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quarta-feira, 15 de maio de 2013

127 VEZES MAIO!


Autora: Cecilia Luedemann

Com Vladimir Maiakovski, poeta de todos nós, aprendemos a dizer: “Meu Maio”. Caminhando em seus versos, como nas ruas do mundo, nos encontramos na praça pública no dia 1º de Maio, para ouvir e gritar as nossas palavras de ordem, para lutar por nossos direitos como se faz há 127 anos:



 
A todos
que saíram às ruas
de corpo-máquina cansado,


A todos
Que imploram feriado
às costas que a terra extenua –
Primeiro de Maio!


Meu mundo, em primaveras,
derrete a neve com sol gaio.
Sou operário –
este é o meu maio!


Sou camponês - Este é o meu mês.
Sou ferro –
eis o maio que eu quero!


Sou terra –
O maio é minha era!




O ano um do Dia Internacional do Trabalhador, acontece em 1866, nos Estados Unidos, quando a Federação Americana do Trabalhoe os Cavaleiros do Trabalho, apresentam a proposta de redução da jornada de trabalho aprovada em assembleia:



A partir de hoje

nenhum operário

deve trabalhar

mais de oito horas por dia.


Oito horas de trabalho!

Oito horas de repouso!

Oito horas de educação!



Depois das oito horas, os operários abandonam as máquinas e saem às ruas, junto às centenas de milhares de trabalhadores de todo país. Em cada um dos estados, a luta persiste até chegarem ao acordo por oito horas de trabalho, ou por 10 horas com aumento de salário. Mas, na maioria dos estados, os patrões reagem com a violência policial ou de grupos de direita armados, como os “Defensores da Ordem”.
 
Mas, foi em Chicago que a história do 1º de Maio ficou marcada. Eu estava lá, vi e ouvi tudo. Você também há de se recordar. Nós estávamos lá, e participamos da luta de classes, e pelo 1º de Maio na conquista do nosso direito às oito horas de trabalho.

           

Em Chicago, coração da indústria norte-americana, a luta é mais sangrenta. Os operários, muitos deles organizados em partidos e sindicatos anarquistas e socialistas, decidem eliminar a interminável jornada de 14 a 16 horas por dia.  Os poderosos patrões de Chicago declaram no Chicago Times a sua opinião sobre a reivindicação operária:



A prisão e o trabalho forçado

são a única solução possível para a questão social.

O único jeito de curar os trabalhadores do orgulho

é reduzi-los a máquinas humanas,

e o melhor alimento que os grevistas podem ter é o chumbo.
 
           
Os sindicalistas, August Spies e Albert Parsons, são marcados. 

No jornal Mail, os patrões decidem acusar publicamente August Spies, anarquista que dirige o jornal Arbeiter Zeitung para os milhares de trabalhadores de origem alemã e Albert Parsons, líder sindicalista, fundador da Central Union, e diretor do jornal operário Alarm:



Circulam livremente nessa cidade

dois perigosos cafajestes,

dois canalhas que querem criar desordens.

Um se chama Spies, o outro Parsons.

Vigiai-os, segui-os;

considerai-os responsáveis

se acontecer alguma coisa.

E se algo suceder, eles que paguem por isso.



O 1º de Maio de Chicago se inicia com uma greve vitoriosa. Sábado, fábricas, lojas, transportes, tudo está parado. Milhares de trabalhadores marcham junto com aFederação Americana do Trabalhoe os Cavaleiros do Trabalho pela avenida Michigan até a praça Haymarkert.



Os imigrantes italianos, irlandeses, alemães, poloneses e russos, identificam-se por suas roupas tradicionais. Homens, mulheres, crianças acompanham a manifestação. A Guarda Nacional espalha-se entre as esquinas e no alto dos edifícios. 

Na praça, oradores fazem seus discursos em diferentes línguas. Parsons também fala, junto com sua esposa e sua filha Lulu, de sete anos. Se os patrões não cedem, decidem manter a greve. E todos voltam, unidos, decididos e em silêncio para suas casas.


2 de Maio, domingo a organização da greve se amplia. O movimento segue forte. Os patrões têm um plano: colocar a polícia nas ruas para atacar os trabalhadores, prender os grevistas e perseguir os sindicalistas.


