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sábado, 28 de novembro de 2015

POVOS DAS FLORESTAS SÃO ALIADOS NA LUTA CONTRA A MUDANÇA CLIMÁTICA, REFORÇA DOCUMENTÁRIO.



Importância das florestas para a estabilidade do clima, o papel dos povos indígenas e suas reivindicações pelo território e pelo fim da violência contra seus líderes ganham visibilidade e apoio nas vésperas da COP-21.

Hoje, em média, um indígena morre a cada semana por lutar por seus direitos, revela o documentário “If not us then who?” – “Se não formos nós, então quem será?” – lançado em Paris, na semana passada. O filme foi lançado com a participação de lideranças indígenas, às vésperas do início da Conferência do Clima de Paris (COP 21), nesta segunda (30/11), reforçando o chamado à conservação das florestas e à solidariedade aos povos indígenas, atores fundamentais da proteção ao meio ambiente e, ao mesmo tempo, alvo dos impactos das mudanças climáticas.

“If not us then who?” foi feito pela Handcrafted films e dirigido por Paul Redman durante dois anos e meio e faz parte da campanha internacional com o mesmo nome e cujo objetivo é o reconhecimento da contribuição dos indígenas para a conservação das florestas e para o equilíbrio do clima. Histórias emblemáticas de lideranças indígenas na Indonésia, Peru, Brasil, Costa Rica, Honduras e em outros países são contadas pelos próprios indígenas no filme. As diversas histórias em formato de curta-metragem estão acessíveis no site da campanha, também em língua portuguesa (veja aqui).
“Nós não devemos idealizar a vida dos povos indígenas, mas nós devemos aprender com a sua sabedoria e sua sobriedade, algo que falta nos dias de hoje em nossa sociedade. Os índios estão na linha de frente da luta contra o desmatamento. O combate deles é nossa luta”, afirmou Nicolat Hulot, ambientalista francês, enviado especial do presidente da França para a proteção do planeta, no lançamento.
“Minha mensagem para os povos indígenas brasileiros é que a sua dor e a sua luta são compartilhadas no mundo todo por outras comunidades indígenas, na Indonésia, no Peru, no Congo e eles devem reunir forças com seus irmãos e irmãs que lutam da mesma maneira”, disse Redman.
Apenas em 2014, teriam sido mortos, no mundo, pelo menos 46 indígenas por combaterem a destruição do meio ambiente, segundo o relatório "How many more?", publicado pela ONG Global Witness, em 2015. O documento sugere que o número de vítimas deve ser bem maior, visto que os assassinatos nem sempre são devidamente contabilizados por ocorrerem no meio das florestas e em locais isolados.
A Handcraft lançou também o documentário “Liberdade”, que conta a história de conquista de direitos à terra de duas comunidades quilombolas no Brasil (veja o vídeo).
O papel questionável dos governos
A ação dos governos nem sempre corresponde ao seu discurso no âmbito internacional sobre o papel dos indígenas em relação à mudança do clima. Por exemplo, o governo do Peru tem se mostrado favorável à defesa das florestas e das populações indígenas desde a organização da COP 20, em Lima. Junto com o governo francês, o Peru patrocina um diálogo entre os negociadores dos países e as lideranças indígenas na Convenção do Clima da ONU para ouvir suas demandas em relação ao futuro acordo do clima (saiba mais).
Lideranças indígenas contestam, entretanto, as políticas da administração peruana dentro do País. “Nada mudou no Peru. O governo segue dando prioridade às concessões madeireiras e mineiras em detrimento da titulação dos territórios indígenas”, denuncia Diana Ríos. Ela é filha do líder indígena Jorge Ríos, assassinado no Peru, perto da fronteira com o Brasil, em 2014, por defender as florestas de sua comunidade do Alto Tamaya-Saweto, na região de Ucayali, contra madeireiros ilegais e narcotraficantes.
No Peru, foram aprovadas 35.658 concessões mineiras, entre 2007 e 2015, enquanto apenas 50 comunidades indígenas receberam o título oficial de seus territórios no mesmo período, segundo o relatório “Peru na encruzilhada climática”, da Associação Interétnica de Desenvolvimento da Selva Peruana (AIDESEP) e da Rainforest Foundation-US, de 2015.
O relatório também mostra que, atualmente, são necessários 27 passos administrativos, que podem levar entre 10 e 25 anos, para que comunidades indígenas e tradicionais tenham seus territórios reconhecidos no Peru, enquanto apenas três passos administrativos são exigidos para a obtenção de concessões de exploração florestal e sete para concessões mineiras.
Em toda Bacia Amazônica, calcula-se que existam 100 milhões de hectares de terras indígenas ainda sem demarcar, o que deixa muitos povos sem garantias legais sobre os seus territórios. As áreas que carecem de reconhecimento oficial contêm 22,2% do carbono florestal da região, segundo o Woods Hole Research Center.
Na Bacia Amazônica, terras indígenas e áreas protegidas habitadas por povos indígenas contêm 32,8% dos estoques de carbono florestal na região – 28.247 milhões de toneladas de carbono (leia mais).
“Os povos indígenas não são contra o desenvolvimento. Eles são a favor de um desenvolvimento que respeite os territórios, os recursos naturais e as relações saudáveis entre as pessoas”, afirmou Victoria Tauli-Corpuz, relatora especial da ONU sobre os Direitos dos Povos Indígenas, no documentário “If not us then who?”. Tauli-Corpuz também afirmou que o individualismo é um dos grandes problemas do mundo hoje e que os valores de solidariedade e da coletividade dos povos indígenas deveriam ser aprendidos pelas pessoas.
O filme mostra diversos exemplos de manejo florestal comunitário feito por populações indígenas. Na Indonésia, por exemplo, indígenas da comunidade de Setulang estão usando a tecnologia de drones para o monitoramento dos territórios e florestas. Na Costa Rica, indígenas realizam o manejo sustentável das florestas, constroem escolas e postos de saúde com recursos recebidos do Estado sobre impostos sobre combustíveis fósseis.
(veja documentário; legendas em português).
O documentário mostra ainda as conquistas realizadas pelas quebradeiras de coco babaçu, uma luta liderada por mulheres que conseguiram a demarcação de algumas reservas e o apoio à sua atividade tradicional e comunitária (veja o vídeo; legendas em português).
“Os governos também devem incluir a contribuição dos Povos indígenas nas INDCs [contribuições nacionalmente determinas, que compõem as metas dos países para a redução de emissões de gases de efeito estufa na Convenção da ONU]. Porque nós [os povos indígenas] também temos uma contribuição a dar pelo clima e isso deve ser contabilizado”, afirmou Mina Setra, liderança indígena do West Kalimantan, Indonésia. “Os povos indígenas dão exemplos ao mundo todo sobre estilos de vida de baixa emissão de carbono. Nossa grande tarefa é transmitir a mensagem de que há esperança. Essa esperança é trazer a vocês nossa experiência, nossa vida e nossa conexão com as florestas”, afirmou Setra.


