Fazem parte da ação os povos Munduruku, Juruna,
Kayapó, Xipaya, Kuruaya, Asurini, Parakanã, Arara, além de pescadores e
ribeirinhos.
Ruy Sposati de Altamira (Pará) (texto e
fotos) do Cimi
Os povos da floresta sob a mira do Estado Brasileiro-Foto Ruy Sposati (Altamira-PA)
Cerca de 200 indígenas dos rios Xingu, Tapajós e
Teles Pires afetados pela construção de usinas hidrelétricas ocuparam nesta
quinta-feira, 2, o maior canteiro dos quatro abertos para as obras de Belo Monte,
no município de Vitória do Xingu (PA), a 50 quilômetros de
Altamira.
Em carta (leia na íntegra aqui)divulgada após a ocupação, os indígenas reivindicam a regulamentação da consulta prévia e a suspensão imediata de todas as obras e estudos relacionados às barragens nos rios onde vivem. |
Juntos de uma centena de Munduruku de aldeias de
Jacareacanga e Itaituba, no oeste do Pará, indígenas Juruna, Kayapó, Xipaya,
Kuruaya, Asurini, Parakanã e Arara, além de pescadores e ribeirinhos da Volta
Grande do Xingu, chegaram por volta das 11h30 no local da construção,
paralisando os trabalhos de cerca de 6 mil operários do canteiro.
Militares da Rotam já estavam no local quando os
indígenas chegaram. Um agrupamento da Tropa de Choque também foi enviado para o
canteiro. Não houve confronto e a situação permanecia tranqüila até o início da
noite.
"Nossa floresta e nosso rio são um dos
últimos patrimônios do Brasil. É triste pensar: por que tantas barragens num
rio só?", questiona Saw Exebu, porta-voz do cacique-geral dos
Munduruku. É a primeira vez que Saw vê de perto a construção de uma
barragem. "Estou vendo o peso dessa obra aqui. Não queremos que isso
aconteça em nossas terras. Nós não queremos que sejam construídas barragens na
nossa casa", afirma.
Para Saw, o governo vem querendo construir essas
obras como se não existisse vida nos lugares e ressalta que “na verdade, se
houver deserto, tem vida também, e ela precisa ser respeitada", diz. O
Munduruku recorda os ensinamentos de seus antepassados sobre a natureza:
"Esse nosso mundo e visão, o não-índio não entende.
O branco vem e diz:
´índio já tem tanta terra, índio é preguiçoso, não é produtivo´. Nós entendemos
que essa natureza que não é pra acumular grandes riquezas. Aprendemos com
nossos antepassados. Sabemos que ela precisa ser respeitada, que uma árvore é
útil pra nós, que o rio é importante, a natureza, os animais, pequenos insetos.
A gente depende dela. A floresta em pé da vida, dá alimento. Por isso dizemos
que a natureza é nossa mãe”.
A sabedoria de Saw parece ser afrontada quando
seus olhos percorrem o canteiro da usina. "A sociedade do não-índio não
compreende, não consegue entender que temos nossos próprios alimentos, não
temos supermercado, shopping, não temos universidade. Temos a natureza, é ela
que nos ensina e dá tudo”, acrescenta.
O indígena acredita que, com a construção das barragens, além da destruição da natureza, os Munduruku também perderão parte de suas terras. "Nossos antepassados contam que nossas terras iam de Belém até as cabeceiras do Tapajós. Era grande o nosso mundo. Nós tivemos perdas de terras demais já. Agora chega", pontua.
Aliança
"Munduruku tem uma
lenda que fala que nós não devemos lutar sozinhos. Por isso nós viemos aqui,
junto com os parentes do Xingu, fazer aliança. A população indígena e o povo do
Brasil todo têm que fazer essa aliança pra combater os projetos que tiram
nossos territórios. O governo tem que nos respeitar", afirma Saw.
Os Munduruku viajaram cerca de 900 quilômetros até a barragem de Belo Monte. "Viemos aqui pra fazer aliança, pra lutar contra os planos do governo de violar os direitos dos indígenas. Aqui é o momento de a gente reivindicar, cobrando, porque ninguém nos ouve. É o nosso direito ser ouvido".
