Enquanto oficialmente se comemora a 'independência', milhares de pessoas foram às ruas defender a democracia, os direitos sociais e políticas voltadas para o “povo mais pobre”; segundo os movimentos populares “esse é um 'grito da senzala' contra os senhores do poder”.
Por Bruno Pavan, Camilla Hoshino, Íris Pacheco, Rafael Soriano e Catiana Medeiros De São Paulo, Curitiba, Brasília, Maceió e Porto Alegre
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Neste feriado de 7
de setembro, 'Dia da Independência', milhares de pessoas saíram às ruas em todo
o Brasil para mais uma edição do Grito dos Excluídos, que tem como lema 'Que
país é este que mata gente, que a mídia mente e nos consome?'. "Esse é um
'grito da senzala' contra os senhores do poder e da concentração de renda. Nós
gritamos pela democracia, contra o golpe, por uma outra política econômica,
pelos direitos sociais, é um grito das pessoas excluídas", afirmou o
coordenador da Central dos Movimentos Populares (CMP), Raimundo Bonfim.
“Essa não é uma
data de comemoração, mas de protesto, uma data em defesa dos direitos, da
democracia e dos trabalhadores e trabalhadoras. Estamos na luta do povo mais
pobre, do povo que sempre trabalha e que é excluído desse país, estamos na luta
para resolver os problemas desse povo”, declarou Gilberto Cervinski, do
Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB).
Diversas
organizações do Brasil convocaram o Grito dos Excluídos deste ano, entre elas,
pastorais sociais, a CMP, Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST),
Central Única dos Trabalhadores (CUT), Levante Popular da Juventude, União
Nacional dos Estudantes (UNE), entre outras.
São Paulo
Ato no Monumento das Bandeiras, em SP | Foto: Bruno Pavan |
Na capital paulista, de acordo com a organização do protesto, mais de 10
mil pessoas marcharam da Avenida Paulista até o Parque do Ibirapuera, onde
encerraram o protesto no Monumento às Bandeiras. Na pauta estava o
posicionamento contrário às medidas e atitudes do presidente da Câmara dos
Deputados, Eduardo Cunha (PMDB), e contra os ajustes fiscais promovidos pelo
ministro da Fazenda Joaquim Levy.
“Hoje saímos às
ruas para denunciar o não cumprimento dos direitos e porque nós não queremos o
Cunha ou o Levy comandando o nosso país. Nós não podemos retroceder nos
direitos que conquistamos, queremos manter as nossas conquistas para dar um
futuro melhor para os nossos filhos”, disse Maria das Graças Xavier, da União
Nacional de Moradia Popular (UNMP).
Membro do Movimento
Nacional da População em Situação de Rua, Anderson Lopes Miranda homenageou
Francisco Erasmo Rodrigues de Lima, conhecido como Gaguinho, morto na última
sexta-feira (4) ao salvar uma mulher de um sequestro no Centro de São Paulo.
“Viemos lembrar do nosso companheiro Gaguinho, Francisco, que tombou na Praça
da Sé por defender uma companheira, pela vida. O movimento vai fazer um ato na
sexta-feira (11) em prol do Francisco, para dizer que existe vida na rua e a
gente luta pela vida da população de rua.”
O ato na Praça da Sé, no centro da capital paulista, reuniu movimentos
populares, pastorais sociais e centrais sindicais, que também lembraram da
morte do morador de rua Francisco de Lima. Na manifestação, os presentes
promoveram um abraço à Catedral da Sé, em memória das mortes ocorridas na sua
escadaria. Na ação, o padre Júlio Lancelloti, da Pastoral de Rua, afirmou:
"não há herói e nem bandido. Os dois são vítimas do mesmo sistema”.
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Paraná
Grito em Curitiba | Foto: Frentex |
O Grito dos
Excluídos em Curitiba (PR) reuniu cerca de 200 pessoas na Igreja Nossa Senhora
do Rosário do Belém, no bairro Centenário. O ato seguiu até a Vila São
Domingos, onde mais de 800 famílias lutam pela regularização de suas moradias e
contra o despejo que podem sofrer.
O integrante da
Pastoral de Juventude de Curitiba e da Cáritas Brasileira, Leôncio Santiago,
apresentou outra pauta levantada no ato: “chega de violência e extermínio da
juventude, principalmente de negros e das periferias. A gente traz esse grito
denunciando que a juventude está morrendo e precisa de políticas públicas
efetivas que garantam seus direitos”.
Sobre o tema da
comunicação, Lizely Borges, da Frente Paranaense pelo direito à Comunicação e
Liberdade de Expressão, denunciou “a ausência da participação do povo nos meios
de comunicação hegemônicos. Estamos aqui para fazer a defesa de uma comunicação
mais plural, diversificada, que traga as mensagens do povo. Que o povo também
construa sua própria mídia.”
Brasília
No Distrito Federal, movimentos sociais, sindicatos e demais coletivos
se articularam para a realização da manifestação do Grito dos Excluídos, que
iniciou às 8h, na Catedral Metropolitana, no Plano Piloto de Brasília.
Protesto em Brasília | Foto: Mídia Ninja |
“O objetivo é expor
e colocar em debate os reais problemas que afetam o povo. Então, diante dessa
crise política, econômica, social e ambiental que a gente vive, movimentos
sociais, coletivos e sindicatos estão organizados e mobilizados para dar uma
resposta propositiva para essa crise, no sentido de melhorar a vida do povo e
dar voz aos excluídos e excluídas”, ressaltou Fábio Miranda, membro da
coordenação do ato na capital federal.
