Mineradoras, bancos privados, seguradoras,
corporações e empresas do agronegócio também estão entre os doadores. Os dados
são públicos e constam na página virtual do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
|
Indígenas do MS protestam em Brasília | Crédito: Marcelo Camargo/ABr |
Empresas envolvidas no escândalo da Operação Lava
Jato, investigação que apura o desvio de recursos da Petrobras para o pagamento
de propina a políticos e lavagem de dinheiro, estão entre as doadoras das
campanhas eleitorais de parlamentares ruralistas da Assembleia Legislativa do
Mato Grosso do Sul, nas eleições de 2014, e que integram a Comissão Parlamentar
de Inquérito (CPI) que pretende investigar as atividades do Conselho
Indigenista Missionário (Cimi) no estado. Mineradoras, bancos privados, seguradoras,
corporações e empresas do agronegócio também estão entre os doadores. Os dados
são públicos e constam na página virtual do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
As construtoras UTC, Andrade Gutierrez e Queiroz
Galvão, cujos principais executivos estão detidos ou indiciados, investiram em
campanhas políticas ligadas ao agronegócio sul-mato-grossense. A Lava Jato teve
início em março de 2014, ou seja, sete meses antes das eleições. Um dos
principais beneficiados é o deputado Paulo Corrêa (PR), que recebeu das três
empresas um montante que somado supera os R$ 300 mil.
Corrêa será o relator da chamada ‘CPI do Cimi’,
Comissão Parlamentar de Inquérito que pretende investigar as relações da
organização indigenista com as retomadas dos povos indígenas de terras tradicionais
no estado. A parlamentar ruralista Mara Caseiro (PTdoB) presidirá a CPI, que
terá como vice-presidente Marquinhos Trad (PMDB), também ligado ao ruralismo
sul-mato-grossense. As funções foram definidos na tarde desta quarta-feira, 30.
Juntos, os parlamentares receberam R$ 2.454.542,06
milhões em doações. Desse total, o relator da ‘CPI do Cimi’, deputado Paulo
Corrêa, declarou ao TSE o montante de R$ 769.515, 50 - as construtoras UTC,
Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa financiaram, aproximadamente, 40% da
campanha declarada pelo parlamentar ao TSE. O restante partiu de empresas
ligadas à cadeia do agronegócio e demais doadores.
A presidente e inventora da ‘CPI do Cimi’, deputada
Mara Caseiro, declarou ter recebido em doações para a campanha de 2014 o valor
de R$ 607.238,65. Mara não recebeu recursos diretos de nenhuma empresa ou
construtora, apenas por terceiros. Por exemplo, indivíduos com o sobrenome do
vice-presidente da CPI, deputado Marquinhos Trad, repassaram para Mara dois
cheques com dinheiro da JBS, o grupo dono da Friboi, totalizando R$ 26 mil. Na
conta de campanha de Mara chegou, por intermédio de Nelson Trad Filho,
ex-prefeito de Campo Grande (MS), um cheque do empresário João Roberto Baird,
que é acusado de participar de um esquema de desvio de R$ 48,7 milhões do
Detran do Mato Grosso do Sul. Baird, até setembro de 2014, era o nono maior
doador individual das eleições, tendo repassado R$ 1,08 milhão para diferentes
siglas partidárias.
A deputada federal Tereza Cristina Corrêa (PSB/MS)
também repassou doações de empresas para a campanha de Mara Caseiro, perto de
R$ 125 mil da Iaco Agrícola S/A e da Energética Santa Helena S/A, uma usina de
produção de etanol. Tereza Cristina estava na reunião do Sindicato Rural de
Antônio João, no último dia 29 de agosto, quando Roseli Maria Ruiz, presidente
do sindicato, acabou com o encontro convocando os fazendeiros para o ataque que
culminou no assassinato de Semião Vilhalva Guarani e Kaiowá, na Terra Indígena
Ñanderú Marangatú.
Já a senadora Simone Tebet (PMDB/MS), uma das
principais defensoras da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 71, que
pretende transformar em parágrafo constitucional o pagamento da chamada ‘terra
nua’ aos fazendeiros com propriedades em terras indígenas, enviou para Mara um
outro cheque da JBS de R$ 25 mil.
Marquinhos Trad, do triunvirato que dirigirá os
trabalhos da ‘CPI do Cimi’, foi quem mais arrecadou: R$ 1.077.787,91 milhão. O
perfil de doadores segue o mesmo: construtoras, empresas agrícolas, JBS, Usina
Santa Helena, o empresário Braid, mineradoras e a Engepar, empresa de
engenharia investigada pelo Ministério Público Estadual, com inquérito correndo
na Promotoria do Patrimônio Público e Social, de estar envolvida no pagamento
de propinas da Operação Tapa-Buracos da prefeitura de Campo Grande na gestão de
Nelson Trad Filho, irmão de Marquinhos Trad.
Não consta que as doações apuradas junto ao TSE
destes parlamentares sejam irregulares ou ilegais. O setor privado, no Brasil,
podia financiar campanhas em 2014 - no último dia 17 de setembro, o Supremo
Tribunal Federal (STF) acabou com as doações privadas. No entanto, o
demonstrativo serve para a sociedade averiguar quais interesses econômicos e
financeiros estão por trás dos deputados e deputadas que investigarão o Cimi e
que insistem em se opor aos direitos territoriais indígenas. Tanto os
parlamentares quanto seus doadores possuem interesses diretos ou indiretos nas
terras reivindicadas pelos povos indígenas no Mato Grosso do Sul.
Demais integrantes
A CPI é composta ainda pelos
deputados Onevan Matos (PSDB), ligado ao ruralismo, e Pedro Kemp (PT), única
voz dissonante entre os titulares da Comissão ao grupo liderado por Mara
Caseiro. Os suplentes serão os deputados e deputadas Antonieta Amorim (PMDB),
João Grandão (PT), Beto Pereira (PDT), Márcio Fernandes (PTdoB) e Ângelo
Guerreiro (PSDB).
Fonte:http://www.brasildefato.com.br/
02/10/2015