3 de Maio, segunda-feira, a polícia atira contra os operários em frente à fábrica McCormick Harvester. O resultado da repressão policial: seis mortos, 50 feridos e centenas são levados para a prisão.
 
   
Spies convida os trabalhadores para uma manifestação contra a repressão, no jornal Arbeiter Zeitung e denuncia:


A guerra de classes começou.Quem pode negar que os tigres que nos governam estão ávidos do sangue dos trabalhadores. Melhor a morte que a miséria.


Parsons defende uma manifestação pacífica na noite do dia seguinte.  Todos devem levar os filhos. Ninguém poderia imaginar o que iria acontecer...
 
 
4 de Maio, terça-feira, 7h30 da noite. 



A praça Haymarket está lotada de grevistas em luto. Spies, Parsons e Sam Fielden falam sobre a necessidade de manter a greve pelas oito horas.



No final da manifestação, todos são surpreendidos pela violência de 180 policiais que espancaram centenas de trabalhadores.



De repente, uma bomba explode entre os policiais. 60 são feridos e outros morrem logo em seguida. Era o sinal esperado para o massacre. 



A ordem é enviar mais policiais para a repressão em massa. Ninguém escapa: homens, mulheres e até mesmo crianças. A praça fica ensanguentada. Nunca se descobriu a quantidade exata de mortos, pois a ordem foi fazer enterros clandestinos.


É decretado Estado de Sítio. O objetivo dos patrões e do governo: destruir a liderança e derrotar o movimento pelas oito horas de trabalho.


Inicia-se a caçada aos grevistas. Bandidos são contratados para invadir e destruir a casa dos trabalhadores, espancar os familiares, ameaçar quem continuasse a greve. Dedo-duros infiltram-se no movimento grevista e indicam os lutadores mais aguerridos para serem acusados pelo atentado à bomba.

           

A farsa tinha sido montada para levar à julgamento os oito líderes: August Spies, Sam Fielden, Oscar Neeb, Adolph Fischer, Michel Schwab, Louis Lingg e Georg Engel e Albert Parsons.



21 de junho de 1886. Durante o julgamento, a farsa é desmontada. As provas e as testemunhas são falsas. Mas, a justiça é comandada pelos patrões. Os oito líderes do movimento pelas oito horas já estavam condenados antes de chegar ao tribunal. Um dos jurados dá a sentença:


Que sejam enforcados.

São homens demais desenvolvidos,

demais inteligentes,

demais perigosos

para os nossos privilégios.



9 de outubro de 1886. Sentença final.

Cinco são condenados à morte: Parson, Engel, Fischer, Lingg e Spies.


Dois são condnados à prisão perpétua: Fielden e Schwab.

Um é condenado à quinze anos de prisão: Neeb.


Neeb é o primeiro a falar, depois de ouvir a sentença, e pede para ser condenado à morte, como seus companheiros, pois não pode ser mais inocente que os outros, já que todos são completamente inocentes:


Cometi um grande crime, excelência. Eu vi os balconistas desta cidade trabalhar até 9 ou 10 horas da noite. Lancei um apelo para a organização da categoria e agora eles trabalham até as 7 horas da noite; aos domingos, estão livres. E isso é um grande crime.



Em seguida, Spies desafia a injustiça dos poderosos:


Se com o nosso enforcamento vocês pensam em destruir o movimento operário – este movimento do qual milhões de seres humilhados, que sofrem na pobreza e na miséria, esperam a redenção -, se esta é sua opinião, enforquem-nos. Aqui terão apagado uma faísca, mas lá e acolá, atrás e na frente de vocês, em todas as partes, as chamas crescerão. É um fogo subterrâneo e vocês não podem apagá-lo.



Lingg defende a honra da classe trabalhadora:


Permiti que vos assegure que morro feliz porque estou certo de que centenas, milhares de pessoas a quem falei recordarão minhas palavras.



Parsons, grande orador, fala por mais de uma hora sobre os ideais socialistas para os operários:


Arrebenta a tua necessidade e o teu medo de ser escravo, o pão é a liberdade, a liberdade é o pão. A propriedade das máquinas como privilégio de uns poucos é o que combatemos, o monopólio das mesmas, eis aquilo contra o que lutamos. 

