Mulheres de Comunidade Quilombola na Ilha do Marajó(PA) |
Atualmente, somente 193 quilombolas contam com suas
terras tituladas, o que representa 6% das 3.000 comunidades que se estima
existirem no Brasil.
Bianca
Pyl Comissão Pró-Índio de São Paulo
Em meio às comemorações por conta do feriado da
consciência negra, são poucos os avanços na garantia dos direitos das
comunidades remanescentes de quilombos, principalmente, relacionados à garantia
do território. Essa é uma das conclusões da Comissão Pró-Índio de São Paulo
(CPI-SP) que divulga um balanço do ano de 2012.
Os dados demonstram que este ano não foi diferente
de 2011: apenas uma terra quilombola foi titulada pelo governo de Dilma
Rousseff, até outubro. A comunidade que recebeu o título foi o Quilombo
Chácara de Buriti (MS), composta por 19 famílias. Já os governos estaduais
titularam nenhuma terra quilombola em 2012.
Atualmente, somente 193 quilombolas contam com suas
terras tituladas, o que representa 6% das 3.000 comunidades que se estima
existirem no Brasil. Mais de mil processos estão abertos no Instituto Nacional
de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) aguardando a titulação.
Processos
Em 2012, manteve-se o ritmo lento na condução dos mais de mil processos abertos no INCRA. Até outubro de 2012 foram publicadas 4 Portarias de Reconhecimento pelo Presidente do INCRA e 7 relatórios técnicos de identificação e delimitação (RTID). Os números estão bem abaixo do que os do ano anterior. Em 2011, foram publicados 10 Portarias e 21 RTIDs, além de um Decreto de Desapropriação, da comunidade Brejo dos Crioulos (MG).
A demora na titulação deixa as comunidades
quilombolas em situação de vulnerabilidade sem garantia de que poderão
permanecer em seus territórios e, em muitos casos, ameaçadas de expulsão. Um caso
que teve bastante repercussão este ano foi o de Rio dos Macacos, comunidade
quilombola localizada em Simões Filho (BA).
Uma parte da área onde vivem as
famílias foi doada para a Marinha, que briga judicialmente para que os
quilombolas sejam retirados do local. O INCRA abriu processo de titulação em
2011 e chegou a produzir o RTID que identificou as terras de ocupação da
comunidade. Contudo, o documento não foi publicado oficialmente. A União propôs
que as famílias fossem transferidas para outro local, com área de 23 hectares,
menor do que os 300 hectares considerados como pertencentes à comunidade no
RTID. A comunidade rejeitou a proposta. E o impasse permanece.
Uma novidade que foi colocada em prática pelo INCRA
este ano é a concessão real de uso coletivo para as terras quilombolas. A
medida, prevista na Instrução Normativa do INCRA n°57 de 2009, beneficiou as
comunidades quilombolas de Cafundó (SP) e Invernada dos Negros (SC). A
concessão permite que as comunidades ocupem e utilizem economicamente terras
consideradas como pertencentes aos quilombolas, antes que o processo de
titulação chegue ao fim. Vale destacar que a concessão não é o título de
propriedade e que o processo para a titulação deve continuar.
Dívidas Milionárias pela cobrança do ITR
Após ser acionada na Justiça para pagar o Imposto
sobre a Propriedade Territorial Rural (ITR) no valor de R$ 15 milhões, a
Associação de Quilombos Ilhas de Abaetetuba (Arquia) teve a cobrança suspensa
pelo o juiz Flávio Marcelo Sérvio Borges deferiu pedido de tutela antecipada,
em maio de 2012. Além disso, as famílias não poderão ser cobradas dos impostos
não pagos após 2006. Esta ainda não é a decisão definitiva do caso, mas já
permite que a associação tire a Certidão Negativa da Receita Federal e tenha
acesso a programas do governo federal que exigem que a associação não seja
inadimplente.
A defesa da Arquia na Justiça está sendo realizada
pelo escritório de advocacia Bichara, Barata, Costa & Rocha Advogados sem
custo nenhum para os quilombolas. Esta parceria foi viabilizada pela Comissão
Pró-Índio de São Paulo. É importante destacar que outras comunidades estão
sendo acionadas na Justiça para pagar o ITR.
Regulamentação da Convenção 169
O ano de 2012 foi marcado também pela decisão do
governo federal de regulamentar os procedimentos para a consulta prévia aos
índios, quilombolas e populações tradicionais garantida pela Convenção 169 da
Organização Internacional do Trabalho. Em janeiro, foi criado um Grupo de
Trabalho Interministerial (GTI) com essa atribuição e durante o primeiro
semestre foram realizadas reuniões com representações indígenas, quilombolas e
das populações tradicionais e da sociedade civil. A programação de reuniões
informativas acordadas para o segundo semestre de 2012 acabou não sendo colocada
em prática.
A Comissão Pró-Índio de São Paulo considera que a iniciativa do governo brasileiro de propor a regulamentação dos procedimentos de consulta prévia deve ser vista com cautela. A Sociedade precisará estar mobilizada para garantir uma regulamentação que assegure a plena eficácia ao direito de consulta e não implique em restrições de direitos.
O desrespeito ao direito de consulta pelo Estado
brasileiro é reconhecido no relatório do Comitê de Peritos na Aplicação das
Convenções e Recomendações da OIT divulgado em 2012. O relatório chama a
atenção para a falta de consulta, por exemplo, em relação à instalação e
expansão do Centro de Lançamentos de Alcântara e do Centro Espacial de
Alcântara no território das comunidades quilombolas do município de Alcântara
(MA).
Fonte: http://www.brasildefato.com.br/node/11139
13/11/2012
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