Em entrevista, Carlos Lozano
Guillén, porta-voz do movimento Marcha Patriótica, fala sobre o conflito
colombiano e o processo de paz.
Em visita à Caracas, na Venezuela,
por convite do Comitê de Solidariedade Internacional (COSI) para promover o
apoio ao processo dos diálogos de paz na Colômbia, o porta-voz do movimento
Marcha Patriótica, Carlos Lozano Guillén, concedeu entrevista ao Tribuna
Popular, jornal do Partido Comunista Venezuelano.
Guillén, que é membro do Comitê
Executivo Central do Partido Comunista Colombiano (PCC) e diretor do semanário
VOZ, detalhou a análise e a visão do PCC sobre o conflito colombiano e o
processo de paz. Segundo ele, “é preciso erradicar as causas que originaram o
conflito”.
Guillén alerta que a classe
dominante colombiana ataca o conflito para restringir a democracia no país.
Nesse sentido, ele defende que as garantias democráticas sejam dadas também
para a esquerda e os setores democráticos. “É necessário que se abra caminho
para a Constituinte. É fundamental a pressão popular e internacional para que
[o presidente colombiano Juan Manuel] Santos permaneça na mesa. O processo de
paz não pode ser refém das eleições”, afirmou.
Eis a entrevista a seguir:
Carlos Lozano Guillén |
Tribuna Popular: No
povo colombiano e na América Latina existe muita expectativa pelos diálogos que
estão se desenvolvendo em Havana pelo processo de paz na Colômbia. Qual é o
significado destes novos diálogos?
Carlos Lozano Guillén:
Têm um duplo significado, o que é muito importante para a Colômbia. Porque os
diálogos de paz significam a busca de uma solução política, democrática, do
longo conflito colombiano, de colocar um ponto final à guerra de mais de seis
décadas, que deixou imensas tragédias e que, é claro, se converteu numa espécie
de espada de Dâmocles para nosso país, não só pelo drama da confrontação, mas
também pela precariedade da democracia, cada vez mais restrita, na medida que a
classe dominante colombiana acredita que a melhor forma de atacar o conflito é
restringindo a democracia, precarizando as condições e as liberdades públicas
do povo colombiano.
Tribuna Popular: As
forças revolucionárias vem caracterizando o conflito colombiano como social e
político. Os diálogos de paz apontam a solução das razões que deram origem ao
conflito social e político?
Carlos Lozano Guillén: Tem que ser assim. Ou seja, o
conflito colombiano não é apenas militar. Possui sua origem econômica, social e
política. Por isso, para superar o conflito, é preciso que se erradique as
causas da origem do mesmo. É preciso consistir numa abertura da democracia e
para as melhores condições do povo colombiano. Por isso é que nós falamos de
paz com democracia e com justiça social.
Tribuna Popular:Estes
diálogos estão avançando com base numa agenda que foi acordada pelo governo de
Juan Manuel Santos e as FARC-EP, em agosto do ano passado. Nesta agenda se
encontra condensada a solução dos problemas econômicos, sociais e políticos do
povo colombiano?
Carlos Lozano Guillén: Existe um acordo geral que contém uma
agenda que apresenta seis pontos, entre eles o tema agrário, o da participação
política, o tema das vítimas, o marco jurídico que se chama de justiça
transicional, o tema do cessar fogo, os direitos humanos. No segundo tema,
sobre participação política, cujas negociações começaram agora, as FARC fizeram
dez propostas que contemplam temas fundamentais políticos, para poder avançar
rumo à melhores condições em matéria de liberdades públicas, do estatuto da
oposição, dos direitos de participação cidadã e das garantias, não somente para
as insurgências que se beneficiam com os processos de paz, mas para a esquerda
e os setores democráticos, de que vão ter um tratamento de igualdade ante a lei
para efeitos dos espaços políticos e eleitorais.
Os temas econômicos e sociais têm
que estar contemplados. De fato, uma parte deles já o estão, no tema agrário.
Porém, o tema de participação política e os temas superiores relacionados à
agenda, serão aprofundados, por exemplo, o modelo econômico, o tema dos
direitos trabalhistas. Sem dúvida que, na estreita relação com o modelo, tem
que se incluir o tema da saúde, que está totalmente privatizada e está
precarizando as condições de vida.
