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terça-feira, 31 de março de 2015

O FERRO EM UM MITO IORUBÁ



O texto a seguir é um mito do povo iorubá, que habita a Nigéria, país no noroeste da África. No século XIX, os iorubá foram trazidos como escravos para Bahia, onde ficaram conhecidos como nagôs.


A palavra “mito” vem do grego mythos, que significa literalmente “tecitura”, ou seja, o entrelaçamento de fios para formar uma peça de tecelagem; daí narração, discurso.


O mito é um relato que busca explicar a origem do mundo, dos fenômenos naturais (vento, chuva, encontro das águas do rio com as do mar, etc.) e das criações humanas. É transmitido de boca em boca em determinado grupo e é considerado verdadeiro por ele. 


Na terra criada por Obatalá, em Ifé, os orixás e os seres humanos trabalhavam e viviam em igualdade. Todos caçavam e plantavam usando frágeis instrumentos feitos de madeira, pedra ou metal mole.


Por isso o trabalho exigia grande esforço. Com o aumento da população de Ifé, a comida andava escassa. Era necessário plantar uma área maior. Os orixás então se reuniram para decidir como fariam para remover as árvores do terreno e aumentar a área da lavoura.
 

Ossaim, o orixá da medicina, dispôs-se a ir primeiro e limpar o terreno. Mas seu facão era de metal mole e ele não foi bem sucedido.


Do mesmo modo que Ossaim, todos os outros orixás tentaram um por um e fracassaram na tarefa de limpar o terreno para o plantio.
  
Ogum, que conhecia o segredo do ferro, não tinha dito nada até então. Quando todos os outros orixás tinham fracassado, Ogum pegou o seu facão, de ferro, foi até a mata e limpou o terreno.


Os orixás, admirados, perguntaram a Ogum de que material era feito tão resistente facão. Ogum respondeu que era de ferro, um segredo recebido de Orumilá.


Os orixás invejaram Ogum pelos benefícios que o ferro trazia, não só a agricultura, mas como à caça e até mesmo à guerra. Por muito tempo os orixás importunaram Ogum para saber o segredo do ferro, mas ele mantinha  o segredo só para si.


Os orixás decidiram então oferecer-lhe  o reinado em troca de que ele lhe ensinasse tudo sobre aquele metal tão resistente. Ogum aceitou a proposta.


Os humanos também vieram a Ogum pedir-lhe o conhecimento do ferro.  E Ogum lhes deu o conhecimento da forja, até o dia em que todo caçador e todo guerreiro tiveram suas lanças de ferro. [...] 


apesar de Ogum  ter aceitado o comando dos orixás, antes de mais nada ele era um caçador.[...]


Os humanos que receberam de Ogum o segredo do ferro não o esqueceram. Todo mês de dezembro, celebram a festa de Uidê-Ogum. [...] Ogum é o senhor do ferro para sempre.



Pensando sobre o texto

1.  1. Segundo o texto, como viviam os orixás e os seres humanos na terra criada por Obatalá?

2.  2.    Por que os orixás tiveram de se reunir?

3.  3.    Por que só Ogum conseguiu limpar  o terreno para o plantio?

4   4.   De que forma os orixás agradeceram a Ogum a revelação do segredo da metalurgia?

5.  5.    O que se pode concluir desse texto?





Fonte: Fundação de Palmares. Disponível em :www.palmares.gov.br/005/00502001.jsp?HCD_chave=63.Acesso em:31demar.2015. ?

segunda-feira, 30 de março de 2015

A PARTILHA DO CONTINENTE AFRICANO


“[...] Pela guerra, por meio de acordos diplomáticos, controlando os chefes locais ou subtraindo-os por funcionários do seu governo, os países colonizadores dominaram quase todo o continente africano de cerca de 1890 a 1960 [...].


Mesmo sendo consequência de um processo que não aconteceu de uma hora para outra, do ponto de vista africano a partilha do continente foi um brusco reagrupamento no qual cerca de 10 mil unidades sociais foram reduzidas a quarenta.

