Passaram-se os anos e o negro brasileiro ainda trás
no lombo a marca do chicote da escravidão. A dicotomia entre casa grande e
senzala, permanece.
Os números são gritantes. Segundo DIEESE, os negros
representam 48,2% dos trabalhadores nas regiões metropolitanas brasileiras,
entretanto, a média de seu salário chega a ser 36,1% menor do que a de
trabalhadores não negros.
Gustavo Menon |
Em um país onde o paladino do humor, Danilo
Gentili, oferece bananas aos seus críticos, o dia da consciência negra serve de
reflexão.
O discurso do humorista segue a mesma lógica racista dos senhores de
engenho: Gentili fala grosso (ou faz piada) com quem é subalterno e, por outro
lado, fica manso quando está diante de coronéis, generais e gente graúda.
Há
muito preconceito entre nós. A explicação pra isso só nos remete a formação
histórico-política na terra brasilis.
Lembremos que nosso querido país foi uma das
últimas nações do mundo a extinguir oficialmente a escravidão, somente no final
do século XIX, em 1888. Com uma velocidade digna de Rubens Barrichello (do
Braziiuuu!), a inserção do negro na sociedade tupiniquim nunca foi uma
prioridade.
Na transição de Monarquia para República, por exemplo, não houve
mudanças significativas nas estruturas de poder. Juntamente a isso, a abolição
da escravatura se deu sem indenizações, reforma agrária e direitos elementares.
Sob o cenário do tronco e do açoite, para o negro,
apenas, marginalização e a máxima exclusão. Dizia-se, naquela época, que
os negros deviam ser tratados com os três "P": pão, pano e pau. Por
isso, apesar da “obrigação” de vestir e alimentar os escravos, seus
proprietários tinham pleno direito de castigá-los.
Passaram-se os anos e o negro brasileiro ainda trás
no lombo a marca do chicote da escravidão. A dicotomia entre casa grande e
senzala, permanece. Os números são gritantes. Segundo DIEESE, os negros
representam 48,2% dos trabalhadores nas regiões metropolitanas brasileiras,
entretanto, a média de seu salário chega a ser 36,1% menor do que a de
trabalhadores não negros.
Outro dado alarmante é o extermínio da juventude
negra nas periferias das cidades. Foram registrados assassinatos de quase
35 mil negros no ano de 2010, conforme aponta estudo sobre violência da
Faculdade Latino-Americana.
A pesquisa que monitora informações da violência no
Brasil aponta que de 2001 até 2010, enquanto a morte de jovens brancos no país
caia 27,1%, a de negros crescia 35,9%. Em matéria de saúde, de acordo com
estudo do Comitê Técnico de Saúde da População Negra do Ministério da Saúde,
41,5% das mulheres negras com mais de 40 anos nunca fizeram mamografia - contra
26,7% das mulheres brancas com a mesma idade.
Fizemos/fazemos pouco para combater a dominação.
Existem avanços, claro; mas tal mentalidade retrógada e arcaica, herdada de
nossas classes dominantes, permanece enraizada no seio da sociedade brasileira.
É certo que alguns ainda sentem falta da chibatada. Não é exagero dizer
quea herança de quase quatro séculos de escravidão ainda encontra-se manifesta
na população negra.
Os resquícios abomináveis de outrora estão por aí: em
Gentilis, Pondés, Azevedos e em outros porta-vozes da grande mídia.
Contudo, a cultura afro resiste. As comunidades
quilombolas estão na luta pelo reconhecimento de seus direitos. As religiões
afrodescendentes permanecem, em meio a perseguições de grupos religiosos
radicais, sendo expoentes de liberdade e resistência.
Zumbi, mártir dos
Palmares, permanece vivo no imaginário do movimento negro.
Que o dia da consciência negra, sirva, ao menos,
para reflexão e luta - uma vez que igualdade racial está longe de ser
alcançada.
Por fim, um sorriso negro pra você, conservador de
plantão, que não consegue compreender o significado desta data tão importante.
Gustavo Menoné - mestre
em ciências sociais pela PUC-SP. Docente no SENAC-SP e na Faculdade de Ciências
de Guarulhos – FACIG/UNIESP.
21/11/2013
http://www.brasildefato.com.br/node/2665
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