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sábado, 27 de abril de 2013

CUC: 35 ANOS DE LUTAS E RESISTÊNCIA NA GUATEMALA



Em 1978, centenas de indígenas e camponeses criavam o Comité de Unidad Campesina (CUC); objetivo era construir a unidade das diversas lutas camponesas que ocorriam no país.
 
Fabio Tomaz, da Ciudad de Guatemala
  
indígenas e camponeses na Guatemala - Foto:Ricardo Busquets
 
No Dia Internacional da Luta Camponesa (17 de abril) desse ano, em frente ao Palácio Nacional na capital da Guatemala, centenas de indígenas e camponeses celebraram os 35 anos do Comité de Unidad Campesina (CUC). Embora a data do aniversário da organização seja 15 de Abril, a data escolhida em solidariedade às lutas camponesas em todo o mundo, principalmente para relembrar o Massacre de Eldorado dos Carajás, ocorrido no Brasil em 1996 e exigir justiça e punição aos responsáveis.

Cabeça clara, coração solidário e punho combativo 

No dia 15 de Abril de 1978, camponeses indígenas e mestiços da Guatemala criavam CUC. O objetivo era construir a unidade das diversas lutas camponesas que ocorriam no país, como forma de avançar nas demandas populares do campo e organizar a resistência camponesa frente as violações de direitos humanos e massacres perpetrados pelo exército guatemalteco. 

Durante o surgimento do CUC, a Guatemala estava em plena guerra civil, onde se enfrentavam o exército guatemalteco (financiado e treinado pelos EUA e Israel) e as forças guerrilheiras do EGP (Ejército Guerrillero de los Pobres), FAR (Fuerzas Armadas Revolucionarias), ORPA (Organización del Pueblo en Armas) e PGT (Partido Guatemalteco del Trabajo). O exército utilizava a Política de Terra Arrasada, com a estratégia de “tirar a água do peixe”, ou seja, exterminar qualquer comunidade que apoiasse os movimentos insurgentes. 

A primeira aparição pública do CUC foi em 1º de Maio de 1978. Milhares de camponeses e indígenas saíram às ruas do país apresentando suas demandas, seus princípios e sua disposição de luta, com a palavra de ordem “Cabeça Clara, Coração Solidário e Punho Combativo”. 

Nos anos 80, quando todas as forças insurgentes se unificaram e criaram a URNG (Unión Revolucionaria Nacional Guatemalteca), a repressão e os massacres por parte do exército aumentaram, principalmente sob o governo do general Ríos Montt.

Entre suas ações, o CUC organizou a Grande Greve da Costa Sul, com mais de 80 mil trabalhadores paralisados, exigindo seus direitos. É durante esse período que se dá o genocídio na Guatemala, com centenas de comunidades exterminadas, mais de 250 mil assassinatos e mais de 1 milhão de pessoas expulsas de suas terras. O CUC foi uma organização central na defesa dos diretos camponeses e indígenas, denunciando os massacres e organizando a autodefesa das comunidades. E por causa dessa luta, foi perseguido. Muitos dirigentes e militantes foram assassinados. Outros tiveram que sair o país e viver no exílio. 

Em 1985, desde uma reunião no México, o CUC se reorganiza e se reestrutura frente a política genocídio do governo. Sai a público outra vez em 1º de Maio de 1987, integrando suas bases a Unidad de Accíon Sindical y Popular (UASP). As principais demandas são devolução das terras roubadas pelos militares, a desmilitarização das comunidades, o fim o recrutamento forçado de jovens e crianças e a dissolução das Patrullas de Autodefensa Civil (PAC). 

Anos 90 e a perspectiva da paz 

No início década de 90, o CUC participa ativamente na Campanha Continental “500 Anos de Resistência Indígena, Negra e Popular”. Participa também da criação da Via Campesina e da Coordenadora Latinoamericana de Organizações do Campo (CLOC). 

Em nível nacional, o CUC contribuiu para o surgimento de outras organizações camponesas, indígenas, de mulheres, de desalojados, etc. Também contribuiu para criação de diversas coordenações, como Majawil Q´ij, COPMAGUA, Nukuj Ajpop e CNOC, fortalecendo a unidade das lutas populares guatemaltecas. 

Participou dos debates das negociações de paz, através da Assembleia da Sociedade Civil, construindo propostas de uma institucionalidade que ajudasse a concretizar os acordos de identidade e direitos dos povos indígenas e a solucionar a situação agrária criada pelos 500 anos de colonização e pela guerra. Em 1996, são firmados os Acordos de Paz na Guatemala, pondo fim a 36 anos de guerra civil. 

Porém, com a assinatura do Tratado de Livre Comércio (TLC) com os EUA, em abril de 2005, as medidas que poderiam solucionar os problemas indígenas e camponeses previstas pelos Acordos de Paz são abandonadas pelos governos. 

A luta continua 

Desde que o ex-general Otto Pérez Molina assumiu a presidência da Guatemala, em janeiro de 2012, um grupo de militares ligados à repressão dos anos 80 ocupam importantes postos no governo. O próprio Pérez Molina é acusado de ser um dos responsáveis pelos Massacres em Nejab. Neste contexto, o CUC vem sendo alvo de inúmeras perseguições. O processo de criminalização e repressão atualmente tem o CUC como principal alvo. Os assassinatos e sequestro de líderes populares aumenta dia após dia. 

Mesmo diante desse quadro, o CUC segue em sua luta contra os megaprojetos de mineração e a expansão do agronegócio na Guatemala, que afeta centenas de comunidades e milhares de indígenas e camponeses. A teimosia e a rebeldia do CUC segue assustando a classe dominante guatemalteca, com suas ocupações, bloqueios de rodovias e denúncias frente ao atual modelo econômico da Guatemala. 

A história do CUC se mescla com a história do povo guatemalteco. Os milhões de indígenas maias da Guatemala (Kaqchikeles, Tz'utujiles, Pocomames, Ch'orti'es, Uspantekos, Sipakapenses, K'iche's, Mames, Chuj's, Akatecos, Awacatecos, Sakapultecos, Chalchitecos, K'eekchies, K'anjob'ales, Ixiles, Achi'es, Tektiteko e outros) somam-se aos Xincas, Garífunas e mestiços nas lutas populares. E o CUC segue sendo uma referência para essas e outras lutas na Guatemala. 

Em seus 35 anos, o CUC representa a resistência, a luta e as conquistas dos povos da Guatemala. Mas ainda há muito o que fazer diante do objetivo principal do CUC: "Arrancar de raíz la injusticia y el sistema opresor".

Mais sobre o assunto: 

Fonte:http://www.brasildefato.com.br/node/12756

25/04/2013

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