Nós desejamos que todas as forças da natureza, que todas as forças sociais, que essa força gigantesca, produto do trabalho e da inteligência das gerações passadas, sejam postas à disposição do homem, submetidas ao homem para sempre. Este e não outro é o objetivo do socialismo.



11 de novembro de 1886. Enforcamento dos líderes grevistas.



Spies, Engel, Fischer e Parsons são levados para o pátio da prisão para serem enforcados. Lingg suicidou-se na cadeia. Não se acovardam e nem se deixam silenciar diante da morte.


Spies desafia:


Adeus, o nosso silêncio será muito mais potente do que as vozes que vocês estrangulam!



Engel grita:


Viva a anarquia!



Fischer murmura:


Eis o dia mais feliz da minha vida.

Parson é enforcado antes que termine a frase:

Deixem-me falar com o meu povo...



Os operários carregam os restos mortais dos mártires de Chicago. Manifestações pelas oito horas de trabalho se intensificam de Chicago para todo o país e dos Estados Unidos para o mundo. Mas, os trabalhadores nunca se esqueceram da injustiça cometida e exigem a libertação dos inocentes e a condenação dos responsáveis pelo enforcamento dos companheiros.


Apenas em 1892, o governador de Illinois reconhece o assassinato de Estado, anula a sentença, liberta os três prisioneiros e acusa de infâmia o juiz, os jurados e as falsas testemunhas.


Em 1889, A Federação Americana do Trabalho propõe que o dia 1º de Maio seja o dia de greve geral pela redução da jornada de trabalho, em memória à luta dos oito companheiros de Chicago.

E nesse mesmo ano, um congresso internacional de trabalhadores, na França, decide transformar o dia 1º de Maio em data fixa para manifestação internacional de todos os trabalhadores pela redução da jornada de trabalho para oito horas, dentre outras reivindicações.


Nos Estados Unidos, os oito de Chicago são sempre lembrados no May Day. Todos nós, que lá estivemos junto com nossos companheiros do passado, pela herança de suas lutas, e herdamos as suas conquistas, lembraremos, nas praças, desses 125 anos de luta do  1º de Maio junto com nossos atuais companheiros e companheiras.



Em homenagem aos 127 anos do 1º de Maio e aos 142 anos da Comuna de Paris, encerramos com o poema de Brecht escrito entre os anos 1948 e 1949 para a peça Os dias da Comuna. Suas lições não perderam a atualidade...



TODOS OU NINGUÉM

Bertolt Brecht

(Peça teatral Os dias da Comuna- 1948-49)

1

Escravo, quem vai te libertar?

Aqueles que estão no fundo mais fundo,

Camarada, vão te ver.

E ouvirão o teu grito:

Os escravos vão te libertar.


            Ninguém ou todos. Tudo ou nada.

            Sozinho ninguém pode se salvar.

            Fuzis ou correntes.

            Ninguém ou todos. Tudo ou nada.



2

Faminto, quem vai te alimentar?

Se quiseres um pedaço de pão

Junta-te a nós, nós que temos fome

Deixe que te mostremos o caminho:

Os que têm fome vão te alimentar.


            Ninguém ou todos. Tudo ou nada.

            Sozinho ninguém pode se salvar.

            Fuzis ou correntes.

            Ninguém ou todos. Tudo ou nada.



3

Quem, vencido, quem te vingará?

Tu, que fostes golpeado

Junta-te às fileiras dos feridos

Nós em todas nossas fraquezas,

Camarada, vamos te vingar.


            Ninguém ou todos. Tudo ou nada.

            Sozinho ninguém pode se salvar.

            Fuzis ou correntes.

            Ninguém ou todos. Tudo ou nada.



4
Quem, perdido, que se atreverá?
Quem sua miséria não mais suporta
Pode, deve se juntar com aqueles
Que por necessidade cuidam
Para que seja hoje e não amanhã.

            Ninguém ou todos. Tudo ou nada.
            Sozinho ninguém pode se salvar.
            Fuzis ou correntes.
            Ninguém ou todos. Tudo ou nada.



Fonte: http://editora.expressaopopular.com.br/batalha-das-ideias/127-vezes-maio

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