FONTE: http://www.socioambiental.org

POVO MUNDURUKU RECEBERÁ PRÊMIO NA COP 21 EM PARIS

A 21ª Conferência do Clima (COP 21) será realizada em dezembro de 2015, em Paris, e terá como principal objetivo costurar um novo acordo entre os países para diminuir a emissão de gases de efeito estufa, diminuindo o aquecimento global e em consequência limitar o aumento da temperatura global em 2ºC até 2100.

Os Munduruku iniciaram o processo de autodemarcação no território após anos sem resposta da FUNAI.
Por Camila Nobrega, De Berlim, Alemanha

Os Munduruku, do Médio Tapajós, estão entre os 21 vencedores do Prêmio Equador (Divulgação)
Enquanto lideranças de vários países se preparam para debater acordos sobre projetos de mitigação do aquecimento global que afetam diretamente áreas de floresta – como a Amazônia brasileira – povos tradicionais silenciados neste processo lutam para garantir autonomia nesses territórios. É o caso do povo Munduruku, da região do Médio Tapajós, que receberá um prêmio pelo projeto de autodemarcação do próprio território em uma das programações paralelas à conferência, que começa na próxima segunda-feira, 30 de novembro, em Paris. 
Os Munduruku estão entre os 21 vencedores do Prêmio Equador, cujo objetivo é ressaltar alternativas locais que combinam soluções para pessoas e a natureza. A cerimônia de entrega do prêmio, organizado pela ONU, será no dia 7 de dezembro. O povo Munduruku iniciou o processo de autodemarcação no território, após anos de espera sem ações por parte da Fundação Nacional do Índio (Funai). Como a terra indígena está na reta de interesses econômicos, como a previsão da construção da usina hidrelétrica de São Luis do Tapajós, a demarcação oficial da terra indígena Daje Kapap Eypi está paralisada. O território reivindicado, e há gerações ocupadas pelo povo indígena, está localizado nos municípios de Itaituba e Trairão oeste do Pará.  O local fica a poucos quilômetros da área prevista para a construção da usina de São Luiz do Tapajós, de 8.040 megawatts.
Marquinho Mota, representante do Fórum da Amazônia Oriental, esteve presente esta semana em um debate sobre “Floresta, Direitos, Emissões – Povos tradicionais da Amazônia e a política climática internacional”, em Berlim, e questionou:
- Aí dizem que energia hidrelétrica é energia limpa. Uma energia que começa desse jeito pode ser chamada de limpa? - perguntou Marquinho durante o debate no Instituto Ibero-americano, no centro de Berlim, capital alemã, no último dia 24 de novembro.
Autodemarcação começou em 2014
Linhas fronteiriças podem parecer apenas abstrações de um território real, vivido no dia a dia, mas há situações em que elas podem gritar sobrevivência e se tornar instrumento de autonomia. E é exatamente por sua importância que elas são constantemente negadas e invisibilizadas, tornando-se motivo de conflitos Brasil afora. Foi percebendo isso que o povo Munduruku resolveu, há pouco mais de um ano, começar um processo árduo e bastante ousado de autodemarcação do próprio território. Facões e GPS em punho (sim, porque a tecnologia também pode auxiliar o conhecimento tradicional), mais de 60 indígenas Munduruku se voluntariaram a se embrenhar na mata na região do Médio tapajó para iniciar a tarefa em conjunto. Nesse processo, homens e mulheres dividiram tarefas. As Guerreiras Munduruku, grupo de mulheres da etnia que vivem e lutam na região, têm protagonismo no processo e na documentação da autodemarcação.
