Pelo menos
18 capitais realizam manifestações, como São Paulo, Vitória, Manaus, Belém,
Brasília e Rio de Janeiro.
Lilian Campelo Brasil de Fato | Belém (PA)Grupo Afro Imalê Ifé dança na celebração do Dia da Consciência Negra no monumento a Zumbi dos Palmares, em 2014 / Fernando Frazão/Agência Brasil |
Manifestações em diversas
cidades do Brasil irão celebrar neste domingo (20) o Dia da Consciência Negra.
Os atos, que estão sendo organizados por uma articulação de movimentos negros
chamada Convergência Negra, terá como mote "Fora, Temer, nenhum direito a
menos para negros e negras!”.
Segundo nota dos organizadores,
o objetivo do ato é "expor à sociedade que o governo de Michel Temer é
oriundo de um golpe parlamentar e representa um retrocesso às conquistas
democráticas e também uma ameaça aos direitos conquistados pela população negra
nos últimos anos".
Um texto de convocação para as
marchas apresenta onze pontos que unificam os movimentos negros brasileiros,
como extermínio da juventude negra e intolerância religiosa.
Leonor Araújo, presidente
nacional do Instituto Gangazumba e coordenadora do Coletivo de Entidades Negras
(CEN), afirma que alguns atos serão no dia 20 e outros no dia 18, como em
Vitória (ES), cidade onde mora. "Como os movimentos que participarão da
marcha entregarão uma carta com pautas de reivindicação do povo negro ao
governador do estado [do Espírito Santo, Paulo César Hartung Gomes], a marcha
precisava acontecer em um dia útil", justifica.
Márcio Gualberto, coordenador
político institucional no CEN e integrante da Convergência Negra em Salvador,
conta que nas principais capitais haverá atos e manifestações, já que a data
integra a agenda dos movimentos negros pelo país. Em cidades pequenas, médias
ou grandes ocorrem atividades e, segundo ele aponta, pelo menos em 18 capitais
haverá manifestação, e cita como exemplo São Paulo, Vitória, Manaus, Belém,
Brasília, Rio de Janeiro e Maceió.
Marcha
Em Salvador (BA), o Dia da
Consciência Negra será marcado por três atividades, com início ainda na
madrugada do dia 20 com a ‘Alvorada dos Ojás’ que, de acordo com Gualberto,
será uma cerimônia cultural que consiste em envolver os troncos das árvores do Dique
do Tororó, lagoa onde estão as estátuas que representam os orixás, em um pano
branco formando um laço. O ato simboliza a ligação do homem com a natureza. A
atividade cultura é organizada pelo CEN, juntamente com outras entidades que
partirão em caminhada até o Pelourinho.
Em mais dois pontos da cidade,
nos bairros da Liberdade e Campo Grande, irão ocorrer duas marchas seguindo em
direção ao encontro dos participantes da atividade cultural, como explica
Gualberto. “Esse ano todas essas ações serão unificadas às 15h. Nós nos
deslocaremos junto com o povo do Candomblé para o Pelourinho ao Terreiro de
Jesus e receberemos as duas caminhadas que se unificarão ali, será uma
culminância desses atos que ocorrem em lugares diferentes e elas se encontrarão
para que a gente tenha um grande ato no centro de Salvador”, conclui.
Na capital paraense, como uma
das manifestações em celebração ao Dia da Consciência Negra acontece o
“Encontro de Negras e Negros do Pará (ENNPA) – Identidades negras, combate,
enfrentamento e superação do racismo”, entre os dias 17 a 19 de novembro,
organizado pelo Centro de Estudo e Defesa pelo Negro no Pará (Cedenpa).
O evento que será no Centro
Cultural Tancredo Neves (Centur) e contará com feira de produtos de
empreendedoras negras e empreendedores negros, exposição de artistas negras e
negros, oficinas e plenárias. Os debates abordarão temas como o extermínio da
juventude negra, a estética, a identidade, a religiosidade e a saúde. No dia
20, uma roda de negritude, com apresentação de artistas locais, encerrará o
encontro, que será no Quilombo da República, localizado na Praça da República,
em Belém.
E, integrando a agenda
nacional, a marcha “Um milhão de negras e negros nas ruas contra o golpe”
ocorreu em Belém, no dia 18. Segundo Arthur Leandro, integrante da Rede
Amazônica de Matriz Africana (Reata), a data foi escolhida para que lideranças
do povo tradicional de matriz africana pudessem participar, visto que a
sexta-feira é um dia mais tranquilo nos terreiros. se comparado aos outros dias.
Em São Paulo (SP), a XIII Marcha da Consciência
Negra será
realizada no domingo (20), a partir das 11h no Museu de Arte de São Paulo
(Masp), na Avenida Paulista. Na sexta (18), em comemoração a um ano da Marcha
das Mulheres Negras, o coletivo impulsor da atividade no estado paulista
organizou uma maratona de 12h de debates online. As entrevistas e debates estão
disponíveis na página do coletivo de São Paulo da Marcha das Mulheres Negras.
Genocídio
Arthur Leandro, da Reata no
Pará, afirma que várias organizações do movimento negro, coletivos de mulheres
e juventude negra participarão da marcha em Belém afirmando o combate ao
genocídio da população negra. Este ano, seis líderes afro-religiosos foram
assassinados na região metropolitana da capital paraense, e neste mês é
lembrado os dois anos da “Chacina de Belém”, nome pelo qual ficou conhecido o
assassinato de onze jovens, todos moravam na periferia da cidade. “O Pará é um
dos estados com maior índice de violência contra a juventude negra”, indica
Leandro.
O “Mapa da Violência 2016:
homicídios por armas de fogo no Brasil”, estudo que pesquisa a evolução de
mortes causadas por armas de fogo, no período de 1980 a 2014, apontou que as
maiores vítimas deste tipo de violência são homens jovens e negros. Segundo os
dados do estudo, entre 2003 e 2014, as taxa de homicídios por arma de fogo na
população branca diminuiu 26,1%, enquanto que na população negra aumentou
46,9%. No ano de 2003, morriam 71,7% mais negros do que brancos; em 2014, esse
número saltou para 158,9%. Este é um dado que o próprio estudo chama de
“perversa e preocupante” “seletividade racial”, ou seja, morrem 2,6 vezes mais
negros do que brancos no país.
Fonte: www.brasildefato.com.br
20/11/2016
Edição:
Vivian Fernandes
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