Os Munduruku viajaram cerca de 900 quilômetros até a barragem de Belo Monte. "Viemos aqui pra fazer aliança, pra lutar contra os planos do governo de violar os direitos dos indígenas. Aqui é o momento de a gente reivindicar, cobrando, porque ninguém nos ouve. É o nosso direito ser ouvido".
Sobre as acusações de que os Munduruku estariam declarando guerra contra o
Estado brasileiro, o porta-voz é taxativo: "Nós só queremos nossos
direitos. Nosso passado de caçador de cabeças passou. Nossa luta não é mais assim,
assim como os modos dos brancos mudaram muito. Hoje nós queremos nossos
direitos garantidos pela Constituição", explica Saw.
Enganados
Segundo Luis Gonzaga, indígena Xipaya morador da
Volta Grande do Xingu, trecho do rio mais afetado pela obra, os indígenas se
sentem enganados pelo governo federal. "O governo mente, e muito, sobre a
nossa situação aqui. Mente pra gente mesmo nas reuniões, e mentem pra fora.
Nada está sendo cumprido. Nós não fomos consultados. Não é do jeito que o
governo fala. Por que só ouvem o governo?", indaga.
Gonzaga frisa a aliança fechada pelos povos indígenas dos rios Teles Pires, Tapajós e Xingu que terão seus territórios afetados pelas usinas. "Nós nos juntamos aqui, pedimos o apoio dos parentes Munduruku pra gente se unir e lutar junto. A situação não é ruim só pra gente aqui no Xingu. Lá também estão tentando construir [barragens], no rio Tapajós. Eles vieram pra cá pra gente lutar juntos, assim como estamos prontos pra ir pra lá lutar junto com eles", conclui.
Gonzaga frisa a aliança fechada pelos povos indígenas dos rios Teles Pires, Tapajós e Xingu que terão seus territórios afetados pelas usinas. "Nós nos juntamos aqui, pedimos o apoio dos parentes Munduruku pra gente se unir e lutar junto. A situação não é ruim só pra gente aqui no Xingu. Lá também estão tentando construir [barragens], no rio Tapajós. Eles vieram pra cá pra gente lutar juntos, assim como estamos prontos pra ir pra lá lutar junto com eles", conclui.
Decreto e assassinato
Ao invés do diálogo, a saída apresentada pelo
governo federal para trabalhadores, indígenas, ribeirinhos, pescadores e demais
comunidades tradicionais afetadas pelos empreendimentos foi o Decreto da
presidente Dilma Rousseff nº 7957/2013 (leia aqui sobre o decreto).
De caráter “preventivo ou
repressivo”, a medida cria a Companhia de Operações Ambientais da Força
Nacional de Segurança Pública, tendo como uma de suas atribuições “prestar
auxílio à realização de levantamentos e laudos técnicos sobre impactos
ambientais negativos”.
Ainda no Pará, o povo Munduruku e comunidades
tradicionais estão mobilizadas contra o Complexo Hidrelétrico do Tapajós e
Teles Pires, que envolve um conjunto de usinas e barragens (leia aqui histórico).
Durante o último mês de abril, cerca
de 250 soldados da Força Nacional e da Marinha foram deslocados, por
solicitação do Ministério de Minas e Energia, com base nos dispositivos do
Decreto 7957, para municípios onde incidem áreas afetadas pelos
empreendimentos, além de território de ocupação tradicional reivindicado
pelo povo Munduruku.
Em novembro do ano passado, um indígena Munduruku
foi assassinado em ataque da Polícia Federal a aldeia Teles Pires (leia
reportagem aqui),
na fronteira do Pará com o Mato Grosso, e a tal morte se refere a carta dos
indígenas.
No contexto do documento divulgado, há também outras formas de
desrespeito do governo federal, como o local sagrado de Sete Quedas, cachoeira
do rio Teles Pires, onde estão enterrados os antepassados dos indígenas e o
registro da história do guerreiro Munduruku Muraycoko, naquilo que a sociedade
envolvente chama de sítio arqueológico, que será alagado pelas barragens da
usina (leia aqui documento
reivindicando a preservação do local).
Fonte: http://www.brasildefato.com.br/node/12809
02/05/2013
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