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quarta-feira, 22 de junho de 2016

FALTA DE REPRESENTATIVIDADE NEGRA CAUSA MORTE SIMBÓLICA, APONTA CRIADORA DO UBUNTU

Monique Evelle, jovem negra e empreendedora, participou de debate sobre mídia e empoderamento negro no Festival Afreaka.
Nadine Nascimento,  São Paulo

Monique é responsável pela criação da organização Desabafo Social e da rede social “Ubuntu” / Divulgação
O Festival Afreaka: encontros de Brasil e África Contemporânea realizou uma roda de debates sobre “Mídias e ferramentas sociais digitais para o empoderamento negro” nesta terça-feira (21), na região central de São Paulo. A mesa contou com a comunicadora e empreendedora baiana Monique Evellena.
Monique, 21 anos, é responsável pela criação da organização Desabafo Social e da “Ubuntu”, a primeira rede social de aprendizagem colaborativa do Brasil e espaço de troca de conteúdo e experiências sobre a história da cultura afro-brasileira. Monique está na lista das “30 mulheres com menos de 30 anos para ficar de olho”, feita pela Revista Cláudia e o Portal M de Mulher.
“Ubuntu”, expressão da língua Zulu, significa “Eu sou porque nós somos”, filosofia seguida a risca pela ativista, que enxerga “a união como chave para a promoção de debates e de novas políticas sociorraciais”. Por isso, o evento promovido pelo Festival teve um tom intimista, em um espaço de reflexão sobre a questão negra dentro dos movimentos sociais, da universidade e redes, com direito a depoimentos de experiências pessoais dos presentes. 
“Onde as hashtags não chegam”
O tom de quase toda a discussão foi de questionamento sobre o fato de o “empoderamento” negro muitas vezes se dar em lugares não tão acessíveis, como nas universidades e redes sociais, já que a população negra é minoria nos cursos superiores e cerca da metade da população brasileira ainda não tem acesso à internet. Para ela, é preciso levar esse conhecimento “onde as hashtags não chegam”, lembrando uma expressão da filósofa Djamila Ribeiro.
“Quando criamos o Desabafo Social, não fomos para as redes primeiro, fomos para as ruas. Porque na internet fazemos esse debate sempre com quem já é adepto da militância. Temos que pensar para quem estamos falando. E a maioria dos brasileiros não tem acesso à internet”, afirmou.
Para a jovem empreendedora, antes de qualquer coisa, os negros devem se reconhecer como tal para só assim conseguirem lutar por políticas sociorraciais. “O entender-se como negro é um processo difícil e está relacionado com entender também todo um processo histórico. Após 350 anos de escravidão, muitas coisas nos foram negadas. Hoje relativamente podemos escolher se vamos ou não entrar na universidade. Precisamos pensar como dialogar com a periferia. Será que quando vamos para as universidades sabemos dialogar com a periferia de onde viemos?”, questionou.
A militante também falou em “mortes simbólicas” que, segundo ela, representam todas as violências psicológicas às quais a comunidade negra está sujeita diariamente. “Alguns militantes acreditam que não podemos discutir morte simbólica, enquanto a juventude negra está morrendo de verdade. Mas quando ocupamos um espaço com falta de representatividade, ou seja, majoritariamente branco, hétero, cis e elitista, isso nos adoece e vamos morrendo por dentro.”
O racismo, de acordo com Monique, se perpetuaria pela dificuldade da sociedade brasileira em lidar ele, preferindo sempre negar sua existência. Por isso, seria necessário paciência e persistência na militância negra ao falar sobre a desigualdade racial. 
“Vivemos a vida toda sendo silenciados e agora não queremos mais dialogar, queremos explodir. Quando um branco fala algo que não gostamos, a gente logo bloqueia. O problema é que seria o único momento que a gente poderia dialogar com aquela pessoa. Precisamos equilibrar. É difícil ficar ouvindo racista até o final, queremos atacar, mas precisamos ter paciência. Dá para perceber quando a pessoas estão falando aquilo por ignorância e o que podemos fazer é explicar e indicar textos ou filmes sobre o assunto”, acredita.
Edição: José Eduardo Bernardes
FONTE: https://www.brasildefato.com.br

22 de Junho de 2016

segunda-feira, 20 de junho de 2016

LANÇAMENTO DE LIVRO TRAZ DEBATE SOBRE MACHISMO E RACISMO PARA SÃO PAULO

Livro "O Sabá e o Sertão" retrata perseguição a mulheres, negros e indígenas no Brasil colonial.
  Redação Nadine Nascimento
Debate "Feitiçaria, Misoginia, Feminismo e Negritude" acontece na Livraria Martins Fontes, na região central de São Paulo / Reprodução
  
