Na semana em que se comemora o Dia da Mulher Negra,
latino-americana e caribenha, recordemos Benguela.
Edilene Cenourinha
"O Quilombo de
Quariterê existiu de 1730 a 1795, e a liderança de Tereza de Benguela resistiu
até 1770, quando foi presa e morta pelo Estado" – (Reprodução)
O dia 25 de Julho é a data de celebrar o dia nacional de Tereza Benguela e Dia Internacional da
Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha. Tereza de Benguela,
ou “Rainha Tereza” como ficou conhecida em sua época, viveu no século XVIII no
Vale do Guaporé, no Mato Grosso. Ela liderou o Quilombo de Quariterê, após a
morte de seu companheiro, José Piolho, morto por soldados.
Dia da Mulher Negra
Latino-americana: seis histórias atuais que representam esta luta
Segundo os
registros históricos, ela comandou uma comunidade de três mil pessoas. Uniu
negros, brancos e indígenas para defender o território onde viviam, resistindo
bravamente à escravidão por mais de 20 anos. Ela comandou a estrutura política,
econômica e administrativa da comunidade. A Rainha Tereza criou uma espécie de
parlamento e reforçou a defesa do Quilombo com armas adquiridas a partir de
trocas ou deixadas após conflitos.
O Quilombo de
Quariterê existiu de 1730 a 1795, e a liderança de Tereza de Benguela resistiu
até 1770, quando foi presa e morta pelo Estado. O mesmo Estado que mata e
oprime as mulheres nos dias de hoje. Portanto, não podemos esquecer Tereza de
Benguela, é preciso levantar sua bandeira de luta, nos revoltar contra esse
Estado genocida e reivindicar sua história, que não é lembrada nos livros ou
sequer é estudada nas escolas.
Patriarcado e
racismo sustentam o capitalismo
Desde os
primórdios da história, a humanidade foi sendo estruturada por outras relações
de dominação, como racismo, o colonialismo e a opressão da sexualidade. Na
América Latina, nossa história é marcada pelo colonialismo, e pelo racismo, que
produzem, estruturam o capitalismo, e aprofundaram o patriarcado. O
patriarcado, origem da opressão sobre as mulheres, é um sistema fundamentado na
divisão sexual do trabalho e na propriedade privada, e é muito anterior ao
capitalismo.
No modo de produção capitalista, o patriarcado,
assim como o racismo, torna-se base de sustentação da ordem do capital, se
ampliando a partir da exploração do trabalho e
da vida das mulheres. O sistema capitalista, patriarcal e
racista, atua em um sentido de totalidade, articulado no todo da realidade
social.
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As mulheres,
ao longo da história, foram construindo formas de resistência e enfrentamento
ao patriarcado e as lutas feministas nos dias de hoje foram forjadas a partir
do legado de mulheres como Tereza de Benguela.
Os desafios colocados hoje não são poucos. As mulheres permanecem excluídas
vastamente dos espaços em que se definem as normas e políticas que
incidem diretamente sobre suas vidas. As mulheres negras e indígenas são aquelas
sobre quem incidem mais diretamente os processos de precarização da vida. Mas
nós interpelamos o Estado, denunciamos as violências sofridas e pressionamos
para que nossos corpos e vozes estejam presentes nos espaços em que políticas
de segurança e diretrizes econômicas se definem.
Vozes de
Tereza de Benguela, e muitas outras, ecoam nas manifestações de movimentos
feministas e de mulheres que são diversos, e que apontam caminhos em tempos de
crise profunda do capital. Precisamos nos mobilizar na ofensiva contra esse
modelo. O momento nos exige muita organização e a capacidade de nos articular
para fazer lutas que possam alterar nossa vida cotidiana, para transformar a
história.
Fonte: BdF Minas Gerais
Edição: Rodrigo Chagas e Antônia Sampai
Belo Horizonte | Brasil de Fato (MG) 28 de
Julho de 2020
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