Então, esses temas estão na agenda,
possuem relação com o conflito, estão reconhecidos no preâmbulo e no contexto
do acordo geral que fala de que o conflito colombiano só pode ser superado se
existirem mudanças de natureza política, econômica e social. Isso foi acordado
pelo governo que, no entanto, agora diz que esses pontos não estão na agenda,
porque separa a agenda do preâmbulo e do contexto.
Porém, sem dúvida, isso tem
que ser levado em consideração e, se querem a paz, têm que incluir os temas
sociais, econômicos e político que possuem espaço na agenda. O que acontece é
que o governo, em sua visão estreita, acredita que tudo pode ser resolvido
dizendo à guerrilha que seus dirigentes poderão ser senadores, congressistas,
que poderão aspirar aos cargos de eleição popular...
Tribuna Popular:Uma
barganha?
Carlos Lozano Guillén: Sim, uma barganha. E, certamente,
isso é importante, pois se as FARC e o ELN, as guerrilhas, conquistam a paz,
aspirarão um espaço de participação. No entanto, eles dizem que isso não é o
fundamental, porque o que será resolvido em Havana são problemas da sociedade
colombiana, de todo o país e, por isso, caso se queira a paz, a paz com
democracia e com justiça social, são fundamentais as mudanças sociais,
econômicas e políticas.
Tribuna Popular: O
Estado colombiano e o governo têm uma identidade capitalista e as FARC,
historicamente, se reivindicam como marxistas-leninistas. Portanto, possuem um
projeto socialista. Como podem se acordar forças que possuem projetos de país
absolutamente antagônicos?
Carlos Lozano Guillén: Aí, o importante é que tanto as FARC
como o governo saibam colocar os limites existentes nessa mesa de diálogo.
Porque não se pode aspirar uma revolução por contrato, não se pode fazer isso
numa mesa de diálogo. As revoluções são feitas pelos povos, são feitas pelas
massas populares e creio que isso é perfeitamente compreendido pela guerrilha
das FARC.
Então, ali na mesa de diálogos de
Havana, o alcance das mudanças é relacionado aos problemas que originaram o
conflito, que são os que estão contemplados nessa agenda contida no acordo
geral. Ou seja, não são marximalistas, são mudanças muito concretas e, por isso
insisto, do que se fala é de paz com democracia e com justiça social, não
estamos falando de paz com socialismo ou paz sem capitalismo. Isso não se está
negociando.
Uma vez que se conquiste a paz com
democracia e justiça social, o desafio para a esquerda, incluindo as forças
insurgentes que se beneficiam com o processo de paz, é a acumulação de forças
para a construção de caminhos para uma transformação revolucionária da
sociedade colombiana.
Isso está claro, ou seja, a esquerda unitária deve
converter-se numa opção real de poder popular na Colômbia. Uma abertura
democrática pode ajudar esse projeto, justamente, por conta do fato de que a
esquerda não ter avançado o suficiente na Colômbia não se deve apenas aos erros
– porque eles existem, é claro –, porém não se deve só e exclusivamente aos
erros da esquerda. O fundamental foi o vazio da democracia, a guerra suja, a
intimidação, as campanhas de extermínio, a estigmatização da esquerda, que é o
que conseguiu enfraquecê-la, quase aniquilá-la em muitos episódios trágicos da
história colombiana.
Aqui se trata é de ganhar um espaço
democrático suficiente para que essa esquerda e os setores democráticos possam
atuar no cenário político em pé de igualdade, sem intimidações, sem que se
afete a vida e a existência dessas organizações de esquerda, de tal maneira que
possam atuar no espaço político, no panorama nacional com opção de poder.
Tribuna Popular: Tanto
as FARC como outras organizações revolucionárias ressaltaram que o diálogo de
paz não pode resumir-se à mesa de Havana e estimulam Fóruns, Encontros, espaços
de debate e discussão, elaborando propostas para o estudo das partes em diálogo. Este
chamado à participação é para o conjunto da sociedade ou para uma parte dela?