Para reforçar o debate sobre a questão feminina no Brasil, a historiadora Carolina Rocha vem a São Paulo na próxima segunda-feira (20), às 19:00h, para lançar o livro "O Sabá do Sertão: Feiticeiras, Demônios e Jesuítas no Piauí Colonial (1750-1758)". O lançamento acontece na livraria Martins Fontes, na Avenida Paulista. O livro é fruto da dissertação de mestrado da historiadora e trata da religiosidade popular do país e também da "condição subjugada das mulheres, principalmente das negras e indígenas, escravizadas durante a colonização". O livro está disponível para venda online no site da editora  Paco Editorial, mas poderá ser adquirido no dia do evento.
"Acredito que a história é muito importante para o movimento feminista, pois podemos entender como foi construído ao longo do tempo a ideia, implícita em todo discurso machista, de que a mulher é o sexo frágil, inferior, que é desequilibrada. E como um ser inferior e errante, ela sempre vai precisar de um tutor masculino", lamenta a autora.
Para Carolina, o Cristianismo foi um elemento importante para a propagação da ideia de inferioridade feminina e que traz consequências até hoje. "O Cristianismo passa a ideia de que a mulher deve ser submissa, primeiro ao pai, que passa isso para o marido, e se a mulher não tiver marido, para Jesus, ou seja, essa mulher deve ir para um convento. A mulher sozinha, independente, que não casou, que não está sob tutela masculina, é uma mulher perigosa", afirma.
Segundo a autora, é isso que dá continuidade à violência contra as mulheres hoje. "Essa ideia de inferioridade feminina, profundamente machista e misógina, diz que os corpos das mulheres são vulneráveis e passíveis de serem violados, agredidos e abusados".
Debate
Durante o lançamento do livro, a autora Carolina Rocha se junta à militante da Marcha Mundial das Mulheres, Mirian Nobre e à feminista e professora da Faculdade Cásper Líbero, Bianca Santana, para um debate sobre "Feitiçaria, Misoginia, Feminismo e Negritude". Elas falarão sobre como o catolicismo, ao longo da história do Brasil, teria contribuído para reafirmar o racismo e o machismo.
Fonte: www.brasildefato.com.br

20 de Junho de 2016 

CINCO PROFESSORES E UM JORNALISTA MORREM APÓS FORTE REPRESSÃO EM OAXACA, NO MÉXICO

Forças policiais atacam manifestantes, em greve desde o último dia 15 de maio, contra reformas propostas por Peña Nieto.
Redação

Durante manifestações deste domingo (19), redes sociais circularam vídeos e imagens da forte repressão policial / Resumen Latinoamericano
Trabalhadores que integram a Confederação Nacional de Trabalhadores da Educação (CNTE) do México iniciaram, no último dia 15 de maio, após três anos de luta, uma greve geral para dizer não a reforma educacional proposta pelo governo do presidente Enrique Peña Nieto, que prevê cortes nos direitos trabalhistas. Segundo Graciela Rangel Santiago, responsável de relações exteriores da CNTE, a luta dos docentes é contra uma reforma que “não tem nada de educativa”. Em contato com o Brasil de Fato, Graciela explicou que a CNTE resistirá incansavelmente contra essa proposta, que pretende atacar os direitos conquistados.
A greve dos professores atinge 28 dos 32 Estados mexicanos, mas se concentra nos estados do sul, em Chiapas, Oaxaca e Michoacan. No domingo (19), forças da polícia estadual de Oaxaca e a polícia federal mexicana se dirigiram à Asunción Nochixtlán, município próximo a capital oaxaqueña, para despejar os professores que bloqueavam a estrada Oaxaca-México como forma de protesto. 
De acordo com o jornal La Jornada, a operação repressiva começou por volta das 10h30minh e se estendeu até o inicio da noite, deixando como saldo 6 mortos, mais de 90 feridos e 21 detidos. A ação policial, que contou com armas de fogo, bombas de gás lacrimogênio, helicópteros e centenas de agentes, fez da estrada um campo de batalha. Os manifestantes resistiram, com o apoio de pais, alunos e pessoas contrárias à reforma, que ajudaram a construir barricadas para evitar a aproximação dos policiais.
A CNTE informou que cinco dos mortos eram professores (Andrés Aguilar, de 29 anos; Yalid Jiménez, de 22; Óscar Santiago, de 22; Jesús Cadena, de 19 e Anselmo Cruz, sem idade divulgada). O outro morto durante o ataque foi o repórter local Elpidio Ramos, que fazia a cobertura do confronto para o jornal regional El Sur
Por volta da meia noite, a Comissão Nacional de Direitos Humanos (CNDH) emitiu um comunicado informando que serão tomadas medidas cautelares para garantir a adequada atenção médica dos feridos, assim como garantir que a lei seja respeitada “conforme os protocolos e os padrões internacionais, privilegiando a todo o momento o diálogo”. A Comissão enviará peritos e pessoal de apoio à Oaxaca para vigiar a legalidade das  operações. 