[...] Essas unidades sociais originais foram chamadas de ‘tribos’ pelos colonizadores, que ignoraram os laços comerciais, políticos e culturais que as haviam unidos até então. Muitas vezes reorganizados a partir de novas fronteiras coloniais que foram traçadas sem a participação dos que moravam nas terras divididas, os grupos sociais tiveram de construir novas identidades a partir da língua e da religião do colonizador. [...]
No período anterior - do tráfico de gente - as pessoas eram retiradas da África para trabalhar na América [...]. Agora as pessoas eram postas a trabalhar dentro da própria África [...]. Os grupos mais diretamente ligados aos agentes dos governos coloniais e às empresas comerciais que atuavam na África tiveram pessoas de suas elites educadas nos moldes ocidentais, incorporando valores europeus.

O individualismo foi sendo introduzido junto com a colonização, e os interesses pessoais se sobrepuseram às identidades comunitárias e à solidariedade entre os membros das famílias, *clãs e etnias.
Era enorme a espoliação que o continente africano sofria ao ter parte de sua força de trabalho drenada para a América, em troca da intensificação das guerras e do aumento do poder de alguns chefes.

E continuou sendo enorme, se não maior, a espoliação imposta ao continente africano pela exploração de sua força de trabalho em benefício de empresários estrangeiros e uns poucos nativos, e pela extração de suas riquezas naturais.


Ouro, diamantes, petróleo e muitos minérios são ainda hoje retirados em grande quantidade do solo de regiões da África, por companhias francesas, inglesas e norte-americanas principalmente.

Já os elefantes, que forneciam o cobiçado marfim com o qual as elites ocidentais do século XIX faziam bolas de bilhar, teclas de piano, cabos de faca e espada e uma variedade de objetos esculpidos, foram quase totalmente dizimados, sobrevivendo apenas em algumas reservas, nas quais animais e paisagens considerados exóticos atraem a atenção e alguns dólares de quem os pode gastar com turismo. [“...]”

*Grupo constituído de pessoas de descendência comum.

Pensando sobre o texto
1.         Segundo o texto, o que significou para os africanos a partilha do continente?
2.         Por que os europeus do século XIX chamaram as unidades sociais africanas de “tribos”?
3.         Qual a consequência para os africanos de os europeus traçarem fronteiras entre suas colônias na África sem consultá-los?
4.         O que dizer a respeito do impacto do imperialismo sobre a fauna africana?



                                                  Fonte: SOUZA, Marina de Melo e. África e Brasil africanos. São Paulo: Ática, 2007.p.159-161. 

terça-feira, 24 de março de 2015

HISTÓRIA DAS MISSÕES


Durante os séculos XVII e XVIII, por mais ou menos 150 anos, desenvolveu-se, na Região Platina, a missionária das Reduções Jesuítico-Guarani em áreas de colonização espanhola, que hoje pertencem ao Brasil à Argentina e ao Paraguai.

Representando a monarquia absolutista espanhola os jesuítas, face à expansão do colonialismo português, organizou o sistema reducional num processo de transculturação, do qual se originaram os Trinta Povos Guarani.

A conquista e a colonização da América efetuadas pelos impérios ibéricos determinaram profundas mudanças socioculturais nos grupos indígenas pré-coloniais pelo complexo processo de relações estabelecidas com os europeus, que passaram a cooptar e inserir as comunidades nativas nas instituições luso -hispânicas, assim como nas da Igreja Católica Romana.

Integradas ao conjunto dos Trinta Povos, as Sete Reduções, localizadas no atual Rio Grande do Sul, reforçaram o caráter fronteiriço e militar dos povoados jesuítico-guarani diante da atração representada pela Prata, que criara a necessidade da definição dos limites dos dois impérios no extremo sul.