Carlos Lozano Guillén: É justamente gerar o espaço de
participação. Como dizíamos antes, em Havana não se vão resolver os problemas
da guerrilha ou do governo, mas problemas da sociedade. Então, essa sociedade,
que é heterogênea, tem que garantir esse espaço de participação. Um deles são
os Fóruns nacionais convocados pela mesa, que são organizados pelas Nações
Unidas e pela Universidade Nacional, as mesas regionais, que são organizadas
pelo Congresso. Porém, além disso, as próprias iniciativas das organizações
populares, democráticas também estão ocorrendo. A Marcha Patriótica, por
exemplo, está promovendo as Constituintes Regionais, Territoriais e Temáticas
em todo o país, que são expressões da vontade do povo de construir uma opção
própria para respaldar o processo de Havana e, também, de fazer suas próprias
propostas, apresentar quais são suas iniciativas, que enriquecem o debate de
Havana.
Tribuna Popular: Essa
iniciativa de Constituintes Regionais está inserida na proposta feita pelas
FARC sobre a necessidade de uma Assembleia Nacional Constituinte?
Carlos Lozano Guillén: Sim. De fato, as Constituintes
Regionais estão, porque são propostas pela Marcha Patriótica e convocam todas
as organizações populares. De toda a maneira tratam-se de exercícios
pedagógicos do que pode ser uma Assembleia Nacional Constituinte (ANC) e têm
como objetivo principal promover a ANC, já que a mesma precisa ser um acordo
entre as partes, legitimado e legalizado pelo próprio Congresso da República.
Então, as Constituintes Regionais
são um peso real na vida nacional, na medida que contribuem para abrir caminho
à ANC, que é a vontade do eleitorado, que é a participação cidadã, com o
entendimento de que é múltipla. Ou seja, aí estarão as organizações populares,
democráticas, os sindicatos, os Partidos políticos de direita ou de esquerda,
os diferentes estamentos que compõem a sociedade, por alguns chamada de
“sociedade civil”.
Tribuna Popular: Na
Colômbia, legalmente, como se pode convocar uma ANC?
Carlos Lozano Guillén: A ANC é convocada pelo Congresso da
República, como proposta do governo nacional ou de um grupo representativo de
cidadãos. Neste caso, certamente seria uma proposta do governo ao Congresso
como parte do acordo da mesa de Havana.
Tribuna Popular: As
FARC preveem que o governo faça a proposta ao Congresso e que este faça essa
convocatória e estabeleça a forma de integração da ANC?
Carlos Lozano Guillén: Prevê isso ou sua alternativa, que um
grupo numeroso, conforme dito na Constituição, de cidadãos e cidadãs, o
solicite, mediante um documento público. Ou seja, caso o governo se negue a
fazê-lo, seria possível utilizar essa alternativa. Claro, como é uma mesa de
negociação, o que se pretende é que o governo a aceite e a apresente ao
Congresso, tendo em vista que o governo possui a maior quantidade de
parlamentares. Através de sua coalizão de governo, chamada “Unidade Nacional”,
tem 92% do Congresso. Portanto, não pode dizer que não têm força suficiente
para isso.
É um pouco o que dizia um dos
dirigentes das FARC, Pablo Catatumbo, numa entrevista em que falava que o
governo necessita de capacidade de manobra, governabilidade. Porque, na
realidade, o que se vê é que, apesar de controlar o Congresso, existem
demasiadas fissuras, inclusive no próprio governo, pois enquanto Santos diz uma
coisa, o Ministro de Defesa diz outra. Então, quando reclamamos ao governo e ao
presidente que faça coesão no governo, o que Santos explica é: “ah, é que
existem uns Ministros que saem da linha do governo”. Não, um governo não pode
ter duas linhas e a solução ele tem. Para que exista apenas uma linha, aqueles
que não se submeterem, têm de sair.
Tribuna Popular: O
PCC é otimista sobre as possibilidades reais deste diálogo?
Carlos Lozano Guillén: O Partido Comunista é moderadamente
otimista. Não somos pessimistas, mas tampouco exageradamente otimistas. Somos
conscientes das contradições do presidente Santos, de suas veleidades, de suas
vacilações, das concessões que faz ao militarismo. Então, esse vaivém pode
levar a um determinado momento em que adote uma linha distinta da que vem
mantendo até agora.
