Redação
São
Paulo (SP)
Brasil de Fato / Arte: Gabriela Lucena |
Hoje, nós mulheres negras celebramos
o Dia Internacional da Mulher Negra Afro-Latina e Caribenha e o Dia Nacional da
Mulher Negra, uma homenagem a luta da quilombola Tereza de Benguela.
As mulheres negras no Brasil são
muitas e diversas. Somos jovens, quilombolas, cotistas, feministas, cristãs,
lésbicas, militantes partidárias, mulheres trans, anarquistas, bissexuais,
idosas, representantes de povos tradicionais de matriz africana, trabalhadoras
domésticas, sem-terra, periféricas, imigrantes e refugiadas, rurais, mães,
autônomas…
Mulheres que, apesar da diversidade
que nos separa, juntas formamos uma camada sobrevivente da sociedade. Não está
fácil ser mulher e negra no Brasil, que a exemplo dos demais países
latino-americanos e diaspóricos, segue tradição escravocrata e colonialista.
Hoje, há 49 milhões de mulheres
negras brasileiras, que têm o protagonismo negativo de encabeçar os piores
índices de direitos humanos em todas as áreas: saúde, emprego, moradia, acesso
à educação, etc…
A nossa luta começa pelo primordial:
as mulheres negras querem viver! O feminicídio no Brasil também tem cor: houve
um aumento de 54% de assassinatos de mulheres negras. A cada 1 hora e 50
minutos uma mulher negra morre. Temos dificuldade de acessar a rede de proteção
contra a violência por motivos diversos pautados pelo racismo e pobreza.
Dados da situação da mulher negra na
sociedade brasileira revelam a urgência da articulação entre gênero e raça ser
pensada dentro das políticas públicas. Mulheres negras têm três vezes mais
chance de serem estupradas do que mulheres brancas, são as maiores vítimas de
violência doméstica, as que mais padecem por conta da criminalização do aborto,
sem falar na violência simbólica cotidiana, alimentada por uma mídia racista
que invisibiliza a participação na sociedade de mulheres negras, indígenas,
lésbicas e transexuais.
Foto: Da direita à esquerda Gisele Brito, Simone Freire, Juliana Gonçalves, Nadine Nascimento, Rute Pina, Norma Odara e Camila Rodrigues; jornalistas do Brasil de Fato.
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Pluralidade de
vozes e protagonismo feminino negro
A mídia hegemônica tem um lugar
reservado para a figura da mulher negra e este espaço simbólico e real nunca é
de protagonismo ou poder. Isso transparece desde os assuntos pautados até na
cor da maioria dos profissionais de mídia.
Segundo a Federação Nacional dos
Jornalistas (Fenaj) 23% dos jornalistas são negros e negras, embora não haja um
recorte de quantas negras atuam como profissionais de imprensa. Os dados
apontam que a maioria dos jornalistas brasileiros é formada por mulheres
brancas, solteiras e com até 30 anos de idade.
A ampliação da abordagem de jornais e
revistas com recorte étnico racial passa pela contratação de profissionais
negros. Dentro das redações, as jornalistas negras tendem a fazer a diferença.
“Nós, Mujeres”, o especial que entra no ar hoje no Brasil de Fato, é
prova disso. Somos sete mulheres negras, produzindo conteúdo em diversos cargos
desde a reportagem, passando pela edição, e pela coordenação política e
editorial.
Nesse especial buscamos dar voz a
seis mulheres negras de diferentes áreas. Vamos contar uma história por dia.
Além disso, vamos acompanhar as mobilizações de mulheres negras neste Dia 25 de
Julho, data marcada pelo contexto histórico de resistência feminina negra que
rememora Aqualtune, Acotirene, Luisa Mahin, Dandara, Maria Firmino dos Reis,
Carolina de Jesus, Maria Brandão dos Reis, Antonieta de Barros, Lélia Gonzales,
Beatriz Nascimento, Laudelina Campos, Theresa Santos, e tantas outras que aqui
chegaram e nasceram.
Entendemos que ao entrevistar as
brasileiras Jurema Werneck, Geni Guimarães, MC Soffia, Ialorixá Wand d’Oxum,
Lucia Udemezue e a cubana Maria Faguana, estamos dando visibilidade a essa luta
histórica das mulheres negras contra o privilégio branco que estrutura a
sociedade racista que vivemos.
Termos nossas vozes expandidas pelos
veículos de comunicação é algo essencial para ampliação da luta. Tendo em
vista, como traz Audre Lorde, “que não esperavam que sobrevivêssemos”, não só
sobrevivemos, como temos voz e exigimos espaços equânimes, pois temos certeza
de que se uma mulher negra avança ninguém ficou para trás.
Fonte: brasildefato.com.br
25 de
Julho de 2016