"Agora, a desintrusão já começou. Os anciões
esperaram muito tempo para tirar os não-índios da terra. Sofreram muito. A vida
inteira sofrendo, esperando tirar os fazendeiros grandes [...] a lei
federal, a Constituição, as autoridades estão do nosso lado"
Por Damião Paridzane - Cacique da aldeia
Marãiwatséd
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Damião Paridzane - Cacique da aldeia
Marãiwatséd
|
Na ECO-92, começamos a lutar pela nossa terra de
Marãiwatsédé.
Neste território, os ancestrais, nossos bisavós
viviam em cima da terra. Este território é de origem do povo de Marãiwatsédé.
Nesta terra amada foi criado o povo de Marãiwatsédé.
Agora, a desintrusão já começou. Os anciões
esperaram muito tempo para tirar os não-índios da terra. Sofreram muito. A vida
inteira sofrendo, esperando tirar os fazendeiros grandes.
A lei federal, a Constituição, as autoridades estão
do nosso lado. As autoridades da Força Nacional, Exército, Polícia Federal
estão do nosso lado porque a presidente Dilma sabe que a terra é dos Xavante de
Marãiwatsédé. Agradecemos as autoridades e todas as entidades que nos apoiam
nessa luta da verdade contra a mentira. A desintrusão é ótima.
Será que a terra é dos brancos? Será que os pais,
os avós, os bisavós dos fazendeiros nasceram aqui? A gente sabe, a comunidade
de Marãiwatsédé sabe. Não nasceram! Quem sempre ocupou a terra foi o índio. O
Xavante de Marãiwatsédé. Hoje, a comunidade espera tranquila a desintrusão.
Quem ocupava a terra eram nossos pais, nossos avós,
nossos bisavós que nasceram aqui, cresceram aqui, fizeram festa para
adolescente. Lutaram muito, faziam ritual dentro do território de Marãiwatsédé.
Nem fazendeiro, nem posseiro viviam aqui antes de 1960. Era só índio, os
anciãos lembram, só tinham duas casas em São Félix do Araguaia.
Quando fomos retirados para a TI [Terra Indígena]
São Marcos já que criaram os municípios e o nosso território foi destruído.
Quem destruiu foi o índio ou foi o branco? A gente
sabe mesmo. Foi o branco que destruiu a floresta, essa não é a nossa vida.
Nossa vida é preservar a terra, a natureza, os rios, os lagos. É assim que a
gente vive.
Nosso povo respeita nossa mãe e nossa mãe é a natureza. Nós esperamos tranquilos a nossa vitória. Dormimos tranquilos, sonhamos bonito com a vitória da nossa terra.
Nosso povo respeita nossa mãe e nossa mãe é a natureza. Nós esperamos tranquilos a nossa vitória. Dormimos tranquilos, sonhamos bonito com a vitória da nossa terra.
Antes da retirada de nossa terra, mataram muitos
Xavante. Os fazendeiros daquele tempo eram muito bandidos. Mataram com tiro.
Morreram Tseretemé, Tsercnhitomo, Tsitomowê, Pa'rada, Tseredzaró. Todos mortos
com tiro. Não vamos trair os espíritos deles. Eles só foram tombados em cima
desta terra. Será que os fazendeiros vão pagar indenização?
Quando o povo de Marãiwatsédé morava aqui, quem
apareceu primeiro foi Ariosto Riva. Ele fez fotos com o nosso povo. Ele enganou
os Xavante, destruiu nossa terra. Não pediu para o povo Xavante se podia
destruir a floresta. Foi ele que invadiu nosso território. Os mais velhos
lembram. O piloto dele era o Nélson. A comunidade Xavante de Marãiwatsédé quer
a terra de volta. Ela foi reduzida.
A diferença do Xavante de Marãiwatsédé com os
outros Xavante é porque os Xavante de Marãiwatsédé estão sempre preservando a
floresta. Não é só o Cerrado. A floresta (Amazônica) é principal para nossos
bisavós que viviam aqui.
É a mata misteriosa que só os Xavante de
Marãiwatsédé conhecem seus segredos. Por isso, os antepassados sempre
preservaram a floresta, porque ela é da nossa cultura.
Essa terra é nossa origem. Os Xingu também
protegiam esta terra, os antepassados dos Kalapalo eram amigos dos antepassados
dos Xavante de Marãiwatsédé.
Os animais não podem sofrer mais com tanta
destruição da natureza. Quando a terra for devolvida para nosso povo, a
floresta vai viver novamente. Vão voltar animais e plantas. Nossa mãe vai ficar
muito forte e muito bonita, como sempre foi. É assim que tem que ser.
Fonte: http://www.brasildefato.com.br/node/11356
11/12/2012
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