Para o embaixador, não corresponde à realidade o
anunciado pela imprensa sobre o fim do Mercosul, da mesma forma que a
superestimação da Aliança do Pacífico.
Mário Augusto Jakobskind, do Rio de Janeiro (RJ)
Nas últimas semanas se intensificou nos grandes
meios de comunicação brasileiros a tese segundo a qual o Mercosul estaria com
os dias contados. Nesse contexto se insere também a apologia que vem sendo
feita à recente criação da Aliança do Pacífico, que reúne o México, Colômbia,
Chile e Peru, como um bloco econômico de suma importância e que tem tudo para
dar certo, ao contrário do que é apregoado sobre o Mercosul.
embaixador Samuel Pinheiro Guimarães |
Para o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, não
corresponde à realidade o anunciado pela imprensa sobre o Mercosul, da mesma
forma que a superestimação da Aliança do Pacífico. Guimarães, que é ex-Alto
Representante Geral do Mercosul, aprofunda o seu raciocínio assinalando que
sobretudo os Estados Unidos têm interesse em enfraquecer e mesmo liquidar o
bloco regional integrado pelo Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e mais
recentemente a Venezuela.
Já em relação à Aliança do Pacífico, Samuel
Pinheiro Guimarães não vê maior importância do novo bloco, que inclusive não
vai alterar em nada os interesses nacionais, já que o Brasil mantém relações
econômicas sólidas há tempos com os países integrantes do bloco. Ele citou o
exemplo do Chile, que tem 58 acordos de livre comércio, que não influem nas
relações econômicas com o Brasil.
Meios de comunicação
Sobre a cobertura dos meios de comunicação às
questões relacionadas com o Mercosul, Guimarães lembrou que, historicamente, a
grande mídia sempre teve posição favorável aos interesses estrangeiros. “Foram
contra, por exemplo, a criação da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), da
Petrobras, etc. Defenderam incondicionalmente os governos neoliberais
fracassados de Carlos Menem, na Argentina, de Carlos Salinas de Gortari, no
México, e agora seguem a regra dando prioridade ao combate sistemático ao
Mercosul”, afirma.
Para o embaixador, a prioridade da política externa
estadunidense é conseguir a abertura de mercados para seus produtos – como faz
com alguns países latino-americanos como, entre outros, o México e a Colômbia –
e, consequentemente, a eliminação de tarifas. “Como a existência de um bloco
nos moldes do Mercosul contraria essa política, o objetivo da enxurrada contra
é exatamente o de impedir o comércio, sobretudo, entre Brasil e Argentina”,
explica.
O fato de o Brasil e a Argentina serem as duas
maiores economias do Mercosul não significa que os demais integrantes do bloco
– Uruguai e Paraguai – estejam relegados, como analisam os grandes meios de
comunicação.
Samuel Pinheiro Guimarães lembrou, inclusive, que o Brasil,
através de um fundo do Mercosul, destinou 500 milhões de dólares para a
construção de linhas de transmissão de Itaipu a Assunção, o que permitirá ao
Paraguai não só superar seus problemas energéticos, como também se
industrializar. O mesmo aconteceu com o Uruguai em termos de ampliação de
linhas de transmissão.
ESUDE
Outro tema abordado por Samuel Pinheiro Guimarães,
em entrevista ao Brasil de Fato, foi a recente criação, pelos 12 países
integrantes da União das Nações Sul Americanas (Unasul), da Escola Sul
Americana de Defesa (ESUDE). O embaixador acha que é de fundamental importância
a criação de um pensamento estratégico regional e admitiu que essa será uma
tarefa de médio a longo prazo, inclusive, para se superar ressentimentos que
perduram ao longo da história entre os países sul-americanos.
Ele citou
exemplos como: a Guerra do Chaco, que envolveu paraguaios e bolivianos; e o
impasse de Peru, Equador e Bolívia, que almejam uma saída para o Oceano
Pacífico em área hoje pertencente ao Chile.
Fonte: http://www.brasildefato.com.br/node/13625
17/07/2013
Foto: José Cruz/ABr
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