Helena Silvestre, integrante do movimento Luta
Popular, explica as pautas da periferia e os motivos para as mobilizações.
Ana Paula Salviatti de São Paulo
As manifestações iniciadas na região central da
capital paulista no mês de junho tomaram o restante do país. Não tardou para o
movimento chegar à periferia da cidade de São Paulo, que saiu às ruas com
manifestações reivindicando pautas claras e objetivas.
Em entrevista ao Brasil de Fato,
Helena Silvestre, integrante do movimento Luta Popular, explica melhor essas
pautas e os motivos para as mobilizações.
Helena Silvestre |
Brasil de Fato - O que a periferia leva
às ruas?
Helena Silvestre - Bem, vimos a importância das lutas que
estão ocorrendo Brasil afora. Nós já vínhamos discutindo ações conjuntas com o
MPL, a ideia inicial já era fazer lutas nas regiões mais pobres, mais
periféricas, que são as que de fato sofrem mais com o transporte caro e de má
qualidade.
No entanto, os atos centrais tomaram uma força e
uma proporção que nos fizeram adiar um pouco as ações regionais. Quando setores
de direita começaram a se infiltrar nas manifestações, nós pensamos: chegou a
hora do povo mais pobre se mobilizar pelas suas reivindicações históricas
represadas! É a hora das periferias se levantarem e deixarem claro que essa
luta é do povo mais pobre, do povo trabalhador.
Brasil de Fato - E quais são as pautas
das manifestações?
Helena Silvestre - Nossa forma
de construir as lutas levou à composição de uma pauta comum entre todos os
movimentos que participam [da mobilização]. Assim, vamos reivindicar prazos
para a construção da extensão do metrô até o Jardim Ângela, isto porque esta é
uma demanda de tempos, que não sai do papel. O povo que vive no extremo da zona
sul sofre muitíssimo para se deslocar até o centro para trabalhar.
A estrada de M'Boi Mirim é incompatível com a
quantidade de pessoas que precisam se mover no sentido do centro. Nós temos visto
o metrô acontecer na Faria Lima, por exemplo, priorizando uma região bastante
suprida por vias de escoamento, enquanto os rincões da zona sul ficam por
último.
Por isso, queremos prazos definidos para o
término da obra, prazos que não dependam do calendário eleitoral e sim das
necessidades das pessoas.
Outra reivindicação é o
passe livre, propriamente dito, ou seja, transporte público (reestatizado) e
gratuito para todos e todas. Sabemos que pode parecer uma utopia, mas não é! No
governo Erundina essa proposta foi feita e ela não retirava dinheiro de nenhuma
outra área social para garantir sua viabilidade, pelo contrário, uma política
de taxação severa dos imóveis nobres da cidade tornaria isso possível. A
necessidade dessa medida tem a ver com o acesso ã cidade. A cidade não será
todos e todas se não houver mobilidade garantida como direito e não como
mercadoria.
Garantia para as famílias que vivem às margens do
Córrego dos Freitas é outra das bandeiras que levantaremos amanhã. Este é um
córrego bastante extenso que perpassa mais de uma dezena de bairros na zona
sul, famílias que vivem precariamente.
A prefeitura elegeu estas áreas - onde
atuamos há mais de um ano e meio - como uma das primeiras ações de
reurbanização da Secretaria de Habitação Municipal. No entanto, como sempre, o
processo não respeita as famílias, aparece pronto e temos muitas dúvidas de se
aqueles que hoje moram precariamente conseguirão morar depois das obras. São
milhares de famílias. O primeiro trecho da obra - dividido em três partes -
conta com 1800 famílias atingidas.
A Construção de um Hospital no Capão também será
demandada, é uma antiga reivindicação dos movimentos de saúde que - após a
construção dos Hospitais em
Campo Limpo e M'Boi Mirim, ficou
no papel. O fim da repressão ao povo da periferia também é pauta nossa; a desmilitarização da polícia e o fim do batalhão de choque. Esta é uma demanda que se justifica apenas ao lembrar os dias de genocídio que vivemos no anos passado.
no papel. O fim da repressão ao povo da periferia também é pauta nossa; a desmilitarização da polícia e o fim do batalhão de choque. Esta é uma demanda que se justifica apenas ao lembrar os dias de genocídio que vivemos no anos passado.
Por último, a defesa das ocupações culturais na
região. Há espaços públicos que estavam vazios há anos - como a antigo sacolão
municipal do Parque Santo Antônio ou o espaço Cita na praça do Campo Limpo -
que foram ocupados por movimentos culturais periféricos que não possuíam
estruturas em regiões extremamente carentes de equipamentos culturais. Estes
espaços são constantemente ameaçados de despejo pela administração municipal e
nós reivindicamos sua permanência, eles permitem que a juventude acesse
oficinas, trabalhos e culturas que antes não acessavam.
Brasil de Fato - Qual é a recepção dos moradores dessas regiões a essas manifestações?
Brasil de Fato - Qual é a recepção dos moradores dessas regiões a essas manifestações?
Helena Silvestre - Os moradores
estão dando força, apoiando, legitimando as ações do movimento. Para quem luta
a vida inteira, pra quem tanto sofre com o descaso e as carências mil de todas
as dimensões, não é difícil compreender a justeza das manifestações. Temos
debatido, discutido, feito assembleias, reuniões, programas de rádios,
atividades culturais, enfim, iniciativas de organização e formação há semanas,
tudo para construir ações junto com o povo.
Brasil de Fato - O governo do Estado e a
Prefeitura de São Paulo já abriram diálogo com o movimento?
Helena Silvestre - Ainda não houve sinalizações de negociação. Em relação às famílias do córrego, temos um monólogo com a secretaria de habitação municipal. Monólogo porque apenas eles falam,apenas eles sabem o que é melhor, apenas eles conhecem a técnica e as necessidades. Vamos virar esse jogo com as mobilizações. Projeto pronto,não. Queremos participar, não precisamos de tutores que nos digam o que é melhor. Precisamos de políticas que comportem nossas necessidades, nossa dignidade e os nossos sonhos.
04/07/2013
Foto: Arquivo pessoal
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