São esperadas mais de duas mil
pessoas para evento no dia 21 de janeiro, Dia Nacional de Combate à
Intolerância Religiosa.
Por Norma Odara,De São Paulo (SP)
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O Brasil estabeleceu o princípio da separação entre
Estado e Igreja desde a Proclamação da República, em 15 de novembro de 1889. O
princípio da laicidade foi reafirmado na Constituição de 1988, mas desde então
não vem sendo cumprido.
Grupos e vertentes de diferentes religiões se
encontrarão na próxima quinta-feira (21), no Vão Livre do Masp, às 19h, contra
a intolerância religiosa. Para os grupos, durante 2015, a questão se agravou. A
expectativa é reunir duas mil pessoas.
Roger Cipó, que professa o candomblé, é mobilizador
do ato e tem projetos fotográficos e pesquisas que buscam desmistificar as
religiões de matriz africana, quebrando estereótipos e revelando a crença,
concepções, luta e dignidade do povo negro.
“Quero evidenciar que estamos indo para rua no
sentindo de, juntos, mostrarmos que o povo de santo é uma unidade. Queremos
mostrar nossa força de organização para a sociedade. A gente precisa ser visto
e mostrar nossos direitos. Vamos todos de branco, porque o branco é o símbolo
universal da paz - a paz entre os povos, a paz entre as religiões - e o símbolo
universal da nossa religião”, afirma.
Apoio
Para a monja Coen, que reside no templo budista
Tenzui Zenji, em São Paulo, onde é presidenta do Conselho Religioso da
Comunidade Zen Budista Zendo Brasil e do ViaZen/VilaZen do Rio Grande do Sul,
são lamentáveis as demonstrações de ódio e intolerância contra as religiões de
matrizes africanas. “É preciso educar, conhecer para respeitar. Muitas pessoas
desconhecem outras tradições espirituais e limitadas pela ignorância, atacam,
insultam. Geralmente as pessoas mais fracas são as mais agressivas e abusivas.
Quem discrimina, é intolerante, não é um ser humano forte. Pelo contrário, deve
ser apiedado e reeducado, pois desconhece e teme por desconhecer”, afirma a
monja.
Franklin Felix é espírita e um dos idealizadores do
Movimento Espírita pelos Direitos Humanos e facilitador regional da Rede
Ecumênica da Juventude (Reju). Ele participará do ato na quinta-feira e tem
mobilizado sua comunidade para luta pelo Estado Laico e contra a intolerância:
“Temos utilizado, como forma de mobilizar, nosso programa Mutirão, na Rede Boa
Nova de Rádio e a fanpage Espiritismo e Direitos Humanos. Como Reju, estamos
protagonizando a campanha '#VistoBranco', '#ContraaIntolerância' e'
#EstadoLaicoDeFato'”, finaliza.
Violência
O dia 21 de setembro é, desde 2007, o dia Nacional
de Combate à Intolerância Religiosa, em homenagem a ialorixá Gildásia dos
Santos, que veio a falecer depois de ter seu terreiro invadido por evangélicos,
que depredaram o espaço e agrediram seu marido física e verbalmente.
Dados de um relatório preliminar da Comissão de
Combate a Intolerância Religiosa (CCIR), divulgados em 2015 revelam que, de
janeiro de 2011 a junho de 2015, o disque 100 da Secretaria de Direitos Humanos
da Presidência da República recebeu 462 denúncias sobre discriminação
religiosa. Além disso, o documento mostra um aumento na intolerância religiosa
virtual.
As denúncias envolvendo religiões de matrizes
africanas são as mais registradas. O Centro de Promoção de Liberdade Religiosa
e Direitos Humanos (Ceplir) diz que quase mil casos de intolerância religiosa
foram registrados no Rio de Janeiro, entre julho de 2012 e dezembro de 2014.
Destes casos, cerca de 71% são de intolerância contra religiões
afro-brasileiras.
Resistência
A Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo
aprovou o dia das Tradições das Raízes de Matrizes Africanas e Nações da
Umbanda e do Candomblé. O Projeto de Lei 1552/2015, de autoria da Deputada
Estadual Clélia Gomes (PHS), foi sancionado pelo governador do estado de São
Paulo e garante o dia 30 de setembro para os festejos.
Em sua página a deputada comenta
a importância da aprovação da data e a memória de religiões seculares e
preteridas no Brasil: “O povo de Candomblé e da Umbanda, bem como todos os
povos tradicionais do Brasil, necessita e merece ter espaço e voz no nosso
país. E nada mais reconhecedor do que se instituir o Dia das Tradições das
Raízes de Matrizes Africanas e Nações da Umbanda e Candomblé”.
Fonte: http://www.brasildefato.com.br/
20/01/2016
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