No Brasil, feriados
religiosos ainda são impostos a todo país, mas contanto que eles sejam
católicos.
De acordo com a Constituição, o Brasil é um país laical, isso é não
tem nenhuma religião oficial. Respeita a diversidade de crenças e defende a
liberdade de todos os cultos.

No entanto,
até as pedras sabem que, ainda no Brasil de hoje, a religião continua a ter um
poder imenso sobre os destinos da sociedade e, uma vez ou outra, é usada para
fins políticos e interesses individuais ou grupais que nada têm a ver com o
projeto da fé.
Nesses dias, está novamente em discussão, um projeto de acordo
entre a Igreja Católica, representada pelo Vaticano e o Estado Brasileiro.
Em
tempos não tão remotos, uma Concordata semelhante garantia alguns privilégios
especiais para as instituições católicas no país. Ao mesmo tempo, sabe-se que
alguns grupos visam tornar o Brasil um país de cultura “pentecostal”.
Na Câmara,
uma bancada de deputados se auto intitula “evangélica”. Sem maiores
preocupações éticas e em nome da fé, esses deputados vetam projetos que lhes
parecem contrários ao modo como eles compreendem ao pé da letra alguns
preceitos bíblicos, enquanto fazem questão de esquecer outros.
E, ao mesmo
tempo, como se fosse uma missão sagrada, defendem os interesses das empresas
que financiaram suas campanhas ou de seus grupos ditos religiosos. A
dificuldade de relacionar a laicidade dos Estados com as questões religiosas
não existe somente no Brasil.
Atualmente, em vários continentes, aparecem sob a
forma de fortes tensões e violências. Em países como o Senegal e o Paquistão, muitas
pessoas foram feridas e algumas mortas em conflitos inter-religiosos.
Na
Nigéria e em outros países africanos, dezenas de Igrejas cristãs,
principalmente evangélicas, foram incendiadas e muitas pessoas foram
assassinadas.
Cristãos africanos pagaram um preço alto porque alguns jornais da
Europa, considerada pelos muçulmanos fundamentalistas, como cristã, insultam
Maomé e os princípios da fé islâmica.
Da mesma forma, minorias islâmicas são
discriminadas e perseguidas em alguns países da Europa e em algumas regiões da
Índia. Na Irlanda ainda persistem conflitos culturais e políticos que se manifestam
como divisão entre católicos e protestantes.
Na Europa ocidental, uma boa parte
da sociedade política e cultural considera que as religiões estão moribundas ou
mesmo acabadas. Por isso, sentem-se com o direito de insultar a fé das pessoas
e usar o nome de Deus como motivo para chacota e caricaturas de cunho
pornográfico e de baixo calão. E defendem esse modo de proceder como direito e
liberdade de expressão.
Em nome da laicidade, o governo francês proíbe que a
mulher muçulmana use o véu islâmico nas ruas e, em ambientes públicos No
entanto, as freiras católicas viajam de trem ou avião, com o véu religioso e
nenhuma foi acusada de desrespeitar a lei. Arautos do capitalismo veem nesses
conflitos um choque de civilizações.
Na verdade, é apenas um choque de cinismos
e simplificações racistas. No Brasil, feriados religiosos ainda são impostos a
todo país, mas contanto que eles sejam católicos. Em muitos lugares, para não
perder o emprego, adventistas do sétimo dia são obrigados a trabalhar no
sábado.
E quase a cada dia, um templo de algum culto afro-brasileiro é vítima
de violência e preconceito. Ao celebrar nesses dias a Quaresma, as Igrejas mais
antigas leem textos do evangelho como as acusações de Jesus contra os
sacerdotes do templo que exploravam viúvas pobres e ensinavam que Deus precisa
de sacrifícios para abençoar e proteger as pessoas.
Jesus revelou que o mais
sagrado de tudo é a vida. Deus mora no coração de todas as pessoas humanas e
pede a cada um/uma de nós descobri-lo no outro, no respeito às outras culturas
e religiões, como no cuidado com a natureza e na comunhão com todo ser vivo.
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Marcelo Barros |
Marcelo Barros é
monge beneditino e teólogo. Atualmente, é coordenador latino-americano da
Associação Ecumênica de Teólogos/as do Terceiro Mundo (ASETT) e assessora as comunidades
eclesiais de base e movimentos sociais.
Fonte: http://www.brasildefato.com.br
17/03/2015
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