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segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

OS ALMIRANTES AFRO-INDIGENISTAS DA REGIÃO SALINEIRA GRITAM UNISSONAMENTE


Nas últimas décadas, a Região Salineira tem aparecido nas pautas socioeconômicas como um espaço gerador de grandes cifras econômicas no Estado do Rio Grande do Norte. Por outro lado também, apresenta dados estarrecedores e inaceitáveis no que diz respeito ao IDH (índice de desenvolvimento humano), está muito aquém de um espaço histórico-geográfico que prime pelo bem estar social de suas populações. Haja vista, que é uma Região administrada por gestores descompromissados com a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a proteção a maternidade e a infância.

Neste sentido, é preciso implementar urgentemente mudanças potencializadora na Região Salineira; pois, não poderemos permitir que grupos treinados e ceifadores de vidas humanas continuem com seus desmandos nesta plaga. Deste modo, é importante que tenhamos consciência que estamos nos aproximando de um  pleito eleitoral importantíssimo. Pleito eleitoral este que irá, possibilitar aos eleitores desta região escolher os seus representes para os próximos quatro anos.

Porém, não nos enganemos, a Região Salineira sob a alcunha deste pseudos-governantes, há tempos tornou-se um lugar de contrastes: riquezas nas mãos de uns poucos apaziguados e miséria e opressão povoando os lares dos menos favorecidos.

Contudo, este quadro que se apresenta hoje na Região Salineira é muito parecido com o vivenciado pela  Capital da República: o Rio de Janeir,o em 1910, que levou os marinheiros liderados pelo “almirante negro” João Cândido, na famosa “Revolta da Chibata”, a se revoltarem contra o governo recém-empossado Hermes da Fonseca. Apesar da historiografia tradicional insistir  em apontar esse movimento como uma sublevação somente contra o uso do chicote e dos castigos físicos que os marinheiros sofriam, mas que incompreensivelmente, não cita que fora uma revolta contra todo um sistema de miséria e opressão existente a época.

Enfim, como reflexão para os almirantes afro-indigenistas da Região Salineira, eis aí, um vídeo do cantor e compositor João Bosco fazendo uma homenagem ao “almirante negro” com a canção: O Mestre Sala dos Mares. Veja o clip da música abaixo. 



segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

DIVERSIDADE, IDENTIDADE E AFRICANIDADE


O texto que trouxemos esta semana para fazermos uma reflexão, mais uma vez é do escritor moçambicano Mia Couto. Texto esse que discorre sobre a diversidade, identidade e, sobretudo os conceitos equivocados de africanidade. Boa leitura a todos e uma produtiva semana.


Durante anos, dei aulas em diferentes faculdades da Universidade Eduardo Mondlane. Os meus colegas professores queixavam-se da progressiva falta de preparação dos estudantes. Eu notava algo que, para mim, era ainda mais grave: uma cada vez maior distanciação desses jovens em relação ao seu próprio país. Quando eles saíam de Maputo em trabalhos de campo, esses jovens comportavam-se como se estivessem emigrando para um universo estranho e adverso. Eles não sabiam as línguas, desconheciam os códigos culturais, sentiam-se deslocados e com saudades de Maputo. Alguns sofriam dos mesmos fantasmas dos exploradores coloniais: as feras, as cobras, os monstros invisíveis.  

Aquelas zonas rurais eram, afinal, o espaço onde viveram os seus avós, e todos os seus antepassados. Mas eles não se reconheciam como herdeiros desse patrimônio. O país deles era outro. Pior ainda: eles não gostavam desta outra nação. E ainda mais grave: sentiam vergonha de a ela estarem ligados. A verdade é simples: esses jovens estão mais à vontade dentro de um video-clip de Michael Jackson do que no quintal de um camponês moçambicano.  

O que se passa, e isso parece inevitável, é que estamos criando cidadanias diversas dentro de Moçambique. E existem várias categorias: há os urbanos, moradores da cidade alta, esses que foram mais vezes a Nelspruit que aos arredores da sua própria cidade. Depois, há uns que moram na periferia, os da chamada cidade baixa. E há ainda os rurais, os que são uma espécie de imagem desfocada do retrato nacional. Essa gente parece condenada a não ter rosto e falar pela voz de outros.  

(...) A pergunta é: será que esses diferentes Moçambiques falam uns com os outros? 
A nossa riqueza provém da nossa disponibilidade em efetuarmos trocas culturais com os outros. (...)

