Nesta madrugada, 31, 3 mil hectares
de um total de 12 mil da Fazenda Esperança, no município de Aquidauana, foram
ocupados; "as retomadas são nosso último recurso para que as leis e nossos
direitos sejam garantidos”, afirma Lindomar Terena.
Renato Santana de Brasília (DF)
Povos Terena retomam (seu) espaço em Aquidauana (MS) Lindomar Terena. (à dir, na foto) |
Depois da morte de Oziel Gabriel
durante reintegração de posse de fazenda na Terra Indígena Buriti na última
quinta-feira, 30, as retomadas de terra por parte dos Terena continuam no Mato
Grosso do Sul. Na madrugada desta sexta-feira, 31, indígenas ocuparam 3 mil
hectares de um total de 12 mil da Fazenda Esperança, município de Aquidauana, a
140 quilômetros
da capital Campo Grande.
A área faz parte da Terra Indígena
Taunay/Ypeg, vizinha à Terra Indígena Buriti, reivindicada pelos Terena e já
identificada com 33 mil hectares de terra de ocupação tradicional. A fazenda
estava vazia e até o momento não há notícias de conflitos.
“Essas ações das comunidades
(Terena) se devem ao fato de que o governo brasileiro não tem interesse de
resolver a questão indígena. As retomadas são nosso último recurso para que as
leis e nossos direitos sejam garantidos”, afirma Lindomar Terena.
Quase 7 mil indígenas da
Taunay/Ypeg vivem atualmente nos 6 mil hectares de uma reserva demarcada pelo
Serviço de Proteção ao Índio (SPI), na primeira metade do século XX, depois de
serem retirados de território em que os 12 mil hectares da Fazenda Esperança
incidem.
“A fazenda possui quatro partes:
Esperança um, dois, três e quatro. Cada um possui 3 mil hectares. O proprietário
faleceu e as terras ficaram para a filha, uma empresária. Fomos retirados desse
território numa época em que isso era tudo Mato Grosso e o Estado distribuía
títulos de propriedade para os colonos que por aqui decidissem ficar”, explica
o Terena.
No Brasil, das 1.043 terras
indígenas, 40 delas – 3,83% - são reservadas, ou seja, demarcadas como reservas
indígenas, caso da Taunay/Ypeg, ou dominiais, em situações onde os próprios
indígenas compraram suas terras tradicionais. Depois da Constituição de 1988,
os indígenas passaram a ter o direito de questionar juridicamente a demarcação
de tais reservas.
Conforme a liderança indígena,
existem cemitérios e áreas sagradas dos Terena dentro das terras da Fazenda
Esperança. No Museu do Índio, no Rio de Janeiro, há um documento, usado nos
estudos antropológicos, que atesta a existência de uma aldeia no lugar do que é
hoje a Fazenda Esperança.
Sem monocultivos ou criação de gado
na fazenda, os Terena preparam a terra para plantações. Lindomar aponta que até
o momento a dificuldade de alimentos era grande, na medida em que 7 mil
indígenas vivem em 6 mil hectares.
“Queremos mostrar que o povo
indígena está com um pensamento só. Estamos tristes e revoltados com a morte de
Oziel. A Justiça passa a ser injustiça, na prática. Os povos indígenas estão
sendo massacrados sem que o Estado assuma o compromisso assumido em leis, como
a Constituição e a Convenção 169 da OIT”, finaliza.
Fonte:http://www.brasildefato.com.br/node/13082
31/05/2013
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