Em Honduras, manifestações exigem a anulação do julgamento e a
liberdade definitiva da dirigente indígena da etnia lenca.
Giorgio Trucchi da LINyM Tradução de Felipe Canova
Gonçalves
No dia 24 de maio, Bertha Cáceres,
coordenadora do Conselho de Organizações Populares e Indígenas de Honduras
(Copinh), foi detida ilegalmente por tropas do exército e da polícia local,
juntamente com o comunicador social e membro da mesma organização Tomás Gómez,
enquanto viajavam de carro para a região do rio Blanco, onde há mais de 70 dias
comunidades indígenas da etnia lenca, com o apoio incondicional do Copinh,
protestam contra o projeto hidrelétrico Agua Zarca.
Durante a abordagem policial,
Cáceres e Gómez foram tratados com violência injustificada, sendo a líder
indígena acusada de porte ilegal de arma, e em seguida liberada com medidas
cautelares alternativas à prisão.
A coordenadora do Copinh teve que
comparecer à primeira audiência do julgamento, nessa quinta-feira (13), para
responder por um crime que, segundo o Copinh e as inúmeras notas de
solidariedade que vieram de várias partes do planeta, não só não teria sido
cometido, mas seria parte de um plano maior de criminalização e repressão da
luta indígena, camponesa e popular em Honduras.
Poucos dias antes da audiência dessa quinta-feira (13), a LINyM conversou com Bertha Cáceres. Confira a entrevista:
Bertha Cáceres |
LINyM: Faltam poucos
dias para o início de seu julgamento na cidade de Santa Bárbara. Como você está
se preparando?
Bertha Cáceres: Em
primeiro lugar quero reiterar que se trata de um julgamento político, através
do qual se pretende seguir criminalizando a luta histórica que o povo lenca
está travando contra o saque de recursos e territórios, neste caso específico
contra o projeto hidrelétrico Água Zarca. São mais de 70 dias de luta durante
os quais as comunidades lencas e o Copinh se mantiveram firmes, sem abrir mão
de suas bandeiras de luta.
LINyM: Quais são as
acusações?
Bertha Cáceres
- Primeiro a Promotoria e agora a Procuradoria Geral da República me acusam de
posse ilegal de armas e de estar atentando contra a segurança interna do Estado
de Honduras. Nós não portávamos nenhuma arma. Trata-se de uma perseguição
judicial que é parte de uma hostilidade constante contra o Copinh, através de
perseguições de carro, ameaças de morte, intimidação e prisões ilegais, campanhas
de deslegitimação e de amedrontamento, em meio a uma crescente militarização
que está aprofundando a violação dos direitos humanos.
LINyM: Por que você
acha que agora estão te atacando pessoalmente?
Bertha Cáceres
- Sou coordenadora geral do Copinh e estive permanentemente na região do
protesto dando todo apoio à luta das comunidades lencas. Soubemos de fontes
fidedignas que a empresa que promove o projeto hidrelétrico esteve preparando
um plano para me atacar, e que até disse que 'eliminando ela os demais
desistem'. No entanto, estão muito equivocados, porque não se trata da luta de
uma pessoa, senão de centenas de moradores de comunidades que são autônomas em
suas decisões, que têm realizado mais de 30 assembleias indígenas durante este
período e que têm suas próprias autoridades e mecanismos de decisão. Podem
encarcerar-nos ou até assassinar-nos, mas a luta não vai parar. As comunidades
estão prontas e decididas e não vão permitir outra violação a seu território
ancestral.
LINyM: E como você
se sente no meio de toda esta situação?
Bertha Cáceres
- Me sinto forte e digna, e não me vão intimidar com estas medidas repressivas.
E me dá ainda mais força a resistência do Copinh, das comunidades, bem como a
solidariedade nacional e internacional. Durante toda minha vida estive
consciente do que pode acontecer sendo parte desta luta, como também estou
consciente de que estamos enfrentando a um poder oligarca, banqueiro,
financeiro e multinacional, além do próprio Estado de Honduras e seus aparelhos
repressivos, que historicamente se dobraram aos interesses das grandes empresas
multinacionais.
Fonte: http://www.brasildefato.com.br/node/13242
14/06/2013
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