O conjunto de um povoado missioneiro jesuítico- guarani impressiona pela regularidade e pela simetria, as quais traduzem a ideia de ordem perfeita e definitiva. Um tabuleiro de linhas retas paralelas, que se cortam em ângulos retos, é a figura que descreve a malha viária.


Os guarani e os jesuítas, com a integração de duas culturas diferentes, desenvolveram, através das reduções, uma experiência única, pela plantação, criação de gado bovino, ovino e eqüino, cultivo de erva-mate e algodão, e pela comercialização de alguns produtos junto à Europa.
Agregando valores e costumes europeus, os guarani tornaram-se músicos, oleiros, marceneiros, escultores, entre outros.

Atualmente, quando se visitam os remanescentes dos povoados missioneiros, pode-se compreender melhor a importância dos episódios dessa história de longa duração das Missões Jesuítico-Guarani.

Sua valorização como Patrimônio Histórico e Cultural, comum a todos os povos da região, impõe-se com toda a importância histórica que merecem.

Mais do que uma referência histórica para as atuais populações que os visitam, esses "Pueblos de Indios" coloniais são um símbolo para a integração cultural de toda a região.

Em visita a esses sítios, com portentosos monumentos, podem-se observar os testemunhos de uma época de crescimento populacional e de desenvolvimento sociocultural.

Assim, remanescentes arquitetônicos evidenciam importantes informações sobre os espaços missioneiros, delimitando o espaço e permitindo a reconstituição dos planos urbanísticos.

Também podem-se. observar os demais elementos da  cultura da época, como belíssimas esculturas, vestígios arqueológicos, documentos escritos e iconográficos.






Artigo escrito por: Profª. Ms. Nadr Lurdes Damiani

24/03/2015

IN:http://www.missoesturismo.com.br/

ILÚ OBÁ DE MIN SE PREPARA PARA FAZER CARNAVAL POPULAR EM SÃO PAULO

Bloco espera mais de 20 mil pessoas para o desfile deste ano. Escritora negra Carolina Maria de Jesus será homenageada
Por José Coutinho Júnior Da Página do MST

“Eu vi mulheres no cativeiro/Lavando as escadas do Bonfim/Eu vi os tambores do rei/Eu vi Ilú Obá De Min/Essas mulheres do cativeiro/Cansadas dos maus tratos do senhor/Tiraram seus tambores da senzala/Levaram para avenida/E cantaram pra Xangô”.
Organizadas em filas, 230 mulheres tocam baterias e cantam a plenos pulmões no meio da rua. Homens e mulheres, alguns se equilibrando em pernas de pau, todos vestidos de forma a homenagear os orixás, dançam freneticamente.
Um círculo se abre para a apresentação de um homem que cospe fogo. Acompanhando toda a apresentação, estão mais de 15 mil pessoas.  
Assim é o desfile do Ilú Obá de Min, bloco afro de carnaval de São Paulo, característico pelo protagonismo das mulheres. Ilú Obá de Min significa “as mãos femininas que tocam pra Xangô”. Apenas as mulheres tocam a bateria, e os temas de todo ano prestam homenagem a mulheres negras ou à cultura negra em si.

O bloco irá se apresentar nos dias 13 e 15 de fevereiro. Segundo Beth Beli, uma das coordenadoras e fundadoras do Ilú, a criação do bloco se deu por três motivos. “Eu vi o quanto você fica empoderada ao tocar o tambor. 
E daí surge a ideia de criar um bloco onde as mulheres toquem. Também queríamos trabalhar o ritmo dos orixás, dos terreiros africanos, já que a maioria das nossas músicas tem raízes africanas, e desmistificar o preconceito que existe na sociedade com o ritmo do candomblé”.