Entre as
organizações que participaram da articulação do protesto no Distrito Federal
estão a Cáritas Brasileira, CUT, Família Hip Hop, Consulta Popular, Mídia
Ninja, Levante Popular da Juventude, MST e União Nacional dos Estudantes (UNE).
Rio Grande do Sul
Protesto em Porto Alegre (RS) | Foto: Catiana Medeiros |
Em Porto Alegre
(RS), cerca de 250 pessoas participaram do 21o Grito dos
Excluídos. A concentração iniciou por volta das 9h, na Rótula das Cuias,
seguida de caminhada até a Usina do Gasômetro, no Centro Histórico. De acordo
com as entidades sindicais e as pastorais que organizaram a mobilização, o
objetivo foi chamar a atenção para o poder dos meios de comunicação na
manipulação da sociedade.
"Queremos
empoderar o clamor dos pobres, dos excluídos e daqueles que de alguma forma são
injustiçados por esse sistema explorador. Além de denunciar esse modelo de
desenvolvimento que existe no país, a criminalização dos movimentos sociais e a
mídia que manipula e é parcial" explica Waldir Bohn Gass, da Conferência
Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Entres os participantes estavam militantes do MST, CMP, Movimento
Nacional de Luta por Moradia (MNLM), Movimento de Trabalhadores por Direitos
(MTD) e Levante Popular da Juventude.
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Alagoas
Ato em Maceió (AL) | Foto: Gustavo Marinho |
Mais de 500
militantes de movimentos sociais, pastorais, entidades e partidos marcharam em
Maceió (AL), no 21º Grito dos Excluídos, seguindo o desfile oficial de 7 de
setembro. Ao final do ato, o governador Renan Filho (PMDB) foi ao meio do povo
ouvir as reivindicações de ampliação de direitos, de abertura de negociações
com os professores grevistas e de paz nas favelas e justiça ao Caso Davi, jovem
morto há 1 ano por policiais.
Mais cidades
Em Boa Vista,
capital de Roraima, representantes de 50 entidades participaram pela manhã do
tradicional movimento Grito dos Excluídos. A concentração teve início por volta
das 9h, na Praça Oswaldo Cruz, bairro da Boa Vista. De lá, os manifestantes
seguiram em passeata pela Avenida Conde da Boa Vista até a Praça do Carmo, onde
um ato público aconteceu a partir das 13h.
O Grito dos
Excluídos em Salvador (BA) contou com 20 mil pessoas de movimentos sociais,
sindicatos e demais coletivos em um ato na Praça do Campo Grande, de acordo com
os organizadores. Os militantes denunciaram o genocídio da população jovem e
negra, pediram atenção especial à economia solidária e ao quilombo Rio dos
Macacos, comunidade quilombola que há décadas luta pela regularização do seu
território.
Em Belo Horizonte (MG), o protesto contou com cerca de 600 pessoas, de
acordo com a organização. A concentração para a caminhada aconteceu na praça
Raul Soares, de lá seguiram até a praça Sete, no centro da capital.
No ato em Fortaleza
(CE), faixas do Coletivo de Comunicação Intervozes afirmavam: “A nossa dor não
é espetáculo! Estamos nas ruas pelo fim das violações de direitos na mídia”.
Ato em Fortaleza | Foto: Intervozes |
Movimentos sociais
saíram em passeata pela Avenida Presidente Vargas no centro da cidade do Rio de
Janeiro (RJ). A concentração começou às 9h na Rua Uruguaiana e a caminhada
seguiu até a estátua de Zumbi dos Palmares. A manifestação contou com a
participação de movimentos feministas, negros, indígena, de juventude, por
moradia, educação, comunicação popular, sindicalistas e partidos de esquerda.
Marchando pelas
principais ruas e avenidas do Recife (PE), cerca de 3.500 pessoas protestaram
em defesa da democracia, da ética na mídia, por melhorias e mais investimentos
Sistema Único de Saúde (SUS), por uma educação de qualidade, reforma agrária,
demarcação de terras indígenas e o direito à cidade. Também foi pedido o
afastamento imediato do deputado federal Eduardo Cunha, atual presidente da
Câmara dos Deputados. Construíram o ato movimentos populares, pastorais sociais
da Igreja Católica, Igrejas Anglicana e Batista do Coqueiral, sindicatos,
grupos de jovens, mulheres e indígenas.
História
O 1º Grito dos
Excluídos foi realizado em setembro de 1995. De acordo com os organizadores, “a
proposta do Grito surgiu da esperança e do espírito profético dos cristãos que,
aliados aos movimentos sociais, buscaram continuar pautando a reflexão proposta
pela 2ª Semana Social Brasileira dos anos de 1993 e 1994 e Campanha da
Fraternidade do ano de 1995, cujo tema era 'Fraternidade e Exclusão'. Assim,
nestes 21 anos de história, o Grito vem se desenvolvendo como um processo de
compromisso coletivo”.
A manifestação popular tem como objetivo chamar a atenção dos
brasileiros e brasileiras sobre a exclusão social e acontece anualmente no dia
7 de setembro. Em 1999 o Grito estendeu-se para as Américas, e conta com
mobilizações em diversos países.
http://www.brasildefato.com.br/
07/09/2015
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