Santos não é uma pessoa de
confiança. Nós o reconhecemos como uma pessoa audaz, para chamá-lo de alguma
maneira, por ter se sentado numa mesa de diálogo com as FARC, mas também
reconhecemos suas profundas debilidades. Uma delas é que ele é indeciso, faz
concessões, se deixa levar pelas mudanças de ânimo, pelas pesquisas. Quando as
pesquisas mostram sua popularidade muito baixa, ele busca uma maneira de
subi-la, fortalecendo, às vezes, a linha militar para aproximar-se da direita
ou promovendo qualquer outro tipo de concessão. Então, numa dessas veleidades
dele, repentinamente, pode terminar rompendo o processo. Essa é uma
possibilidade.
Certamente, aqui é fundamental a pressão popular na Colômbia, a
pressão internacional, para que este senhor fique na mesa, pois ele nunca se
comprometeu em permanecer ali, qualquer que seja a situação que se dê. Em
contrapartida, a delegação das FARC sempre disse: daqui não nos levantamos. Se
vai romper, que rompa o governo.
Tribuna Popular: Para
2014, estão previstas, na Colômbia, as eleições legislativas em março e
presidenciais em maio.
As FARC apresentaram a ideia de que se adiem as eleições.
Santos e o governo imediatamente responderam negativamente a essa
possibilidade. Ajudaria aos diálogos de paz adiar as eleições por um ano?
Carlos Lozano Guillén: Nós somos partidários de discutir o
assunto. Acreditamos que está fundamentado, a delegação de paz das FARC
apresentou a proposta com argumentos, com argumentos orientados a continuar
pressionando o governo quanto aos tempos fatais, que são os tempos eleitorais,
e aos tempos de mandato, dizendo: o tempo da atual legislatura se esgotará e
não serão introduzidas mudanças que requeridas no país...
Tribuna Popular: O
processo de paz deve ser ligado aos períodos eleitorais?
Carlos Lozano Guillén: O processo de paz não pode ser refém
das eleições e nem do tempo de mandato. O processo de paz possui sua dinâmica.
É que estamos falando de um conflito de seis décadas, de profundas
contradições. É, justamente, por isso que estão sentados, negociando, porque
são partes que não pensam igual e que, sobre alguns temas, pensam de maneira
diametralmente oposta. Construir acordos sobre essa base não é fácil: requer
tempo, requer a busca de consensos. Aqui tem que ser com base em consensos, é a
forma como vão se definir os caminhos. Então, o processo de paz não pode
depender de prazo. A proposta das FARC foi orientada um pouco nesse sentido:
bom, se esse é o problema, prolonguemos o tempo. Isso também não agrada o país.
Além disso, não sei, a partir do ponto de vista legal, o quão fatídico seria, o
quão ajustado à lei e à Constituição. Seria necessário analisar, falar com os
especialistas nestes temas. Ainda que na Colômbia os advogados, eu também o
sou, são especialistas em buscar brechas... se diz “feita a lei, feita a
armadilha”.
Tribuna Popular: O
processo de paz colombiano e estes diálogos em particular, não têm prazo, não
se sabe o quanto vão durar?
Carlos Lozano Guillén: O governo vem violando o acordo
geral, pois o acordo geral não contempla tempo, o acordo geral fala de um tempo
razoável. O que é um tempo razoável? O tempo que não é indefinido, que não é
eterno, mas que é estritamente indispensável para resolver um assunto, um
problema. É disso que se trata, que o processo de diálogo tenha o tempo
estritamente indispensável para ele. Além disso, o acordo agrega uma
metodologia e diz a cada período é necessário apresentar um balanço quanto o
andamento do diálogo, a fim de dinamizar o processo, de fazer os ajustes que
sejam necessários.
Em nenhuma parte se defende que tais acordos transcorram de
maneira lenta. Então, o governo pode romper. Não, muito pelo contrário. Quando
se diz que é preciso fazer um balanço para dinamizar o diálogo, o objetivo é
que, se descoberto que o mesmo não segue num bom ritmo, seja colocado o ritmo e
não para romper. Então, o governo incorre em duas violações do acordo: a
primeira, estabelece um tempo arbitrariamente, o que, de fato, não consta no
acordo. A segunda, ameaça com a ruptura, quando não está tampouco prevista a
ruptura no acordo. No acordo, o que se diz é que o objetivo é a paz estável e
duradoura, não a ruptura.
Tribuna Popular: Justamente,
falando sobre essas possibilidades de ruptura e de ações que sabotam os
diálogos, o presidente Santos recebeu em Bogotá o ex-candidato presidencial
Capriles Radonski. Qual é a apreciação do PCC com respeito a esta ação e o
impacto do papel que o governo venezuelano tem jogado no processo de paz?