(...) Uma grande parte da visão que temos do passado do nosso país e do nosso continente é ditada pelos mesmos pressupostos que ergueram a história colonial. Ou melhor, a história colonizada. O que se fez foi colocar um sinal positivo onde o sinal era negativo. Persiste a ideia que Africa pré-colonial era um universo intemporal, sem conflitos nem disputas, um paraíso feito só de harmonias. (...) O modo maniqueísta e simplificador com que se redigiu o chamado “tempo que passou” teve, porém, outra consequência: fez persistir a ideia de que a responsabilidade única e exclusiva da criação da escravatura e do colonialismo cabe aos europeus. 

Quando os navegadores europeus começaram a encher de escravos os seus navios, eles não estavam estreando o comércio de criaturas humanas. A escravatura já tinha sido inventada em todos os continentes. Praticavam a escravatura os americanos, os europeus, os asiáticos e os próprios africanos. A escravatura foi uma invenção da espécie humana. O que sucedeu foi que o tráfico de escravos se converteu num sistema global e esse sistema passou a ser desenvolvido de forma a enriquecer o seu centro: a Europa e a América.   

(...) O colonialismo foi outro desastre cuja dimensão humana não pode ser aligeirada. Mas tal como a escravatura, também na dominação colonial houve mão de dentro. Diversas elites africanas foram coniventes e beneficiárias desse fenômeno histórico.  

Porque é que estou a falar disto? Porque eu creio que a História oficial do nosso continente foi sujeita a várias falsificações. A primeira e mais grosseira destinou-se a justificar a exploração que fez enriquecer a Europa. Mas outras falsificações se seguiram e parte delas destinaram-se a ocultar responsabilidades internas, a lavar a má consciência de grupos sociais africanos que participaram desde sempre na opressão dos povos e nações de África. Esta leitura deturpada do passado não é apenas um desvio teórico. Ela acaba por fomentar uma atitude de eterna vitima, sugere falsos inimigos e alianças sem princípios.  

É importante fazermos nova luz sobre o passado porque o que se passa hoje nos nossos países não é mais do que a atualização de conivências antigas entre a mão de dentro e a mão de fora. Estamos revivendo um passado que nos chega tão distorcido que não somos capazes de o reconhecer. Não estamos muito longe dos estudantes universitários que ao saírem de Maputo já não se reconhecem como sucessores dos mais velhos.  

Se o passado nos chega deformado, o presente deságua em nossas vidas de forma incompleta. Alguns vivem isso como um drama. E partem em corrida nervosa à procura daquilo que chamam a nossa identidade. (...)  

(...) Mas a pergunta é: o que é verdadeiramente nosso? Há aqui alguns mal-entendidos. Por exemplo: uns acreditam que a capulana é um vestuário originário, tipicamente moçambicano. Fiz por diversas vezes esta pergunta a estudantes universitários: que frutos são os nossos por oposição ao morango, ao pêssego, à maçã? As respostas, uma outra vez, são curiosas. As pessoas acreditam que são originariamente africanos: o caju, a manga, a goiaba, a papaia. E por aí fora. Ora nenhum desses frutos é nosso, no sentido de ser natural do continente. Outras vezes, sugere-se que a nossa afirmação se faça na base de vegetais usados na nossa culinária. O emblema do tipicamente nacional passa agora para o coco, a mandioca, a batata doce, o amendoim. Tudo produtos que foram introduzidos em Moçambique e em África. Mas aqui se coloca a questão: essas coisas acabam sendo nossas porque, para além da sua origem, lhes demos a volta e as refabricamos à nossa maneira. A capulana pode ter origem exterior, mas é moçambicana pelo modo como a amarramos. E pelo modo como esse pano passou a falar conosco. O coco é indonésio, a mandioca é mais latino-americana que a Jennifer Lopez, mas o prato que preparamos é nosso porque o fomos caldeando à nossa maneira. (...)

(...) Numa Conferencia em que este ano participei na Europa, alguém me perguntou: o que é, para si, ser africano? 

E eu lhe perguntei, de volta: E para si, o que é ser europeu? 

Ele não sabia responder. Também ninguém sabe exatamente o que é africanidade. (...) 

(...) As definições apressadas da africanidade assentam numa base exótica, como se os africanos fossem particularmente diferentes dos outros, ou como se as suas diferenças fossem o resultado de um dado de essência.  

