Ex-presidente brasileiro participou de conferência
em homenagem a José Martí e se encontrou com os irmãos Castro.
do Opera Mundi
Horas depois de ter se encontrado em Havana com o
líder da Revolução Cubana, Fidel Castro, o ex-presidente do Brasil, Luiz Inácio
Lula da Silva, criticou o bloqueio norte-americano à ilha caribenha.
No
discurso de encerramento da 3ª Conferência Internacional pelo Equilíbrio do
Mundo, realizado na noite desta quarta-feira (30/01), o ex-presidente afirmou
que a única razão para o embargo de 50 anos continuar existindo é a teimosia
dos Estados Unidos em “não reconhecer que perdeu a guerra para Cuba”. As
informações são da multiestatal Telesur e do Instituto Lula.
“Não existe mais nenhuma razão de se manter o bloqueio [de Cuba] a não ser a teimosia de quem não reconhece que perdeu a guerra, e perdeu a guerra para Cuba”, afirmou. “Espero que [o presidente reeleito dos EUA, Barack] Obama, neste mandato, tenha um olhar mais igualitário e mais justo para com nossa querida América Latina”, defendeu o ex-presidente. “Como sou otimista, eu acredito que um dia os Estados Unidos vão rever a sua posição, e espero que seja no governo Obama”, completou.
No evento,
que reuniu mais de 700 delegados de 41 países no Palácio de Convenções de
Havana, Lula também defendeu o fortalecimento da integração latino-americana.
“Vocês não podem voltar para suas casas e simplesmente colocar isso [a
participação no evento] nas suas biografias. É necessário que vocês saiam daqui
cúmplices e parceiros de uma coisa maior, de uma vontade de fazer alguma coisa
juntos mesmo não estando reunidos”, disse aos presentes.
Lula participa de conferência em homenagem à José Martí e pede uma integração ainda maior do continente - Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula |
A Conferência, terceira realizada em 10 anos, é
patrocinada pela Oficina do Programa Martiano, que se propõe a debater
internacionalmente a contribuição intelectual do herói da independência cubana,
José Martí. O evento coincide com os 160 anos de Martí e com o aniversário de
60 anos da invasão do Quartel Moncada, um importante marco da revolução cubana,
e reuniu cerca de 1500 participantes, dos quais 800 estrangeiros de 44 países.
Na terça, o ex-presidente depositou flores no memorial de Martí, em
Havana.
Em outro trecho do discurso, Lula defendeu o
presidente da Bolívia, Evo Morales. “Quem imaginava que um índio, com cara de
índio, jeito de índio, comportamento de índio, governaria um país e, mais do
que isso, que seu governo daria certo?”, questionou. Lula afirmou que a direita
brasileira queria que ele brigasse com Evo, quando este estatizou a empresa de
gás boliviana, então operada pela brasileira Petrobras. “Aí eu pensei: eu não
consigo entender como um ex-metalúrgico vai brigar com um índio da Bolívia”,
contou o ex-presidente, sob os aplausos da plateia.
O ex-presidente também abordou temas como a mídia,
ao afirmar que a interação permitida pelos meios de comunicação modernos, como
a internet, abre grandes possibilidades ao processo de integração
latino-americana: “Nunca tivemos tanta oportunidade de sermos tão
independentes”. "Nem reclamo, porque no Brasil a imprensa gosta muito de
mim", ironizou.
"Nasci assim, cresci assim e vou continuar
assim, e isso os deixa muito nervosos", disse, sobre suas relações com a
imprensa tradicional brasileira. Segundo Lula, o mesmo tipo de relação se
aplica aos outros governos progressistas da América Latina: “Eles não gostam da
esquerda, não gostam de [Hugo] Chávez, não gostam de [Rafael] Correa
[presidente do Equador], não gostam de [José] Mujica [presidente do Uruguai],
não gostam de Cristina [Kirchner, presidente da Argentina], não gostam de Evo
Morales [presidente da Bolívia].
E não gostam não pelos nossos erros, mas pelos
nossos acertos”, disse. Para Lula, as elites não gostam que pobre ande de
avião, compre um carro novo ou tenha uma conta bancária.
Lula abriu o seu discurso pedindo um minuto de
silêncio para as vítimas do incêndio em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, e
fez uma homenagem a Chávez, que se encontra internado em Havana, em tratamento
contra um câncer na região pélvica. O ex-presidente afirmou estar usando uma
Guayabera vermelha em sua homenagem.
Agenda
Lula também participou, nesta quarta, do lançamento do livro "Os últimos soldados da guerra fria", do escritor brasileiro Fernando Morais. Não foram divulgados maiores detalhes sobre o encontro entre Lula e Fidel.
Lula também participou, nesta quarta, do lançamento do livro "Os últimos soldados da guerra fria", do escritor brasileiro Fernando Morais. Não foram divulgados maiores detalhes sobre o encontro entre Lula e Fidel.
Fidel Castro e Lula se encontraram em Havana; ex-presidente brasileiro pediu fim do bloqueio norte-americano à ilha - Foto: Ricardo Stuckert/Istituto Lula |
Pela manhã, o ex-presidente brasileiro também
visitou o presidente Raúl Castro e acompanhou as obras do Porto de Mariel,
destinado a ser uma "zona econômica exclusiva" na ilha, autorizada a
receber capital estrangeiro.
O ex-presidente, em Havana desde segunda-feira
(28), deve deixar Cuba em direção à República Dominicana, onde se encontrará
com o presidente Danilo Medina Sánchez e o ex-presidente Leonel Fernández. No
dia 2, Lula irá a Washington, onde no dia seguinte, fará o discurso
de abertura em um evento do sindicato dos trabalhadores da indústria
automobilística e aeroespacial.
31/01/2013
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