O Movimento Munduruku Ipereg Ayu vive sob tensão com medo de que parte das terras onde habitam sejam inundadas para a construção de, pelo menos, nove barragens na bacia do Tapajós. Algumas comunidades da região possuem terras demarcadas, mas existem outros grupos em aldeias como a Sawre Muybu ao longo do médio curso do Tapajós próximo ao município de Itaituba, que não possuem o título da terra. Estes territórios são os mais ameaçados. Sem regularizar a situação, o governo brasileiro e os poderes econômicos locais, como o agronegócio em aliança com grupos internacionais, se tornam coniventes com as ameaças de violência e diversas violações de direitos às quais os indígenas estão submetidos atualmente. 
Frente a uma plateia composta majoritariamente por europeus, Marquinho foi aplaudido ao explicar o processo de autodemarcação e a negativa dada pelo povo Munduruku a outras iniciativas de ajuda financeira, como o projeto de REDD (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação), que seria feito com uma obscura empresa irlandesa denominada Celestial Green Ventures. Por US$ 4 milhões divididos ao longo de 30 anos a empresa teria os direitos de comercializar créditos de carbono daquela área da floresta.
“Esses projetos de REDD (mecanismos que mais uma vez será debatido na COP-15) violam direitos dos povos tradicionais. A ideia é a floresta ficar preservada, mas o caboclo e o índio, por exemplo, perdem o direito de tirar uma palha para construir casa. Não queremos perder nosso direito à floresta para empresas internacionais poderem poluir livremente na Índia ou sei lá aonde”, afirmou Marquinho Mota.
Quilombos lutam por visibilidade na luta por justiça ambiental
Assim como os povos indígenas, movimentos quilombolas estarão presentes em Paris, na tentativa de construir uma resistência às propostas de preservação ambiental que atropelam direitos das comunidades tradicionais. Ana Cláudia Mumbuca, quilombola da região do Jalapão, no Tocantins, também esteve presente no debate em Berlim e ressaltou o momento difícil que o Brasil vive, em uma luta diária contra retrocessos no Congresso: “Não podemos deixar que tirem os direitos dos povos tradicionais em nome do que chamam de preservação ambiental. Se o nosso território está preservado não foi apenas porque a natureza se manteve, mas porque existe trabalho humano ali, diário e integrado ao meio ambiente.”
Ana fez uma comparação com o trabalho das abelhas, que foi preservado ali. “Nós também somos as abelhas que polinizam a floresta e isso não é levado em consideração”
São as abelhas que dão inclusive nome à região. Mumbuca é referência a uma abelha azul muito comum naquela localidade do Jalapão. O lugar se tornou famoso em textos sobre turismo na região do Tocantins e artesanato feito por mulheres com o capim dourado. Mas pouco se fala sobre os conflitos de terra a que as quilombolas e os quilombolas Mumbuca estão expostos nesse território, a cerca de 30 quilômetros do município de Mateiros, numa área próxima à rodovia TO-110. Junto com outros povos do Cerrado, eles lutam para dar visibilidade à degradação desse bioma, especialmente devido ao agronegócio que ocupa grandes faixas da região, criticando mudanças propostas na legislação, como a polêmica PEC 215. 
Lutando contra a falta de espaço no debate público e na mídia, quilombolas e indígenas do Tocantins também iniciaram processos autônomos, por meio de instrumentos como a cartografia social. O objetivo é dar espaço à narrativa da população local. 
Durante o debate, Ana mencionou a Marcha das Mulheres Negras que ocorreu pela primeira vez em Brasília, no dia 18 de novembro, reunindo mais de 20 mil mulheres. Ela contou sobre as ofensivas contra a marcha, por parte de grupos políticos conservadores do país e a repressão enfrentada pela ação da Polícia Militar. Recebeu o apoio direto de uma companheira do movimento negro de Camarões e foi aplaudida longamente pela plateia. Ana Mumbuca e Marquinho Mota participam de uma extensa agenda na Alemanha e seguem para a Áustria.
27/11/2015