Carlos Lozano Guillén: O Partido Comunista repudiou essa
reunião, além de qualificá-la como um ato de inimizade e desleal do presidente
Santos com o governo bolivariano da Venezuela, porque Capriles não é o chefe da
oposição simplesmente. Como explica Santos: “a qualquer país que vá, eu me
reúno com a oposição”, e alguns dizem: ah, Piedad Córdoba ia à Venezuela, se
reunia com Chávez e agora se reúne com Maduro. Porém, esse não é o ponto. O
senhor Capriles não é um líder da oposição, é um líder dos golpistas, dos que
querem minar a democracia na Venezuela e que desconhece os resultados
legítimos, constitucionais, democráticos de um processo eleitoral, desconhece o
governo bolivariano. Então, é um ato no qual se está favorecendo não a um chefe
da oposição, mas a um perturbado, a um golpista.
E o outro é o ato de deslealdade
com quem serviu à causa da paz na Colômbia. O presidente Chávez foi definitivo
para que funcionasse a mesa de diálogo e, hoje, o é o presidente Maduro. Isso
foi dito pelo próprio chefe da delegação do governo, o Doutor de la Calle Lombana: a
Venezuela foi fundamental para que possamos chegar a um final feliz. O mesmo
foi repetido por Iván Márquez, representante da delegação de paz das FARC. Aqui
Santos se equivocou. Eu não acredito que tão de boa fé, não acredito que tenha
sido ingênuo nisto, porque essa decisão de Santos resultou depois da visita do
Vice-presidente dos EUA à Colômbia. Foi então que recebeu Capriles e quando
anunciou, inclusive, o ingresso à OTAN, que é um pacto militarista, agressivo.
Tribuna Popular: A
OTAN protagonizou invasões e agressões imperialistas em distintos países. Qual
é a opinião do PCC sobre a proposta de Santos de incorporar a Colômbia nessa
organização militarista?
Carlos Lozano Guillén: Essa é a questão: o que tem a ver a
Colômbia com um pacto agressivo-militarista como a OTAN? Inclusive, os próprios
europeus que fazem parte da OTAN disseram que, geograficamente, a Colômbia não
cabe na organização. Os EUA disseram que eles poderiam ajudar para que a
Colômbia estivesse no Pacto da OTAN, porque têm interesse no território
colombiano para instalar suas bases militares, ameaçando todo o continente e,
certamente, intervindo mais diretamente no conflito colombiano, mais do que vem
fazendo não ao longo destes últimos anos, mas ao longo de todo o conflito
colombiano.
Tribuna Popular: Durante
os dois mandatos presidenciais de Uribe, se dizia muito no mundo que o governo
colombiano era o Israel da América Latina. E com Santos, continua sendo assim?
Carlos Lozano Guillén: Claro, é o Caim da América. Não é um
problema de presidentes, é um problema da classe dominante colombiana.
Concordemos que foi em Bogotá onde se fundou a OEA, o ministério de colônias
ianques, como dizia o comandante Fidel Castro em seu tempo, e o primeiro
Secretário Geral foi o Chanceler Lleras Camago, que era um símbolo dos
norte-americanos, uma personalidade colombiana. A classe dominante colombiana,
a oligarquia colombiana sempre foi servil, submissa aos interesses do
imperialismo. Para eles o tempo não passou, continuam sem a dignidade de se
colocarem em sintonia com as novas realidades que existem hoje na América
Latina, de se colocarem próximos à CELAC, à UNASUL e à ALBA. Não, a Colômbia continua
olhando pelos olhos de Washington e, por isso, não é coincidência que Mister
Biden chegue a Bogotá e que, três dias depois, Santos receba Capriles e faça o
anúncio da OTAN, que é um velho sonho dos EUA: converter a Colômbia num
território de Bases norte-americanas.
Tribuna Popular: Em
abril do ano passado lançou-se um movimento denominado Marcha Patriótica, do
qual faz parte o PCC. O que é a Marcha Patriótica e qual é sua perspectiva?
Carlos Lozano Guillén: A Marcha Patriótica é uma organização
social e política que é integrada fundamentalmente por organizações de base,
agrárias, sindicais, estudantis, de mulheres, de trabalhadores, de pessoas
ligadas à cultura, de todos que representam o espectro da sociedade colombiana
ávida de mudanças, de transformação. É isso que representa a Marcha Patriótica.
