MAPA DA ÁFRICA |
Ao longo, das eras tem se observado que a África é vista pelos "bárbaros" apenas como um continente fornecedor de matérias-primas e seres humanos para saciar seus desejos e fortalecer seus impérios.Isto mostrar a nossa ignorância e o desrespeito que temos pela nossa mãe África, que tem alimentado com o seu néctar várias nações.Seja, no âmbito cultural, econômico,político, social ou religioso.Diante, de tudo isto, ainda temos a prepotência de olhar para nossos irmão africanos com estereotipias e preconceitos.
Ah!Pobre humanidade....Precisamos urgetemente reparar historicamente essas injustiças que estamos cometendo com o continente africano.Assim sendo, esta publicação é uma forma de instigar você leitor, a fazer uma reflexão a respeito da exploração e atrocidade que estão fazendo com os africanos, especificamente com os moçambiquenhos.Propositadamente,resolvemos transcrever aqui, um artigo do professor
Boaventura de Souza Santos publicado em julho do corrente ano, depois de uma
visita deste renomado sociólogo a este país.
Contudo, Moçambique chama-se oficialmente República de Moçambique, é um país localizado na costa oriental da Africa Austral, limitando-se ao norte com a Tanzânia, a noroeste com Malauí e Zâmbia, a oeste com o Zimbábue e a leste com o Canal de Moçambique e Oceano Índico e a o sul e sudoeste com a África do Sul e Suazilândia. Apresenta uma superfície de 800.000KM² e uma população estimada em 21 milhões de habitantes, Desde o século XV que essa ilha desperta interesse de forasteiros.
Bbandeira de Moçambique |
Contudo, Moçambique chama-se oficialmente República de Moçambique, é um país localizado na costa oriental da Africa Austral, limitando-se ao norte com a Tanzânia, a noroeste com Malauí e Zâmbia, a oeste com o Zimbábue e a leste com o Canal de Moçambique e Oceano Índico e a o sul e sudoeste com a África do Sul e Suazilândia. Apresenta uma superfície de 800.000KM² e uma população estimada em 21 milhões de habitantes, Desde o século XV que essa ilha desperta interesse de forasteiros.
Inicialmente foram os árabes que aportaram
na ilha, depois os portugueses com o navegante Vasco da Gama, tornando-se a
partir de então, possessão da África portuguesa, estendo-se até 1975, quando
obteve a sua independência. Nos tempos atuais, os forasteiros (multinacionais)
continuam com a sua avidez no país, explorando-o das maneiras mais perversas
possíveis.
Veja abaixo o que o professor
Boaventura diz sobre a espoliação da Africa, mais precisamente de Moçambique pelas Empresas Multinacionais.
Moçambique: a maldição da abundância?
"As
grandes multinacionais, algumas bem conhecidas dos latino-americanos, estão se
apoderando das riquezas de Moçambique."
A “maldição da abundância” é uma expressão usada
para caracterizar os riscos que correm os países pobres onde se descobrem
recursos naturais objeto de cobiça internacional.
A promessa de abundância
decorrente do imenso valor comercial dos recursos e dos investimentos
necessários para o concretizar é tão convincente que passa a condicionar o
padrão de desenvolvimento econômico, social, político e cultural.
Os riscos desse condicionamento são, entre outros:
crescimento do PIB em vez de desenvolvimento social; corrupção generalizada da
classe política que, para defender os seus interesses privados, se torna
crescentemente autoritária para se poder manter no poder, agora visto como
fonte de acumulação primitiva de capital; aumento em vez de redução da pobreza;
polarização crescente entre uma pequena minoria super-rica e uma imensa maioria
de indigentes; destruição ambiental e sacrifícios incontáveis às populações
onde se encontram os recursos em nome de um “progresso” que estas nunca
conhecerão; criação de uma cultura consumista que é praticada apenas por uma
pequena minoria urbana mas imposta como ideologia a toda a sociedade; supressão
do pensamento e das práticas dissidentes da sociedade civil sob o pretexto de
serem obstáculos ao desenvolvimento e profetas da desgraça.
Em suma, os
riscos são que, no final do ciclo da orgia dos recursos, o país esteja mais
pobre econômica, social, política e culturalmente do que no seu início. Nisto
consiste a maldição da abundância.
Depois das investigações que conduzi em Moçambique
entre 1997 e 2003 visitei o país várias vezes. Da visita que acabo de fazer
colho uma dupla impressão que a minha solidariedade com o povo moçambicano
transforma em dupla inquietação. A primeira tem precisamente a ver com a orgia
dos recursos naturais.
