Monique Evelle, jovem negra e empreendedora, participou de debate sobre
mídia e empoderamento negro no Festival Afreaka.
Nadine Nascimento, São Paulo
Monique é responsável pela criação da organização Desabafo Social e da rede social “Ubuntu” / Divulgação |
O Festival Afreaka: encontros de
Brasil e África Contemporânea realizou uma roda de debates sobre “Mídias e
ferramentas sociais digitais para o empoderamento negro” nesta terça-feira
(21), na região central de São Paulo. A mesa contou com a comunicadora e
empreendedora baiana Monique Evellena.
Monique, 21 anos, é responsável pela
criação da organização Desabafo Social e da “Ubuntu”, a primeira rede social de aprendizagem
colaborativa do Brasil e espaço de troca de conteúdo e experiências sobre a
história da cultura afro-brasileira. Monique está na lista das “30 mulheres com
menos de 30 anos para ficar de olho”, feita pela Revista Cláudia e o Portal M
de Mulher.
“Ubuntu”, expressão da língua Zulu,
significa “Eu sou porque nós somos”, filosofia seguida a risca pela ativista,
que enxerga “a união como chave para a promoção de debates e de novas políticas
sociorraciais”. Por isso, o evento promovido pelo Festival teve um tom
intimista, em um espaço de reflexão sobre a questão negra dentro dos
movimentos sociais, da universidade e redes, com direito a depoimentos de
experiências pessoais dos presentes.
“Onde as hashtags não
chegam”
O tom de quase toda a discussão foi
de questionamento sobre o fato de o “empoderamento” negro muitas vezes se dar
em lugares não tão acessíveis, como nas universidades e redes sociais, já que a
população negra é minoria nos cursos superiores e cerca da metade da população
brasileira ainda não tem acesso à internet. Para ela, é preciso levar esse
conhecimento “onde as hashtags não
chegam”, lembrando uma expressão da filósofa Djamila Ribeiro.
“Quando criamos o Desabafo Social,
não fomos para as redes primeiro, fomos para as ruas. Porque na internet
fazemos esse debate sempre com quem já é adepto da militância. Temos que pensar
para quem estamos falando. E a maioria dos brasileiros não tem acesso à
internet”, afirmou.
Para a jovem empreendedora, antes de
qualquer coisa, os negros devem se reconhecer como tal para só assim
conseguirem lutar por políticas sociorraciais. “O entender-se como negro é um
processo difícil e está relacionado com entender também todo um processo
histórico. Após 350 anos de escravidão, muitas coisas nos foram negadas. Hoje
relativamente podemos escolher se vamos ou não entrar na universidade.
Precisamos pensar como dialogar com a periferia. Será que quando vamos para as
universidades sabemos dialogar com a periferia de onde viemos?”, questionou.
A militante também falou em “mortes
simbólicas” que, segundo ela, representam todas as violências psicológicas às
quais a comunidade negra está sujeita diariamente. “Alguns militantes acreditam
que não podemos discutir morte simbólica, enquanto a juventude negra está
morrendo de verdade. Mas quando ocupamos um espaço com falta de
representatividade, ou seja, majoritariamente branco, hétero, cis e elitista,
isso nos adoece e vamos morrendo por dentro.”
O racismo, de acordo com Monique, se
perpetuaria pela dificuldade da sociedade brasileira em lidar ele, preferindo
sempre negar sua existência. Por isso, seria necessário paciência e
persistência na militância negra ao falar sobre a desigualdade racial.
“Vivemos a vida toda sendo
silenciados e agora não queremos mais dialogar, queremos explodir. Quando um
branco fala algo que não gostamos, a gente logo bloqueia. O problema é que
seria o único momento que a gente poderia dialogar com aquela pessoa.
Precisamos equilibrar. É difícil ficar ouvindo racista até o final, queremos
atacar, mas precisamos ter paciência. Dá para perceber quando a pessoas estão
falando aquilo por ignorância e o que podemos fazer é explicar e indicar textos
ou filmes sobre o assunto”, acredita.
Edição:
José Eduardo Bernardes
FONTE: https://www.brasildefato.com.br
22 de Junho de 2016