Após 10 anos de existência, O Ilú cresceu e é mais que um bloco de carnaval e se tornou um ponto de cultura.
Entre projetos e parcerias, estão oficinas de percussão para mulheres, a Tenda Lúdica, que consiste em aulas de percussão para crianças, contação de histórias, jogos africanos, confecção de bonecas pretas e biblioteca com literatura infantil que valoriza a diversidade étnico-racial.
Além disso, o Ilú está presente na periferia graças às pessoas que compõem o coletivo. “Várias mulheres vem das periferias participar do Ilú, e muitas delas nos convidam a ir nas comunidades falar e fazer trabalhos de formação”, afirma Beth.
Financiamento 
Para o desfile deste ano, o bloco prevê mais de 20 mil pessoas na rua. Como parte do desfile, o coletivo contratou dois trios elétricos, para que as pessoas possam acompanhar o espetáculo. Para pagar isso, o Ilú está realizando uma campanha de financiamento coletivo.
“Temos um público e não temos financiamento, como as escolas de samba e alguns blocos tem.
O Ilu andou sozinho, sem apoios. Sempre fomos um coletivo, nos sustentando por conta própria. São muitas mulheres que trabalham em várias frentes, de várias formas, para sustentar o Ilu. E financiamento coletivo tem a ver com isso”, afirma Beth.
Para contribuir com o financiamento do bloco, clique aqui.
A mulher que retratou a favela
Este ano, o Ilú irá homenagear a escritora negra Carolina Maria de Jesus. Mineira, Carolina se mudou para São Paulo em 1947, onde vivia na favela do Canindé.
Registrava em contos seu cotidiano e o dia a dia da favela. Seu livro mais conhecido se chama Quarto de despejo.“Eu denomino que a favela é o quarto de despejo de uma cidade. Nós, os pobres, somos os trastes velhos.”  
Após escolher a pessoa homenageada, o Ilú inicia a preparação do bloco. “A gente fez todo um estudo da vida e obras dela, e a partir daí, as mulheres da bateria e da dança começam a compor.
O que é interessante é que a maioria das mulheres não trabalham com música: são engenheiras, mulheres de movimentos sociais, de rua, mas é um trabalho que fica incrível e incentiva elas”, diz Beth.
O coletivo conta também com uma figurinista, que a partir da vida de Carolina, prepara as roupas do bloco. Segundo Beth, “Carolina se sustentava como catadora de lixo.
Catava latinhas, e a partir do que vê, começa a escrever, com uma visão política e critica profunda, da favela, do governo Vargas, da favela como ‘quarto de despejo’. Então a maioria das roupas, dos panos dos orixás, são feitos com materiais recicláveis”.

O objetivo principal do Ilú é mostrar não apenas a mulher, mas a escritora. “Uma das pessoas vai se transformar na Carolina, e a roupa dela é toda feita de livros. Queremos enfatizar a importância dela como uma figura literária, que produziu mais de 70 livros, e não só  a mulher”, conclui Beth.
Carnaval Popular
Quando questionada sobre a importância dos blocos de rua para o carnaval brasileiro, cujas maiores escolas de samba recebem quantias milionárias para realizar o desfile, Beth acredita que há uma grande contradição na festa hoje em dia.

“Eu sou da época que o carnaval não era mercadológico. Ele virou um negócio. As rainhas da bateria costumavam ser meninas negras da comunidade.
Hoje são atrizes da globo. É uma festa importante, tem trabalhos muitos bonitos, mas não é o povo que é protagonista. Fica sempre no espetáculo. E a ideia do carnaval é estar junto, fazer a festa junto.
Hoje um gringo compra roupas via internet, chega no país e sai na escola. Então quem dá mais pode sair na escola. Isso é contraditório, porque o samba, os cordões, vem do povo. Até muitos dos temas são comprados”.
Segundo ela, o carnaval popular, principalmente em uma cidade repressora como São Paulo, é um momento onde as pessoas podem se reunir, criar suas fantasias e se divertir. “O Ilu já foi convidado muitas vezes para o sambódromo, mas não é isso que queremos. Queremos levar 15 mil pessoas pela rua”, conclui Beth.


09/02/2015