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sábado, 14 de março de 2015

DIA NACIONAL DA POESIA


Fonte: Universia Brasil

Nesse sábado, dia 14 de março de 2015, é comemoradoDia Nacional da Poesia.

A data não foi escolhida por acaso, uma vez que foi criada para homenagear um dos mais renomados poetas românticos brasileiros,Antônio Frederico de Castro Alves. Nascido na Bahia, no dia 14 de março de 1847, o escritor elaborou uma poesia marcada pela luta por fortes causas sociais, como a abolição da escravidão, por exemplo.


Além de Castro Alves, a poesia brasileira é reconhecida por outros grandes nomes brilhantes, como Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Vinícius de Moraes, Olavo Bilac, entre outros famosos autores.

Confira a seguir 7 famosos poemas de escritores brasileiros para comemorar essa importante data.


1-Os Ombros Suportam o Mundo (Carlos Drummond de Andrade)

Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.                                             
Tempo de absoluta depuração.                                                                            
Tempo em que não se diz mais: meu amor.                                                        
Porque o amor resultou inútil.                                                                                          
E os olhos não choram. E as mãos tecem apenas o rude trabalho.                            
E o coração está seco. Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.              
Ficaste sozinho, a luz apagou-se, mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.                                                                                                                        
És todo certeza, já não sabes sofrer.                                                                          
E nada esperas de teus amigos.                                                                          
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?                                                    
Teus ombros suportam o mundo e ele não pesa mais que a mão de uma criança.  
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios provam apenas que a vida prossegue e nem todos se libertaram ainda.                                              
Alguns, achando bárbaro o espetáculo prefeririam (os delicados) morrer.      
Chegou um tempo em que não adianta morrer.                                                  
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.                                                          
A vida apenas, sem mistificação.


2-Vou-me Embora pra Pasárgada (Manuel Bandeira)

Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei Vou-me embora pra Pasárgada Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d’água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção Tem telefone automático
Tem alcaloide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar — Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.


3-Ouvir Estrelas (Olavo Bilac)

Ora (direis) ouvir estrelas!
Certo, perdeste o senso!
E eu vos direi, no entanto
Que, para ouví-las, muitas vezes desperto
E abro as janelas, pálido de espanto
E conversamos toda a noite, enquanto a Via-Láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto, Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas?
Que sentido tem o que dizem, quando estão contigo? "
E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas

4-Amar e Ser Amado (Castro Alves)

Amar e ser amado!
Com que anelo
Com quanto ardor este adorado sonho
Acalentei em meu delírio ardente
Por essas doces noites de desvelo!
Ser amado por ti, o teu alento
A bafejar-me a abrasadora frente!
Em teus olhos mirar meu pensamento,
Sentir em mim tu’alma, ter só vida
P’ra tão puro e celeste sentimento
Ver nossas vidas quais dois mansos rios,
Juntos, juntos perderem-se no oceano,
Beijar teus labios em delírio insano
Nossas almas unidas, nosso alento,
Confundido também, amante, amado
Como um anjo feliz... que pensamento!?



5-Canção do Exílio (Gonçalves Dias)

Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá; Em cismar — sozinho, à noite —
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.


6-O Relógio (João Cabral de Melo Neto)

Ao redor da vida do homem
há certas caixas de vidro,
dentro das quais, como em jaula,
se ouve palpitar um bicho.

Se são jaulas não é certo;
mais perto estão das gaiolas
ao menos, pelo tamanho
e quadradiço de forma.

Umas vezes, tais gaiolas
vão penduradas nos muros;
outras vezes, mais privadas,
vão num bolso, num dos pulsos.

Mas onde esteja:
a gaiola
será de pássaro ou pássara:
é alada a palpitação,
a saltação que ela guarda;

e de pássaro cantor,
não pássaro de plumagem:
pois delas se emite um canto
de uma tal continuidade


7-Sentimento do Mundo (Carlos Drummond de Andrade)

Tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo,
mas estou cheio de escravos,
minhas lembranças escorrem e o corpo transige
na confluência do amor.
Quando me levantar,
o céu estará morto e saqueado,
eu mesmo estarei morto,
morto meu desejo,morto
o pântano sem acordes.

Os camaradas não disseram
que havia uma guerra
e era necessário trazer fogo e alimento.
Sinto-me disperso,
anterior a fronteiras,
humildemente vos peço que me perdoeis.

Quando os corpos passarem,
eu ficarei sozinho
desfiando a recordação
do sineiro, da viúva e do microscopista
que habitavam a barraca
e não foram encontrados
ao amanhecer

esse amanhecer
mais noite que a noite.


14/03/2015

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