas a linha do equador, e também as árvores ficam amareladas e liberam suas folhas, indicando a mudança entre as estações do ano verão e inverno. “O Outono do hemisfério norte é chamado de ‘Outono boreal’, e o do hemisfério sul é chamado de ‘Outono austral’. O ‘Outono boreal’ tem início, no Hemisfério Norte, a 23 de setembro e termina a 21 de dezembro. O ‘Outono austral’ tem início, no Hemisfério Sul, a 21 de março e termina a 21 de junho”. Portanto, este mês é um libelo para as aulas de História que em tempos de informação instantânea e alta competitividade profissional, o professor não pode abrir mão de apresentar aos alunos o patrimônio cultural da humanidade.

Pois, o papel do professor é senão estabelecer uma articulação entre o patrimônio cultural da humanidade e o universo cultural do aluno. Assim sendo, neste mês de maio o professor tem um leque de possibilidades para trabalhar várias temáticas históricas que não aparecem comumente nos livros didáticos, e quem sabe utilizando essas alternativas o aluno (a) venha despertar o interesse pela disciplina. Deste modo, poderíamos afirmar que, neste mês fora assinado o tratado da Tríplice Aliança (1°de maio de 1865); instituído o Dia Mundial do Trabalho (1º de maio de 1890); Criação da Impressão Régia (13 de maio de 1808); Abolição da Escravatura (13 de maio de 1888); Dia das Mães (No Brasil fora oficializado em 1932, pelo então presidente Getúlio Vargas, sendo celebrado sempre no segundo domingo de maio).        

Além dessas possibilidades elencadas acima, gostaria de presentear também aos caros leitores e leitoras uma análise das obras: As Veias Abertas da América Latina de Eduardo Galeano e Cem Anos de Solidão de Gabriel García Márquez. Obras que pela nossa concepção mostram eventos transformadores ou por que não dizer des (cons) truidores na América Latina.       
As Veias Abertas da América Latina
Há muitos livros sobre a América Latina e sempre aparecem outros, reiterando elementos já explorados ou refazendo novas leituras de um continente que teve a sina de ser rico em todos os seus aspectos, e, sobretudo cobiçado e atraído pelos exploradores e ceifadores de vidas humanas (negros, indígenas, mulatos, cafuzos, mamelucos e os menos favorecidos). 

Mas sem dúvida, embora datado, este texto de Eduardo Hughes Galeano não é a melhor publicação feita a respeito deste continente, mais merece uma leitura por parte daqueles que tem interesse em compreender esse mosaico que chamamos América Latina.

Em primeiro lugar pela competente analogia que Eduardo Galeano faz das rapinagens e deslealdades cometidas neste continente pelos impérios europeus no período colonial e na contemporaneidade pelo império dos americanos do  norte. Em segundo pela linguagem simples e de fácil de compreensão. Neste sentido, apresento uma breve análise a respeito do livro do Escritor:

GALEANO, Eduardo. As veias abertas da América Latina, 41ª ed. São Paulo: Paz e Terra. 2002.
 
Eduardo Hughes Galeano nasceu aos 3 de setembro de 1940 em Montevidéu capital do Uruguai,  iniciou sua carreira jornalista no primeiro quartel de 1960 como editor de um influente jornal semanal chamado Marcha;  diga-se de passagem, esse jornal tinha como colaboradores de peso  escritores como Mario Vargas Llosa e Mario Benedetti.

Galeano fora também editor e editor- chefe dos respectivos jornais: Diário de Época e Jornal Universitário. Esse jornalista investigativo e militante ao longo de sua brilhante carreira trabalhou em diversas áreas: pintor de letreiros, mensageiro, datilógrafo, caixa de banco e chargista. Em 27 de junho 1973 quando o então presidente Juan María Bordaberry apoiado pelos militares fechou o Senado a e Câmara de deputados lançando o país numa ditadura civil-militar brutal e sangrenta proibindo os partidos políticos, colocando os sindicatos na ilegalidade e perseguindo, torturando e executando os seus opositores, Galeano fora preso e forçado a exila-se na Argentina.

Pois, durante esse período que Galeano esteve  exilado na Argentina lançou a revista cultural: Crisis. Três anos depois, um grupo de extermínio conhecido como esquadrões da morte liderado pelo então general Jorge Videla, enquadra o jornalista como persona non grata ao regime uruguaio; porém, Galeano temendo por sua segurança foge e exila-se na Espanha, voltando ao país somente em 1985 com a redemocratização do país.