África não pode ser  reduzida a uma entidade simples, fácil de entender. O nosso continente é feito de profunda diversidade e de complexas mestiçagens. Longas e irreversíveis misturas de culturas moldaram um mosaico de diferenças que são um dos mais valiosos patrimônios do nosso continente.  Quando mencionamos essas mestiçagens falamos com algum receio como se o produto híbrido fosse qualquer coisa menos pura. Mas não existe pureza quando se fala da espécie humana.  Os senhores dizem que não há economia atual que não se alicerce em trocas. Pois não há cultura humana que não se fundamente em profundas trocas de alma.


(...) Confrontados com as nossas mais fundas fragilidades, cabe-nos criar um novo olhar, inventar outras falas, ensaiar outras escritas.  Vamos ficando, cada vez mais, a sós com a nossa própria responsabilidade histórica de criar uma outra História.  Nós não podemos mendigar ao mundo uma outra imagem. Não podemos insistir numa atitude apelativa. A nossa única saída é continuar o difícil e longo caminho de conquistar um lugar digno para nós e para a nossa pátria. E esse lugar só pode resultar da nossa própria criação.

COUTO, Mia. Economia - a fronteira da cultura (2003). Disponível em: http://www.macua.org/miacouto/Mia_Couto_Amecom2003.html. Acessado em 20 de janeiro de 2012.

domingo, 15 de janeiro de 2012

DOMINGO MÁGICO






Céu azul, visibilidade boa, ondas que vão e vem e o sol partindo e deixando esse lindo arrebol que serpenteia imagens transcendentais para nós, pobres mortais. Eu aqui nesta paradisíaca praia a balançar-me numa rede de varanda desta rústica choupana perco-me na imensidão destas pinturas vespertinas. Ora, além, deste momento mágico vivido por este humilde poeta, acrescentaria ainda mais, esse belíssimo texto enviado pela acadêmica do IFRN do Campus de Ipanguaçu a sempre atuante e intelectual Jailma Lopes, aluna do curso de Informática, do escritor Mia Couto, considerado um dos mais importantes de Moçambique; e, diga-se de passagem, é o escritor moçambicano mais traduzido. Pois, de acordo com ela este texto fora lido por Mia Couto na Conferência de Estoril. Conferência que discute a questão da segurança. Eis aí, leiam e distribuam com seus pares boa semana a todos... Ou se preferir ver e ouvir o próprio escritor lendo o texto, veja o vídeo no final desta postagem.