E, portanto, também de organizações políticas, como o Partido Comunista, como o
grupo liberal Poder Cidadão, de Piedad Córdoba, outros grupos menores que
saíram do Polo e que fazem parte da Marcha Patriótica.
A Marcha Patriótica tem uma dupla finalidade
dentro de sua premissa fundacional, que é: 1 – trabalhar pela paz, defender o
processo de paz de Havana, construir um caminho para a saída política,
democrática, do conflito colombiano; 2 – a Unidade, a unidade da esquerda e dos
setores democráticos. Não só a unidade revolucionária, mas a unidade
democrática também, para formular uma opção de poder, que é a que pode
consolidar a paz. Um poder popular e democrático na Colômbia pode iniciar a
mudança para o Socialismo. Não podemos aspirá-lo na mesa de Havana. Em Havana,
ocorrerá uma abertura democrática para que se alcance o objetivo final, que é o
que desejamos. Porém, isso tem que ser complementado com um movimento muito
amplo, muito forte, influente, alternativo no país. Um movimento de movimentos
populares que possa capturar o poder para produzir as mudanças e abrir caminho
para o Socialismo, para uma nova realidade de uma Colômbia nova, possível.
Tribuna Popular: Para
o PCC continuam vigentes os postulados do fundamentais do marxismo-leninismo na
luta pelos Socialismo e o Comunismo?
Carlos Lozano Guillén: Disso não resta a menor dúvida. Nós
fizemos nosso Congresso Nacional no ano passado, onde reafirmamos o caráter
marxista-leninista do Partido Comunista e nossa concepção socialista e
comunista para uma nova sociedade. Para isso trabalhamos. Portanto, dentro
desse conceito, adotamos nossa tática e tudo isto que estamos fazendo hoje, de
construir um conceito de unidade popular, muito amplo, com opção de poder, vai
na direção de gerar as condições para que possamos avançar rumo esse desafio
socialista, rumo esse desafio revolucionário.
Tribuna Popular: Nesse
contexto, qual é o papel que está cumprindo o semanário VOZ?
Carlos Lozano Guillén: O VOZ cumpre o papel de ser uma
ferramenta ideológica no campo da comunicação e da batalha de ideias. O VOZ, é
claro, é um meio de comunicação expressamente ligado à vida e à existência do
Partido Comunista Colombiano, porém vai mais além do Partido Comunista. É uma
espécie de ponte entre o PCC e o movimento popular, o movimento sindical, os
setores mais avançados. Por isso, nos preocupamos muito que nosso discurso,
nossa mensagem, interprete essa realidade, sem abandonar nossos princípios, sem
abandonar nossa condição militante e comunista. No entanto, também devemos
entender que nossa mensagem transcende os limites do Partido.
Então, nesse sentido, o periódico é
uma ferramenta para a luta ideológica, para a luta popular, para a luta de
massas e, por isso, insistimos. O periódico expressa a plena vigência do
conceito leninista de ser um organizador, um educador, um agitador, um
propagandista, um organizador da luta popular, nossa mensagem tem que ser muito
direto e tem que ir nessa direção. Reclamamos sempre o direito que temos de
fazê-lo. Não caímos na hipocrisia da imprensa burguesa de dizer que somos
neutros. Não, nós não somos neutros. Nós, ao contrário, estamos alinhados com
uma política, com uma concepção, com uma ideologia revolucionária e com ela
trabalhamos e não a ocultamos e não a negamos.
A única condição que colocamos para
tornar mais eficaz nosso trabalho é nos apoiarmos na verdade, isso sim. Não
inventamos nada. Não descontextualizamos as propostas que fazemos, nos baseamos
em conceitos reais, verídicos, em coisas que existiram, em fatos históricos que
se dão e que nos auxiliam na formulação de nossos projetos teóricos, nossos projetos
ideológicos e que são parte de nossa contribuição a esta luta revolucionária na
Colômbia.
Carlos Lozano Guillén
- É membro do Comitê Executivo Central do Partido Comunista Colombiano (PCC) e
diretor do semanário VOZ.
Tradução: Partido
Comunista Brasileiro (PCB)
Fonte: http://www.brasildefato.com.br/node/13630
17/07/2013
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