Contudo, o grande marco no âmbito da literatura histórica desenvolvido por esse fabuloso jornalista sem sombra de dúvida fora o livro “As Veias Abertas da América Latina”, escrito em 1971. Embora seja um livro datado é uma obra que merece ser lida, pois haja vista que, o autor analisa de forma contundente espoliação do continente latino americano pontuando desde o período colonial até os idos da contemporaneidade, enfatizando a dilapidação e exploração econômica, social, cultural e política do povo latino-americano primeiro pelos intrépidos europeus depois pelos imperialistas da América do Norte. 

Além desta obra-prima, Galeano tem uma infinidade de livros, artigos e trabalhos publicados em periódicos do mundo inteiro, pode-se apreciar em nosso idioma também livros como: Vagamundo (1973); Días y noches de amor y de guerra (1978); Memória do fogo (1982-1986); O livro dos Abraços (1989); Las palabas andantes (1993); O futebol ao sol e à sombra (1995); Mulheres (1997); Patas arriba: la escuela del mundo al revés(1998); Bocas del Tiempo(2004); O Teatro do Bem e do Mal (2002); Espelhos - uma quase história universal (2008). 

Com “As veias abertas da América Latina”, a editora Paz e Terra oferece um livro que pretende ser um manual de cabeceira para todos aqueles que almejam apreender os fatores que culminaram com o subdesenvolvimento da América Latina.

Conhecido tanto no Brasil como no exterior Eduardo Galeano um jornalista de pesquisa, num período conturbado onde as ditaduras e as tiranias vilaniam a nação e abalavam de maneira vil o caráter latino-americano; alienando as novas gerações, tornando-as impossibilitadas de compreender a sociedade em que viviam; formidavelmente este uruguaio escreve a fantástica obra “As veias abertas da América Latina” denunciando “A exploração do homem pelo homem” e também a exploração da terra nos seus mais diversos setores (agrícola e mineral).

Galeano convicto politicamente despreza a imaginação romântica do continente e procura narrar fatos que tenham seus correspondentes na realidade exterior, evitando, portanto, situações que venham parecer artificiais ou improváveis.

Partindo deste pressuposto, concluiu-se que, o autor de “As veias abertas da América Latina” dividiu a obra em duas partes: “A pobreza do homem como resultado da riqueza da terra”, onde ele assinala que o continente latino-americano fora incorporado no sistema internacional de comércio e também de colonização nos meados do século XV pelos países da península ibérica (Portugal e Espanha) de uma maneira árdua e tirânica, condicionado pela força e com muito sangue. “O sangue da terra, que produzia tantos produtos tropicais e riquezas cobiçadas; o sangue de homens e mulheres, cujos corpos se dissolveram como fermento nos processos produtivos, fazendo crescer a civilização capitalista”.

Ademais, ilustrando cada vez mais a asserção mencionada, o próprio Galeano diz: “Do Potomac ao rio da prata, os escravos edificaram a casa de seus amos, abriram as matas, cortaram e moeram cana-de-açúcar, plantaram algodão, cultivaram o cacau, colheram o café e o tabaco, afogaram-se dos sovacãos mineiros”.

Porém, mais adiante ele conclui: “Os donos de terras, mineiros e mercadores tinham nascido para cumprir esta função: abastecer a Europa de ouro, prata e alimentos".

Enquanto na segunda parte do livro, “O desenvolvimento é uma viagem com mais náufragos do que navegantes”, discute-se a “Dependência econômica dos novos estados americanos em relação ao capitalismo europeu, sobretudo Inglês, que comandava a economia mundial do século XIX”.

Todavia, para justificarmos o mencionado no parágrafo anterior, recorremos a um fragmento do próprio livro que diz: “A expansão dos mercados latino-americanos acelerava a acumulação de capitais nos viveiros da indústria britânica”.

Entretanto, percebe-se cabalmente o valor que tem esta obra para entendermos todo esse contexto político, social e econômico que envolve a América Latina. 

Por fim, um livro que garimpa e evidencia toda essa engrenagem de saque e extorsão de um continente por uma trina europeia (Portugal, Espanha e Inglaterra), e posteriormente pelos americanos do norte nos parece uma chama sempre viva.

Cem Anos de Solidão

É, Uma tarefa complexa escrever um romance histórico de forma que prenda o leitor do início ao fim do enredo; porém, neste livro Garcia Márquez não somente fez essa mágica através do seu realismo fantástico, como discerniu a transcendência dos fatos com desenvoltura e paciência de um artesão ao narrar à saga dos Buendía; Trazendo para os amantes da literatura “Cem Anos de Solidão”, que de uma maneira fictícia estabelece relações com os eventos ocorridos na América Latina a partir da década de sessenta, com uma linguagem acessível e gostosa a qualquer leitor.