Mudar o medo - Mia Couto

O medo foi um dos meus primeiros mestres. Antes de ganhar confiança em celestiais criaturas, aprendi a temer monstros, fantasmas e demônios. Os anjos, quando chegaram, já era para me guardarem, os anjos atuavam como uma espécie de agentes de segurança privada das almas. Nem sempre os que me protegiam sabiam da diferença entre sentimento e realidade. Isso acontecia, por exemplo, quando me ensinavam a recear os desconhecidos. Na realidade, a maior parte da violência contra as crianças sempre foi praticada não por estranhos, mas por parentes e conhecidos.
Os fantasmas que serviam na minha infância reproduziam esse velho engano de que estamos mais seguros em ambientes que reconhecemos. Os meus anjos da guarda tinham a ingenuidade de acreditar que eu estaria mais protegido apenas por não me aventurar para além da fronteira da minha língua, da minha cultura, do meu território. O medo foi, afinal, o mestre que mais me fez desaprender. Quando deixei a minha casa natal, uma invisível mão roubava-me a coragem de viver e a audácia de ser eu mesmo. No horizonte vislumbravam-se mais muros do que estradas. Nessa altura, algo me sugeria o seguinte: que há neste mundo mais medo de coisas más do que coisas más propriamente ditas. No Moçambique colonial em que nasci e cresci, a narrativa do medo tinha um invejável casting internacional: os chineses que comiam crianças, os chamados terroristas que lutavam pela independência do país, e um ateu barbudo com um nome alemão.
Esses fantasmas tiveram o fim de todos os fantasmas: morreram quando morreu o medo. Os chineses abriram restaurantes junto à nossa porta, os ditos terroristas são governantes respeitáveis e Karl Marx, o ateu barbudo, é um simpático avô que não deixou descendência. O preço dessa narrativa de terror foi, no entanto, trágico para o continente africano. Em nome da luta contra o comunismo cometeram-se as mais indizíveis barbaridades. Em nome da segurança mundial foram colocados e conservados no Poder alguns dos ditadores mais sanguinários de toda a história.
A mais grave herança dessa longa intervenção externa é a facilidade com que as elites africanas continuam a culpar os outros pelos seus próprios fracassos. A Guerra-Fria esfriou mas o maniqueísmo que a sustinha não desarmou, inventando rapidamente outras geografias do medo, a Oriente e a Ocidente. Para responder às novas entidades demoníacas não bastam os seculares meios de governação. Precisamos de investimento divino, precisamos de intervenção de poderes que estão para além da força humana. O que era ideologia passou a ser crença, o que era política tornou-se religião, o que era religião passou a ser estratégia de poder. Para fabricar armas é preciso fabricar inimigos.
Para produzir inimigos é imperioso sustentar fantasmas. A manutenção desse alvoroço requer um dispendioso aparato e um batalhão de especialistas que, em segredo, tomam decisões em nosso nome. Eis o que nos dizem: para superarmos as ameaças domésticas precisamos de mais polícia, mais prisões, mais segurança privada e menos privacidade.
Para enfrentarmos as ameaças globais precisamos de mais exércitos, mais serviços secretos e a suspensão temporária da nossa cidadania. Todos sabemos que o caminho verdadeiro tem que ser outro. Todos sabemos que esse outro caminho começaria pelo desejo de conhecermos melhor esses que, de um e do outro lado, aprendemos a chamar de “eles”.
Aos adversários políticos e militares, juntam-se agora o clima, a demografia e as epidemias. O sentimento que se criou é o seguinte: a realidade é perigosa, a natureza é traiçoeira e a humanidade é imprevisível. Vivemos – como cidadãos e como espécie – em permanente limiar de emergência. Como em qualquer estado de sítio, as liberdades individuais devem ser contidas, a privacidade pode ser invadida e a racionalidade deve ser suspensa.
Todas estas restrições servem para que não sejam feitas perguntas incomodas como estas: porque motivo a crise financeira não atingiu a indústria de armamento? Porque motivo se gastou, apenas o ano passado, um trilhão e meio de dólares com armamento militar? Porque razão os que hoje tentam proteger os civis na Líbia, são exatamente os que mais armas venderam ao regime do coronel Kadaffi? Porque motivo se realizam mais seminários sobre segurança do que sobre justiça? Se queremos resolver (e não apenas discutir) a segurança mundial – teremos que enfrentar ameaças bem reais e urgentes.
Há uma arma de destruição massiva que está sendo usada todos os dias, em todo o mundo, sem que seja preciso o pretexto da guerra. Essa arma chama-se fome. Em pleno século 21, um em cada seis seres humanos passa fome.
O custo para superar a fome mundial seria uma fração muito pequena do que se gasta em armamento. A fome será, sem dúvida, a maior causa de insegurança do nosso tempo. Mencionarei ainda outra silenciada violência: em todo o mundo, uma em cada três mulheres foi ou será vítima de violência física ou sexual durante o seu tempo de vida. É verdade que sobre uma grande parte de nosso planeta pesa uma condenação antecipada pelo fato simples de serem mulheres.
A nossa indignação, porém, é bem menor que o medo. Sem darmos conta, fomos convertidos em soldados de um exército sem nome, e como militares sem farda deixamos de questionar. Deixamos de fazer perguntas e de discutir razões.
As questões de ética são esquecidas porque está provada a barbaridade dos outros. E porque estamos em guerra, não temos que fazer prova de coerência, nem de ética e nem de legalidade. É sintomático que a única construção humana que pode ser vista do espaço seja uma muralha.
A chamada Grande Muralha foi erguida para proteger a China das guerras e das invasões. A Muralha não evitou conflitos nem parou os invasores. Possivelmente, morreram mais chineses construindo a Muralha do que vítimas das invasões que realmente aconteceram. Diz-se que alguns dos trabalhadores que morreram foram emparedados na sua própria construção. Esses corpos convertidos em muro e pedra são uma metáfora de quanto o medo nos pode aprisionar. Há muros que separam nações, há muros que dividem pobres e ricos.
Mas não há hoje no mundo, muro que separe os que têm medo dos que não têm medo. Sob as mesmas nuvens cinzentas vivemos todos nós do sul e do norte, do ocidente e do oriente. Eduardo Galeano escreveu sobre o medo global: "Os que trabalham têm medo de perder o trabalho. Os que não trabalham têm medo de nunca encontrar trabalho. Quando não têm medo da fome, têm medo da comida. Os civis têm medo dos militares, os militares têm medo da falta de armas, as armas têm medo da falta de guerras". E, se calhar, acrescento agora eu, há quem tenha medo que o medo acabe.

