A Assembleia Geral das Nações
Unidas finalmente reconheceu o país como Estado soberano, nas fronteiras
que ele tinha antes de junho de 1967; dos 193 países da ONU, 138 votaram a
favor do reconhecimento, com apenas 9 votos contrários e 41 abstenções
Baby Siqueira Abrão Correspondente no Oriente Médio
Hoje o povo palestino acordou e dormiu em festa. A
Assembleia Geral das Nações Unidas, corrigindo parte do erro cometido há 65
anos – quando recomendou, sob pressão e ameaças dos sionistas, a partilha da
Palestina – finalmente reconheceu o país como Estado soberano, nas fronteiras
que ele tinha antes de junho de 1967. Nessa data, Israel ocupou militarmente o
que restava da Palestina, confiscando suas terras e suas fontes de água, obrigando
os habitantes nativos a uma vida marcada pela opressão, pela humilhação e pela
dificuldade.
Criança levanta com orgulho a bandeira de sua pátria |
Dos 193 países da ONU, 138 votaram a favor do
reconhecimento, com apenas 9 votos contrários e 41 abstenções. Ao não se dobrar
a novas ameaças e pressões por parte de Israel e dos Estados Unidos, os
representantes dos 138 países enfraqueceram a posição de ambos, cada vez mais
isolados no cenário internacional.
Comandados, tanto Israel quanto os EUA, pelo
movimento sionista internacional – adepto da guerra, da força e da violência
como forma de controle de povos ocupados e arquitetos da “guerra sem fim”,
estado de beligerância permanente no mundo –, as duas nações derramaram
críticas ao voto da maioria.
Foi um exemplo flagrante de desrespeito à
autodeterminação dos povos, de culto ao colonialismo e à violência exercida
sobre os palestinos desde o início das “conversações de paz”, eufemismo para o
expansionismo israelense em terras pertencentes ao povo palestino.
No Brasil, as lideranças palestinas presentes ao
Fórum Social Mundial Palestina Livre comemoraram o feito. Todas elas, dos
jovens de Gaza ao embaixador palestino no Brasil, Ibrahim Alzeben, passando por
representantes dos Comitês Populares Contra o Muro e as Colônias, como Abdallah
Abu Rahmah, foram unânimes em afirmar que agora, como Estado, a Palestina pode
enfrentar os sionistas de Israel com armas diplomáticas mais eficazes.
Deixamos de ser ‘territórios’ ocupados; agora somos
um país ocupado por outro, e podemos ir aos órgãos internacionais exigir a
desocupação”, explicou Ibrahim Alzeben. Isso significa que a Palestina não será
mais obrigada a assinar tratados como o de Oslo, que na prática entregaram mais
de 60% da Cisjordânia – a melhor parte, cultivável e com fontes de água – nas
mãos de Israel, que tem o controle total e efetivo dessa área.
Abdallah e Ehab - Foto: Baby Siqueira Abrão |
“Podemos ir ao Tribunal Penal Internacional
denunciar os sionistas de Israel pelos crimes cometidos contra os palestinos”,
disse também o embaixador da Palestina no Brasil.
Abdallah Abu Rahmah tem o
mesmo ponto de vista. Enquanto os sionistas ficarem impunes, Israel continuará
com sua política de opressão, assassinato e violência contra os palestinos. “É
até possível que os israelenses aumentem ainda mais a repressão, em
consequência da nossa conquista”, diz Abdallah. “Mas agora temos organismos
internacionais aos quais recorrer.”
Zayneb, da campanha Sede de Justiça - Foto: Baby Siqueira Abrao |
Zayneb, da campanha Sede de Justiça, que trabalha
por justiça em relação à água da Palestina, confiscada, controlada e vendida
por Israel aos palestinos, também saudou a decisão da ONU como recurso que pode
conter a violência israelense. “Os ataques e os confiscos aumentaram muito nos
últimos tempos”, diz ela. “São desapropriações de terras, de casas, destruição
de plantações, uso excessivo do nosso aquífero. Talvez agora tenhamos meios de
impedir isso.”
Nida’a Aniss Abu Al Atta - Foto: Baby Siqueira Abrão |
Em Gaza, Nida’a Aniss Abu Al Atta, que conseguiu
sobreviver a todos os bombardeios de Israel a sua terra, também está
esperançosa. “Tive de vir ao Brasil para ver minhas amigas da Cisjordânia, porque
Israel não permite que os habitantes de Gaza vão à Cisjordânia e vice-versa”,
exemplifica ela. “Israel também me impede de estudar na Birzeit [considerada a
melhor universidade da Palestina, na Cisjordânia] e efetua bombardeios pesados
a Gaza quando bem entende. Com o reconhecimento da Palestina como Estado, agora
talvez possamos ao menos sobreviver.”
Em Porto Alegre, os milhares de participantes da
passeata pela Palestina Livre tomaram conhecimento da decisão das Nações Unidas
durante a manifestação. Impressionado com o número de pessoas, com a batucada,
as bandeiras das diferentes organizações, dos vários partidos e sindicatos, com
as cores, a garra da juventude que gritava palavras de ordem libertárias na Avenida
Salgado Filho, Ehab Lotayef, da Frota da Liberdade e do novo projeto da
coalizão, a Arca de Gaza (Gaza’s Ark), declarou esperar que a unidade entre
tantas facções diferentes, no Brasil, inspirasse os palestinos. “Só com a
unidade a Palestina terá a força necessária para ser efetivamente soberana e
livre”, concluiu ele.
Na Palestina, Hanan Ashrawi, liderança feminina do
comitê executivo da OLP e chefe do Departamento de Cultura e Informação também
da OLP agradeceu aos 138 países que votaram a favor da Palestina. “Em nome do
povo e da liderança palestina, estou honrada em me dirigir aos Estados que
decidiram apoiar a paz, a justiça, a moralidade e a decência humana votando a
favor da Palestina como Estado observador não membro”, disse ela.
“Vocês demonstraram coragem e integridade ao agir
de acordo com sua consciência em vez de se sujeitar aos ditames do poder e da
intimidação. Vocês enviaram aos povo palestino e ao mundo a mensagem de que é
possível proteger os vulneráveis e resistir à agressão no domínio da
responsabilidade global. Vocês resgataram as chances de paz apoiando as forças
da razão e da responsabilidade em vez do irracional e irresponsável exercício
da força e da violência. Vocês nos deram esperança, e nos comprometemos a
trabalhar com todos para tornar mais pacífico e humano o mundo que
compartilhamos.
O espaço legal, político e moral do Estado da Palestina –
embora muito atrasado – é um tributo à justiça e o triunfo do espírito humano
diante da adversidade”, finalizou.
Fonte: http://www.brasildefato.com.br/node/11255
30/11/2012
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