A presente obra está inserida entre muitos trabalhos escritos a respeito deste continente que teve suas populações massacradas, escravizadas e levadas à condição de subserviências pelos donatários do poder ao longo dessas eras. Assim sendo, de forma simples, mas contundente fizemos esse breve estudo comparativo sobre a obra do Escritor:


 
Gabriel García Márquez
MÁRQUEZ, Gabriel García. Cem Anos de Solidão. Tradução Eliane Zagury. 52ºed. Rio de Janeiro: Record, 2002.

Gabriel Garcia Márquez nasceu em aos 6 de março de 1927 em Aracataca  cidade colombiana, com um estilo arrojado de contador de estória, foi o responsável por criar o realismo mágico na literatura latino-americana.

Gabriel Garcia Márquez é escritor, jornalista, editor, ativista e político colombiano, viajara muito pelo mundo, essas viagens aliada as suas experiências de vida contribuiu, sobretudo, para que esse colombiano  perpassasse com maestria por vários campos do saber como literatura, jornalismo, cinema e política.

Mas especificamente, a literatura que fora a responsável pela projeção dele como escritor renomado e admirado no mundo inteiro, concedendo-lhes várias premiações; dentre tantas, destacamos a Medalha da Legião Francesa (Paris, 1981); Condecoração Águila Azteca (México, 1982) e Nobel de Literatura (1982).

A erudição e a clareza caracterizam seu trabalho, Garcia Márquez em sua obra fenomenal publicada em 1967 e que já ultrapassa mais de 50 edições, o livro Cem anos de Solidão, percebe-se a sua maestria de grande escritor ao narrar nesta obra a saga da família Buendía na pacata e fictícia cidade de Macondo, desde a sua fundação até a sétima geração.

Essa obra formidável de realismo fantástico pontua vários episódios históricos exibidos no palco do anfiteatro América Latina. Além de Cem Anos de Solidão Gabriel Garcia Márquez tem uma infinidades de livros publicados, iremos destacar neste trabalho apenas alguns que sejam mais condizentes com a nossa temática. Tais como: Relato de um Náufrago (1970); A Incrível e Triste História da Cândida Eréndira e da Sua Avó Desalmada (1974); O Outono do Patriarca (1978); Amor nos Tempos do Cólera(1985); O general em seu labirinto(1990).



O livro Cem Anos de Solidão é uma obra que transita entre a literatura, a história e a ciência, ao unir a perspectiva científica, de alicerce naturalista e evolucionista, ao tecimento literário, que se fundamentou num fatalismo trágico e numa visão romântica da natureza.

O autor teve a perspicácia de perceber, de maneira dramática, esse embate entre natureza e história e a partir de então, moldou Macondo como cenário, cuja "aldeia à margem de um rio de águas diáfanas", permitiria antever a cobiça dos forasteiros. “Recriou, pelo ritmo binário e pela sintaxe labiríntica", as chegadas esfuziantes dos ciganos "todos os anos, pelo mês de março" e o comportamento inquietante de seus habitantes.

É interessante também frisar que, a luz envolvente que emana de Cem Anos de Solidão é aquela que o espírito angustiado do autor precisou existir para se locupletar e nela se exprimir. Este colombiano através da imaginação vai dando vida a paisagem em sua volta, vendo por toda parte imagens e cenários que remetem à mitologia, à história e à literatura.

 A saga dos Buendía em Macondo, por exemplo, Gabriel García Márquez, a priori com muita destreza, já nos conduz, a um universo onde o confronto ideológico das personagens pululam de maneira clara e evidente.

Porém, em primeiro plano apresenta o tipo José Arcadio Buendía dominado pela emoção ao invés da razão, a visão subjetiva da realidade, a ânsia do desenvolvimento e a transformação do povoado.

No outro extremo, aparece a estereótipo de Úrsula Iguarán que se transveste de ficção e realidade, neste momento, é evidenciado o predomínio da razão sobre a emoção, a observação e a análise do comportamento humano.

Neste instante, o autor se revela de maneira sutil deixando transparecer sua frustração pela chegada do estranho.

Certamente, o autor através da perspicácia, sutileza e sensatez das mulheres que povoam Macondo mostra-se incomodado e ao mesmo tempo defensor de seu povoado.

Podemos ainda acrescentar que, as mulheres além de donas de casas e mães, também exercem as funções de orientadoras, informantes, sonhadoras, guerreiras, amantes, lideranças, e sempre conscientes de tudo que acontece em Macondo; sutilmente o autor mostra também os seus sonhos e desilusões, através das batalhas memoráveis travadas pelos heróis da independência da América Latina como Símon Bolívar, Miguel Hidalgos e tantos outros que morreram sem alcançar seus verdadeiros objetivos.

