“Conhecer
é um anseio que não dissipa com a constatação das colossais dificuldades
encontradas nos caminhos do conhecimento.” - Leandro Konder.
Por Ari de Oliveira Zenha
A grande maioria das análises e interpretações da realidade veiculadas, não só
pelos meios de comunicação como, também, por escritores e teóricos das mais
variadas formações, desvirtuam, omitem, substituem, em suas análises,
conceitos, palavras, expressões que, segundo eles, já são ultrapassadas pela
“realidade histórica” presente.
São termos que surgiram a partir de um momento
histórico da humanidade e que tiveram e tem um significado histórico
extremamente importante, pois representa uma postura, um significado filosófico
real, revolucionário, ideológico de contextualizar o real no campo do
pensamento, do conhecimento e da transformação da sociedade.
Essas
palavras, termos e mesmo expressões estão sendo abolidas do vocabulário
cotidiano e acadêmico e sendo substituídas por outras com significado vago,
impreciso, mitificador, em nome de um “novo momento histórico”, no qual as
ciências, principalmente as humanas e sociais, são recheadas por essas “novas”
terminologias.
"Expressões como proletariado,
burguesia, luta de classes, exploração do trabalho, relações antagônicas
de classes, entre outras, são termos consagrados (não petrificados)
pelo materialismo histórico"
Termos Consagrados
Expressões
como proletariado, burguesia, luta de classes, exploração do trabalho, relações
antagônicas de classes, entre outras, são termos consagrados (não petrificados)
pelo materialismo histórico (marxismo), em sua luta pelo conhecimento de uma
realidade histórica específica – o capitalismo. Constituem, ademais, uma “arma”
de demarcação clara no processo de construção de uma sociedade
socialista-democrático-popular.
Embora
o pensamento socialista (marxista) seja hoje alvo incessante de ataque dos ideólogos
do capital e dos pseudo-socialistas, as expressões acima trazem consigo
significados consagrados historicamente, de uma postura transformadora,
desmitificadora, revolucionária, não dogmática, democrática e esclarecedora das
relações entre capital e trabalho.
Como
diz Vázquez: “... A outra tarefa é a de manter viva a crítica do capitalismo
como sistema injusto que não pode resolver as contradições estruturais que
geram injustiças (falta de trabalho, miséria, mercantilização crescentes,
destruição da natureza e, sobretudo, aquilo que Marx já denunciava nos
Manuscritos de 1844: a transformação do homem em meio, instrumento ou
mercadoria)”. ... “Enfim, o marxismo não pode renunciar – embora os tempos não
se mostrem propícios para isso – à exigência de elevar a consciência da
necessidade, da possibilidade e do desejo pela mudança social, e a inspirar os
atos práticos necessários a isso...”
Vale
também citar este pequeno trecho de um poema de Brecht:
“Só acredite no que seus olhos veem e seus ouvidos escutam,
Não acredite nem no que seus olhos veem e seus ouvidos escutam.
E saiba que, afinal, não acreditar ainda é acreditar.”
Crença no Socialismo
Isto
pode significar que, embora muitos exercitem a descrença, esta nunca suprime a
crença (não teológica) na possibilidade histórica do socialismo, não imediata,
não determinista, não voluntarista, nem idealista (no sentido pejorativo) da
construção efetiva, pelos agentes históricos (trabalhadores), de uma sociedade
socialista-democrática, libertadora e humana.
"Ao empregar determinados termos ou
expressões em suas análises, Marx efetuou àquela época uma revolução
inédita na ciência econômica que permanece até hoje"
Podemos
“estabelecer” a distorção, abolição de palavras e as desvirtualizações de
expressões do materialismo histórico ou, como alguns colocam, científico, como
consistindo de um processo que perdurou principalmente a partir dos estudos
efetuados por Karl Marx sobre a gênese e desenvolvimento do capitalismo no
século XIX.
Ao empregar determinados termos ou expressões em suas análises,
Marx efetuou àquela época uma revolução inédita na ciência econômica que
permanece até hoje. Vários “partidários” de suas ideias realizaram alterações
no sentido originalmente dado aos termos por Marx, levando a uma profusão de
interpretações onde manifestavam suas concepções e explanações a respeito de
temas que desenvolviam fossem eles conjunturais, estruturais e históricos.
Desvirtuados
Também
os ideólogos do capital utilizam termos marxistas, tornando mais conturbado o
real significado terminológico e analítico praticado por Marx. Os ideólogos do
“socialismo real”, burocrático e antidemocrático, realizaram verdadeiras
aberrações ao distorcer o real significado dos termos e mesmo análises que Marx
efetuou para dar sustentação aos projetos políticos e econômicos por eles
executados.
Como
consequência, ocorreu uma das mais infames manipulações e alterações, teóricas
e históricas, que repercutiu tanto na antiga União Soviética como mundialmente.
Essas manipulações e/ou alterações converteram-se nas mais mesquinhas e
antirrevolucionárias ideias e ações, amplamente disseminadas pelos seus
ideólogos, provocando um embotamento do pensamento socialista atrelando os
movimentos transformadores da humanidade aos interesses e necessidades
políticas e econômicas do “socialismo real”.
Pensamento Socialista
As
consequências de tudo isso refletem até hoje no enfraquecimento do aprimorar e
do desenvolver do pensamento socialista, que nos capacita expressar uma
evolução dos caminhos para aperfeiçoar e ampliar o conhecimento.
Alguns
podem criticar o preciosismo terminológico porventura embutido nessas
argumentações. Contudo, aqueles que assim pensam e agem estão assumindo uma
postura ideológica conservadora, afirmando os valores linguísticos da classe
dominante – a burguesia – e abraçando filosófica, histórica e ideologicamente o
movimento conservador que impera hoje - o neoliberalismo.
O
ajustamento linguístico e etimológico, que uma série de profissionais e
ciências realizam, diz respeito não só ao conhecimento e à sua transmissão,
como também está engajado na luta que se trava entre capital e trabalho, em que
os ideólogos do liberalismo assumem a postura que é de interesse do capital e
que este impõe ao mundo.
Portanto,
no campo da linguagem, no significado etimológico das palavras utilizadas,
travam-se, também, importantes embates entre capital e trabalho.
Ari de Oliveira Zenha é economista
Fonte:http://carosamigos.terra.com.br/
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