Fonte: www.brasildefato.com.br

20 de Junho de 2016 

sexta-feira, 10 de junho de 2016

POLÍTICA PARA TERRAS QUILOMBOLAS FOI TRANSFERIDA DE MINISTÉRIO TRÊS VEZES

Em menos de um mês, Temer passou a competência para o MEC, para o MDSA e, por fim, para a Casa Civil.
Júlia Dolce da  Redação


A organização e o movimento quilombola no geral não reconhecem o governo Temer como legítimo / Reprodução/Ministério do Desenvolvimento Agrário
As sucessivas mudanças de competência da atribuição e regularização de terras quilombolas no país têm sido motivos de críticas pelo movimento quilombola. Controlada pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma (INCRA), que fazia parte do Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário (MDSA) desde os anos 2000, a demarcação dessas terras já foi responsabilidade de três ministérios diferentes no primeiro mês de governo interino. 
A Medida Provisória 726, publicada no dia da posse de Temer (12 de maio), delegava a regularização das terras quilombolas ao novo Ministério da Educação e Cultura (MEC). Entretanto, a MP foi retificada no dia 20 de maio, voltando à pauta para o INCRA, que, por sua vez, passou a estar vinculado ao novo Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário. Finalmente, o Decreto 8.780 transferiu o INCRA e essa respectiva competência para a Casa Civil no dia 27 de maio.
Em maio, pouco antes da posse do presidente interino, foram publicadas pelo instituto cinco portarias de reconhecimento e três Relatórios Técnicos de Identificação e Delimitação (RTID). 
Já no dia 20 de maio, a Fundação Cultural Palmares, responsável pela certidão que autoriza o início do processo de regularização fundiária pelo INCRA, certificou 143 novas comunidades quilombolas no país. O movimento quilombola teme que o processo fique estancado pelas medidas tomadas pelo governo interino. 
Ilegitimidade
Segundo o representante da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Quilombolas (CONAQ), Denildo Rodrigues de Moraes, a organização e o movimento quilombola no geral não reconhecem o governo Temer como legítimo. "Todas as medidas tomadas pelo presidente interino até agora foram para diminuir os direitos historicamente e arduamente conquistados pelo nosso povo", afirmou.
"Primeiro moveram a política de quilombos para o MEC. O ministro da pasta é o democrata Mendonça Filho, um dos principais inimigos da luta quilombola. É no mínimo colocar a raposa para cuidar do galinheiro. É para acabar de vez com a política dos quilombos", denunciou Moraes. 
O DEM entrou na justiça em 2004 para questionar a constitucionalidade da definição contemporânea de quilombo e de territorialidade. Na Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 3239, o partido tentou reverter o Decreto 4887/2003, que regulamenta o procedimento de identificação, reconhecimento, demarcação e titulação das terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos.
"Depois, [a competência das terras] foi para o MDSA, mas sem nenhuma estrutura de como nós iríamos ficar. Hoje, a pauta se encontra na Casa Civil, onde nós temos vários decretos para ser assinados. Para nós, esse governo já começou errado porque não é um governo legítimo, e continua errado a partir do momento que toma medidas impopulares e mexe diretamente com o direito do povo brasileiro. A forma de construção desse governo, tanto da presidência quanto dos gestores compondo os cargos, não contempla o anseio democrático", destacou o coordenador.
Ato no dia 10
Moraes afirma ainda que o movimento quilombola planeja se juntar com outros movimentos populares nesta sexta-feira (10) para fazer ações contra o governo interino.
"Avançamos muito nos últimos treze anos, tanto na visibilidade do direito das comunidades quilombolas quanto no acesso à terra e a políticas públicas. Nós temos muito medo e vivemos numa insegurança total de retroagir os direitos conquistados". Segundo o coordenador do CONAQ, são aproximadamente 5 mil comunidades e 16 milhões de brasileiras e brasileiros quilombolas que serão afetados pelas medidas.
Ainda não foram esclarecidas as razões para a atribuição das políticas quilombolas à Casa Civil, órgão de assessoria à Presidência da República que tem atribuições relacionadas à integração das ações do Governo. Procurada pelo Brasil de Fato, a assessoria do órgão não se pronunciou sobre o assunto.

Fonte: https://www.brasildefato.com.br

09 de Junho de 2016

Edição: Camila Rodrigues da Silva