Mas, mesmo assim não tira esse ímpeto de decisão destas mulheres que romperam com os preceitos determinado pela sociedade, tecendo de maneira brilhante o papel social feminino na construção de um mundo digno e humanitário.

Porém, Gabriel García Márquez retrata muito bem isto através das personagens de Úrsula Iguarán, Amaranta, Pilar Ternera e Amaranta Úrsula. Contudo, o feito destas mulheres de Macondo muito nos lembra a participação das mulheres nas lutas pela independência política da América Latina.

Todavia, sabe-se que, Cem Anos de Solidão foi escrito da efervescência das ditaduras latino-americanas e na sedimentação das multinacionais no continente. Gabriel García Márquez é um autor fantástico, pois, teceu a obra de uma maneira tal que, enfatizou também, a exploração do homem pelo homem; a exploração da terra; o poder exercido pela igreja; a influência da universidade e principalmente a política caudilhista e os embates partidários.

Conquanto, a partir de então, o Gabriel García Márquez, vai dando vida a suas personagens no suntuoso anfiteatro "América Latina".

O autor pontua de forma magistral a atuação da igreja católica em Macondo, mostrando que, através das pregações e atitudes ambíguas da personagem do padre Nicanor, pode-se perceber nitidamente que, é uma mera semelhança das práticas que esta instituição vem desempenhando na América Latina desde a chegada dos europeus ao Novo Continente.

O autor também é muito perspicaz quando mostra Macondo sendo tomada por lutas civis permanentes em torno de dois grupos políticos, os liberais e os conservadores. Neste ínterim, a figura caudilhista entra em cena; esses figurões na pós-independência dos países latino-americanos foram os detentores de grandes latifúndios, poder político, arbitrários e grandes mestres nas práticas fraudulentas dos processos eleitorais.

E ainda outro ponto importante no qual, se enquadra tal asserção seria os conflitos partidários entre os unitaristas e os federalistas desencadeados na Argentina. Onde os unitaristas representavam à civilização e os federalistas a barbárie. Isto é, o confronto entre cidade x campo.

O autor pontua muito bem essa política caudilhista e os embates partidários através das ações das personagens de José Arcádio Buendía, do seu filho o coronel Aureliano Buendía, do seu neto Arcádio e do Sr. Apolinar Moscote.

Outro ponto significativo que, o autor destaca também na obra é a influência que a universidade proporcionou no continente Latino Americano, porém, é na figura do cigano Melquíades que através de suas experiências científicas e a montagem de um laboratório em Macondo que ele deixa transparecer a importância deste estabelecimento educacional.

García Márquez abordou nesta obra o povoado Macondo que significa república de bananas como uma comunidade primitiva, dominada pela saga da família Buendía, onde haveria o amor livre e o coletivismo dos bens.

Ademais uma aldeia que tinha uma exuberante vegetação sustentada por um solo fértil, e que de tempos em tempos era visitada por estranhos. É claro que logo seria invadida e explorada. Era só questão de tempo.

Podemos reforçar isto que falamos com palavras do próprio autor: "Não houve, entretanto, muito tempo para pensar no assunto, porque os desconfiados habitantes de Macondo mal começavam a si perguntar que diabo era o que estava acontecendo, quando já a aldeia se tinha transformado em acampamento de casas de madeira com teto de zinco, povoado por forasteiros...”.

E ainda, é interessante também reter a fala de um Buendía a respeito da invasão: "Olhem a confusão em que nos metemos só por termos convidado um americano para comer banana".

Finalmente em a luta política o autor de Cem Anos de Solidão narrou os acontecimentos de guerra, que levaram ao extermínio de Macondo. Procurando mostrar como os dois lados do conflito – a área rural e a área urbana –, se encontravam tomadas por fanatismo políticos e econômicos.



Referências bibliográficas
www.google.com.br acessado em 10 de maio de 2012.
www.explicatorium.com acessado em 10de maio de 2012.
KARNAL, Leandro (org.) et al.. História na sala de aula:conceitos,práticas e propostas.6ºed.São Paulo:Contexto,2010.
BITTENCOURT, Circe (org.) et al.. Dicionário  de datas da História do Brasil.São Paulo:contexto,2007.
MÁRQUEZ, Gabriel García. Cem Anos de Solidão. Tradução Eliane Zagury. 52ºed. Rio de Janeiro: Record,2002.
GALEANO, Eduardo. As Veias Abertas da América Latina. 41ºed. São Paulo: Paz e Terra, 2002.

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