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domingo, 7 de julho de 2013

EXPRESSÕES “ULTRAPASSADAS” NA REALIDADE DO SÉCULO XXI



“Conhecer é um anseio que não dissipa com a constatação das colossais dificuldades encontradas nos caminhos do conhecimento.” - Leandro Konder.





Por Ari de Oliveira Zenha




A grande maioria das análises e interpretações da realidade veiculadas, não só pelos meios de comunicação como, também, por escritores e teóricos das mais variadas formações, desvirtuam, omitem, substituem, em suas análises, conceitos, palavras, expressões que, segundo eles, já são ultrapassadas pela “realidade histórica” presente.

São termos que surgiram a partir de um momento histórico da humanidade e que tiveram e tem um significado histórico extremamente importante, pois representa uma postura, um significado filosófico real, revolucionário, ideológico de contextualizar o real no campo do pensamento, do conhecimento e da transformação da sociedade.

Essas palavras, termos e mesmo expressões estão sendo abolidas do vocabulário cotidiano e acadêmico e sendo substituídas por outras com significado vago, impreciso, mitificador, em nome de um “novo momento histórico”, no qual as ciências, principalmente as humanas e sociais, são recheadas por essas “novas” terminologias.

  "Expressões como proletariado, burguesia, luta de classes, exploração do trabalho, relações antagônicas de classes, entre outras, são termos consagrados (não petrificados) pelo materialismo histórico"


 
Termos Consagrados

Expressões como proletariado, burguesia, luta de classes, exploração do trabalho, relações antagônicas de classes, entre outras, são termos consagrados (não petrificados) pelo materialismo histórico (marxismo), em sua luta pelo conhecimento de uma realidade histórica específica – o capitalismo. Constituem, ademais, uma “arma” de demarcação clara no processo de construção de uma sociedade socialista-democrático-popular.

Embora o pensamento socialista (marxista) seja hoje alvo incessante de ataque dos ideólogos do capital e dos pseudo-socialistas, as expressões acima trazem consigo significados consagrados historicamente, de uma postura transformadora, desmitificadora, revolucionária, não dogmática, democrática e esclarecedora das relações entre capital e trabalho.

Como diz Vázquez: “... A outra tarefa é a de manter viva a crítica do capitalismo como sistema injusto que não pode resolver as contradições estruturais que geram injustiças (falta de trabalho, miséria, mercantilização crescentes, destruição da natureza e, sobretudo, aquilo que Marx já denunciava nos Manuscritos de 1844: a transformação do homem em meio, instrumento ou mercadoria)”. ... “Enfim, o marxismo não pode renunciar – embora os tempos não se mostrem propícios para isso – à exigência de elevar a consciência da necessidade, da possibilidade e do desejo pela mudança social, e a inspirar os atos práticos necessários a isso...”

Vale também citar este pequeno trecho de um poema de Brecht:

 “Só acredite no que seus olhos veem e seus ouvidos escutam,
Não acredite nem no que seus olhos veem e seus ouvidos escutam.
E saiba que, afinal, não acreditar ainda é acreditar.”

Crença no Socialismo

Isto pode significar que, embora muitos exercitem a descrença, esta nunca suprime a crença (não teológica) na possibilidade histórica do socialismo, não imediata, não determinista, não voluntarista, nem idealista (no sentido pejorativo) da construção efetiva, pelos agentes históricos (trabalhadores), de uma sociedade socialista-democrática, libertadora e humana.

 "Ao empregar determinados termos ou expressões em suas análises, Marx efetuou àquela época uma revolução inédita na ciência econômica que permanece até hoje"



Podemos “estabelecer” a distorção, abolição de palavras e as desvirtualizações de expressões do materialismo histórico ou, como alguns colocam, científico, como consistindo de um processo que perdurou principalmente a partir dos estudos efetuados por Karl Marx sobre a gênese e desenvolvimento do capitalismo no século XIX.

Ao empregar determinados termos ou expressões em suas análises, Marx efetuou àquela época uma revolução inédita na ciência econômica que permanece até hoje. Vários “partidários” de suas ideias realizaram alterações no sentido originalmente dado aos termos por Marx, levando a uma profusão de interpretações onde manifestavam suas concepções e explanações a respeito de temas que desenvolviam fossem eles conjunturais,  estruturais e históricos.

Desvirtuados

Também os ideólogos do capital utilizam termos marxistas, tornando mais conturbado o real significado terminológico e analítico praticado por Marx. Os ideólogos do “socialismo real”, burocrático e antidemocrático, realizaram verdadeiras aberrações ao distorcer o real significado dos termos e mesmo análises que Marx efetuou para dar sustentação aos projetos políticos e econômicos por eles executados.

Como consequência, ocorreu uma das mais infames manipulações e alterações, teóricas e históricas, que repercutiu tanto na antiga União Soviética como mundialmente. 

Essas manipulações e/ou alterações converteram-se nas mais mesquinhas e antirrevolucionárias ideias e ações, amplamente disseminadas pelos seus ideólogos, provocando um embotamento do pensamento socialista atrelando os movimentos transformadores da humanidade aos interesses e necessidades políticas e econômicas do “socialismo real”.

Pensamento Socialista

As consequências de tudo isso refletem até hoje no enfraquecimento do aprimorar e do desenvolver do pensamento socialista, que nos capacita expressar uma evolução dos caminhos para aperfeiçoar e ampliar o conhecimento.

Alguns podem criticar o preciosismo terminológico porventura embutido nessas argumentações. Contudo, aqueles que assim pensam e agem estão assumindo uma postura ideológica conservadora, afirmando os valores linguísticos da classe dominante – a burguesia – e abraçando filosófica, histórica e ideologicamente o movimento conservador que impera hoje - o neoliberalismo.

O ajustamento linguístico e etimológico, que uma série de profissionais e ciências realizam, diz respeito não só ao conhecimento e à sua transmissão, como também está engajado na luta que se trava entre capital e trabalho, em que os ideólogos do liberalismo assumem a postura que é de interesse do capital e que este impõe ao mundo.

Portanto, no campo da linguagem, no significado etimológico das palavras utilizadas, travam-se, também, importantes embates entre capital e trabalho.

Ari de Oliveira Zenha é economista
Fonte:http://carosamigos.terra.com.br/

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