As sucessivas descobertas (algumas antigas) de carvão
(Moçambique é já o sexto maior produtor de carvão a nível mundial), gás
natural, ferro, níquel, talvez petróleo anunciam um El Dorado de rendas
extrativistas que podem ter um impacto no país semelhante ao que teve a
independência. Fala-se numa segunda independência. Estarão os moçambicanos
preparados para fugir à maldição da abundância? Duvido.
As grandes multinacionais, algumas bem conhecidas
dos latino-americanos, como a Rio Tinto (Austrália) e a brasileira Vale do Rio
Doce (Vale Moçambique) exercem as suas atividades com muito pouca regulação
estatal, celebram contratos que lhe permitem o saque das riquezas moçambicanas
com mínimas contribuições para o orçamento de estado (em 2010 a contribuição
foi de 0,04%), violam impunemente os direitos humanos das populações onde
existem recursos, procedendo ao seu reassentamento (por vezes mais de um num
prazo de poucos anos) em condições indignas, com o desrespeito dos lugares
sagrados, dos cemitérios, dos ecossistemas que têm organizado a sua vida desde
há dezenas ou centenas de anos.
Sempre que as populações protestam são brutalmente
reprimidas pelas forças policiais e militares. A Vale é hoje um alvo central
das organizações ecológicas e de direitos humanos pela sua arrogância
neocolonial e pelas cumplicidades que estabeleceu com o governo.
Tais cumplicidades assentam por vezes em perigosos
conflitos de interesses, entre os interesses do país governado pelo Presidente
Guebuza e os interesses das empresas do empresário Guebuza donde podem resultar
graves violações dos direitos humanos como quando o ativista ambiental Jeremias
Vunjane, que levava consigo para a Conferência da ONU, Rio+20, denúncias dos
atropelos da Vale, foi arbitrariamente impedido de entrar no Brasil e deportado
(e só regressou depois de muita pressão internacional), ou quando, às
organizações sociais é pedida uma autorização do governo para visitar as
populações reassentadas como se estas vivessem sob a alçada de um agente
soberano estrangeiro.
São muitos os indícios de que as promessas dos
recursos começam a corromper a classe política de alto a baixo e os conflitos
no seio desta são entre os que “já comeram “ e os que “querem também comer”.
Não é de esperar que nestas condições, os moçambicanos no seu conjunto
beneficiem dos recursos.
Pelo contrário, pode estar em curso a angolanização
de Moçambique. Não será um processo linear porque Moçambique é muito diferente
de Angola: a liberdade de imprensa é incomparavelmente superior; a sociedade
civil está mais organizada; os novos-ricos têm medo da ostentação porque ela
zurzida semanalmente na imprensa e também pelo medo dos sequestros; o sistema
judicial, apesar de tudo, é mais independente para atuar; há uma massa crítica
de acadêmicos moçambicanos credenciados internacionalmente capazes de fazer
análises sérias que mostram que “o rei vai nu”.
A segunda impressão/inquietação, relacionada com a
anterior, consiste em verificar que o impulso para a transição democrática que
observara em estadias anteriores parece estancado ou estagnado.
A legitimidade revolucionária da Frelimo
sobrepõe-se cada vez mais à sua legitimidade democrática (que tem vindo a
diminuir em recentes atos eleitorais) com a agravante de estar agora a ser
usada para fins bem pouco revolucionários; a partidarização do aparelho de
estado aumenta em vez de diminuir; a vigilância sobre a sociedade civil
aperta-se sempre que nela se suspeita dissidência; a célula do partido continua
a interferir com a liberdade acadêmica do ensino e investigação universitários;
mesmo dentro da Frelimo, e, portanto, num contexto controlado, a discussão
política é vista como distração ou obstáculo ante os benefícios indiscutidos e
indiscutíveis do “desenvolvimento”.
Um autoritarismo insidioso disfarçado de
empreendedorismo e de aversão à política (“não te metas em problemas”) germina
na sociedade como erva daninha.
Ao partir de Moçambique, uma frase do grande
escritor moçambicano Eduardo White cravou-se em mim e em mim ficou: “nós que
não mudamos de medo por termos medo de o mudar” (Savana, 20-7-2012). Uma frase
talvez tão válida para a sociedade moçambicana como para a sociedade portuguesa
e para tantas outras acorrentadas às regras de um capitalismo global sem
regras.
Boaventura de Sousa Santos é sociólogo e professor
catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (Portugal).