Seis mulheres selecionam audiovisuais em que pelo menos um afrodescendente
participe da direção, roteiro ou atuação.
Gisele Brito São Paulo (SP)
Cena do documentário Mwany, do alagoano Nivaldo Vasconcelos. Site conta com filmes de dez estados / Reprodução |
Cerca de 100 filmes de dez estados
que contam com a participação de negros em pelo menos uma área
técnica da produção estão disponíveis no Afroflix, plataforma de pesquisa
online lançada na última quarta-feira (17). Os filmes são enviados por seus
autores e passam por uma curadoria da equipe do projeto, composta por seis
mulheres afrodescendentes.
Apesar do nome, o site tem muitas
diferenças em relação ao Netflix. Uma delas é que, enquanto a plataforma
internacional disponibiliza filmes viastreaming, esta
iniciativa não armazena os vídeos, mas os linka para sua fonte original (seja o
YouTube, o Vimeo ou o site do filme, por exemplo). A plataforma reúne filmes
que já estão na internet, organizados de forma a facilitar a busca de
referências.
"A gente não baixa o vídeo. Não
gera visualizações para nós. Todo play que é dado vai para o próprio
realizador. E já estamos recebendo retornos de que as visualizações aumentaram.
Tem sido bem legal", afirma a cineasta Yasmin Thayná, idealizadora do
projeto e diretora e roteirista de Kbela - O Filme,
lançado em 2015.
O site também indica vlogs,
programas, séries e videoclipes e não conta com nenhum tipo de financiamento.
Todo ele foi produzido por meio da cooperação das participantes do coletivo.
"É uma ideia para o futuro, um sonho nosso para que possamos ter
conteúdos originais. Séries originais, filmes. A ideia é trabalhar no campo da
produção, difusão e formação. Mas para isso precisamos de investimento",
pondera Yasmin.
Para assistir ou disponibilizar
obras, acesse http://www.afroflix.com.br/.
Origem
da ideia
Outras diferenças em relação ao
Netflix são a gratuidade e a vontade de enegrecer as narrativas
contadas no país. "Tem uma pesquisa da Universidade Federal do Rio de
Janeiro que aponta que entre o ano 2002 e 2012, ou seja, em dez anos de cinema
nacional, não teve nenhum filme dirigido por mulheres negras, nenhum filme
escrito por mulheres negras e apenas 2% dos filmes produzidos no país são
protagonizados por pessoas negras. Devem sair 100 filmes por ano, então
multiplica isso por dez. É um número assustador", afirma Yasmin
Thayná. "Muitos desses filmes são feitos com dinheiro público. Isso
significa que o grupo que representa a maior parcela da população não está
recebendo recursos", destaca.
Foi justamente durante os debates
ocorridos após as exibições de Kbela,filme que
trata da transição capilar de mulheres negras, que Yasmin teve a ideia inicial
para criar o Afroflix. "Nos debates surgiam muitas perguntas sobre novas
formas de divulgação de cinema, de novas formas de tornar as produções com foco
em protagonismo negro mais visíveis no Brasil, já que tínhamos um número
bastantes expressivo delas", explica Yasmin.
Novas
narrativas
A cineasta enfatiza que a ideia não é
apenas para negros, por isso basta que haja um em pelo menos uma das
áreas de produção do filme. Mas pondera que o principal critério para que o
filme seja incluído na curadoria do site é a criação de novas narrativas.
"Tem gente disputando esse campo
da imagem que media nossas relações. A imagem é muito poderosa. É o que faz
você acreditar nas coisas, dita o seu gosto. Então, é muito importante produzir
narrativas alternativas àquelas que colocam o negro o tempo todo como bandido
ou empregada doméstica. Essas produções do Afroflix
tentam produzir outros sentidos. As características principais das produções é
a desconstrução da narrativa clássica, da visão que se tem sobre o negro".
Edição: Camila Rodrigues da Silva
Fonte: www.brasildefato.com.br
20 de Maio de 2016
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