Vídeo: Conferências do Estoril 2011 - Mia Couto

 

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

FELIZ ANO NOVO ÀS MENTES VIVAS



Objetivando informar e atender a comunidade letrada e iletrada da Região Salineira/RN e deste Brasil afora, no que tange à respeitabilidade e aplicabilidade Lei 11.645 de 10 de março de 2008, que orienta os estabelecimentos de Ensino Fundamental e de Ensino Médio, públicos e privados, a obrigatoriedade do estudo da história e da cultura afro-indigenista brasileira. Debruçamos-nos neste pequeno texto. Sobretudo, movido pelo grito das populações menos favorecidas que sem vez e sem vozes agonizam ante a tirania destes governantes boçais, passivos e impiedosos que se disseminam por esses 5.564 municípios do país.
Dentre os vários motivos para que a aplicabilidade desta Lei seja uníssona mundo afora, a intolerância talvez seja a palavra que estejamos buscando, para que possamos compreender o comportamento de parte significativa dos ditos “humanos e civilizados” no que diz respeito às populações afros e as populações indigenistas brasileiras. Esse tipo de procedimento comportamental violenta o convívio humano e societável. Talvez o primeiro espanto que oferecemos nesta prosa seja o mais simples: o etnocentrismo (tendência a considerar as normas e valores da própria sociedade ou cultura como critério de avaliação de todas as demais (Ferreira, 2000:300)), ainda que pouco dele se saiba. Afinal, aceitar o outro e a sua cultura como ela é posta parece ser o grande dilema deste mundo globalizado. Ora, mas será que fazermos diariamente algum exercício neste sentido, ou só seguimos essas mentes vazias com atos primitivos e irracionais?
Visando instigar e até mesmo provocar esses ditos “humanos e civilizados”, elaborou-se este instrumento a partir de uma necessidade que temos de trabalhar conteúdos consistentes que mostrem que os afro-indigenistas contribuíram e contribuem de forma potencial para a dita civilização “moderna”, não só com mão de obra, mas, sobretudo com a sua cultura, o seu pensamento e principalmente com seus atributos artísticos e científicos.
Assim sendo, o objetivo primordial na exigência de uma concepção racionalista e humanista com as populações afro-indigenistas é nos conscientizarmos que, se faz necessário lutarmos incessantemente contra a discriminação, seja ela qual for, contra quaisquer sejam os povos. E deste modo evitar, absurdo como o que acontecera no Estado do Maranhão quando pelo mês de outubro de 2011, quando na ocasião uma criança do grupo indigenista Awa-Guajá (povos que vivem isolados do contato com os brancos e que são essencialmente coletores) dentro do seu próprio habitat natural (Terra Indigenista de Arariboia (em tupi significa cobra da água – fora um chefe da tribo dos terminós, do grupo indígena tupi, no segundo quartel do século XVI. O seu habitat natural era a Ilha de Paranapuã- atual Ilha do governador, na Baia da Guanabara/RJ)) perversamente fora queimada por madeireiros (até parece que estamos retrocedendo ao período medieval quando existia caça as bruxas e fogueiras de hereges, eis aí a história se repetindo através de uma tragédia) que vivem espoliando nossas florestas para atender os ditames desse capitalismo selvagem em detrimento do bem estar social destas populações, que há tempos sofrem com essa tirania.
Enfim, encerro essa pequena reflexão deixando na íntegra a Lei 11.645/08, porém, não esqueçam que, mais eficaz do que uma simples Lei é enxergarmos o outro com coração:

Presidência da República 
Casa Civil 
Subchefia para Assuntos Jurídico

Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, modificada pela Lei no 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 1o  O art. 26-A da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar com a seguinte redação:
Art. 26-A.  Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio, públicos e privados, torna-se obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena.
§ 1o  O conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá diversos aspectos da história e da cultura que caracterizam a formação da população brasileira, a partir desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes à história do Brasil.
§ 2o  Os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira e dos povos indígenas brasileiros serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de educação artística e de literatura e história brasileiras.” (NR)
Art. 2o  Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Brasília,  10  de  março  de 2008; 187o da Independência e 120o da República.
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
Fernando Haddad
Este texto não substitui o publicado no DOU de 11.3.2008.