FONTE: http://www.brasildefato.com.br/

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

GUARANIS KAIOWÁ CANTAM SUA REALIDADE NAS RIMAS DO RAP

Bastou que as lideranças da aldeia ouvissem calmamente as rimas que falavam sobre os desafios e lutas do povo do Mato Grosso do Sul para que aprovassem e abençoassem a iniciativa.
Por Cibele Tenório,Da EBC

Em 2008, quando quatro jovens da etnia Guarani Kaiowá criaram o Bro MC, grupo de rap, a inciativa não foi vista com bons olhos pelos demais. Mas bastou que as lideranças da aldeia ouvissem calmamente as rimas que falavam sobre os desafios e lutas do povo do Mato Grosso do Sul para que aprovassem e abençoassem a iniciativa.
 Desde o início, a decisão foi a de escrever rimas em português e em guarani. “A gente fez essa escolha justamente para mostrar que não deixamos de lado a nossa cultura”. Os indígenas começaram a se arriscar nas primeiras rimas depois de ouvir rap num programa de rádio. Gravavam tudo numa fita e iam repassando para os demais jovens da aldeia até que alguém teve a ideia de criar um grupo.
As canções falam sobre as reivindicações e os conflitos da comunidade nativa da maior reserva urbana do Brasil, que é vítima constante de violência na disputa pela demarcação de terras no Mato Grosso do Sul. “O rap é nossa ferramenta para denunciar o que acontece e também serve para nos defender e para mostrar a realidade do povo no Mato Grosso do Sul e de outros estados”.
Ouça aqui uma das músicas dos Bro MC's:


PEC 215
O grupo de rap participou nesta quarta-feira (28) de uma mesa sobre produção cultural nos Jogos Mundiais Indígnas (JMPI) em Palmas (TO) e comentou a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 215/00, que altera as regras para a demarcação de terras indígenas, de remanescentes de comunidades quilombolas e de reservas.”A gente ficou muito triste. Eles (os deputados que votaram pela aprovação) acham que nós estamos atrapalhando. A gente não quer tomar a terra do outro, a gente só quer a posse da terra onde nossos antepassados morreram”, fala Bruno.
Apesar de divulgarem suas canções online, em um canal do YouTube, o grupo ficou surpreso com a recepção calorosa que recebeu nos JMPI. Durante a apresentação dos Bro MC’s, muitos parantes, como são chamados os indígenas de outra etnia, cantaram as rimas em coro. “A gente não tem dimensão de até onde nossa música tem chegado e foi muito gratificante estar aqui ouvir as pessoas e poder mostrar nosso som. Mostrar que a gente também é capaz e não vamos ficar só dentro de uma oca, segurando uma flechinha”.  
Fonte: http://www.brasildefato.com.br/
30/10/2015