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domingo, 24 de março de 2013

DE CABRAL A CABRAL: OS GENOCÍDIOS NÃO PARAM


Lá se vão 513 anos que a branquitude promove os genocídios nestas terras. Do Cabral invasor ao Cabral governador, as vítimas são as mesmas, racialmente escolhidas.

Núcleo Akofena Bahia (BA)
 

São cenas de guerra, a desgraça em praça pública assistida por uma nação. Eles, como sempre estão lá, brinquedinhos do governo, soldadinhos acéfalos de chumbo. Empunham armas de fogo, alimentados por sangue. Amantes da carnificina, capitães do mato contemporâneos exercem a truculência genocida que o Estado brasileiro tem para nós, os índios e os negros.
Enquanto bravamente resistem os irmãos indígenas da Aldeia Maracanã, no Rio de Janeiro, nós, do Núcleo Akofena, aqui do negro recôncavo baiano, alimentamos de ódio a nossa militância acompanhando agoniados os noticiários. Vivemos insuflados de revolta pela guerra racial que travaram contra nós desde o sequestro à Africa, esta mesma revolta, sentimos pela guerra, também racial, travada contra os povos indígenas em suas terras, nos compreendemos do mesmo lado da trincheira de luta.

O Brasil assiste inerte o governador nazista, na “cidade das maravilhas”, expulsar a Aldeia Maracanã a tiros de borracha, sprays de pimenta e gás lacrimogêneo, do prédio que ironicamente vinha a ser o Museu do Índio, tudo isso em nome da paixão nacional, o futebol, a Copa. 

Neste mesmo cenário, pseudo-revolucionários, esmagadoramente brancos, tem feito a situação de palco político, teatral e de interesses contrários. Lá se vão 513 anos que a branquitude promove os genocídios nestas terras. Do Cabral invasor ao Cabral governador, as vítimas são as mesmas, racialmente escolhidas. 

A cada foto, vídeo, texto, acumula em nós, um sentimento de miséria compartilhada, que revertemos em solidariedade. Aqui, na memória da resistência negra, quilombola, favelada, temos cada quilombo destruído motivando os mesmos sentimentos que as lembranças do desenvolvimento hidrelétrico e industrial na Amazônia, a Usina Teles Pires entre o Pará e o Mato Grosso, o Belo Monte no Rio Xingu... 
 
 
Ver a resistência indígena alimenta a nossa fé. Em tempos de “pré grandes eventos esportivos” no Brasil, o terror do Estado contra comunidades indígenas e negras se intensificam, e a truculência armada contra a Aldeia Maracanã potencializa em nós a preocupação com o Quilombo Rio dos Macacos, em Simões Filho, na Bahia, que vem sofrendo violentas investidas da Marinha de Guerra do Brasil na tentativa de expulsão de suas terras ancestrais.  

Os Genocídios não param e assumem todas as frentes de ataques possíveis, sob os olhos dos setores de Direitos Humanos do governo que deveriam ser responsáveis pela defesa destes povos... Fundação Palmares, SEPPIR, SEPROMI, FUNAI, Comissão de Direitos Humanos, silenciam-se diante da nossa miséria. 

Apesar de toda tentativa da braquitude no poder em nos aniquilar, durante séculos resistimos, índios e negros. As resistências, porém, vêm acompanhadas de omissão e passividade em relação ao genocídio do outro. Devemos solidariedade a quem tomba no chão, vítimas das mesmas mãos e das mesmas armas que tombam corpos nossos.   

Neste momento, uma carta política não deve mudar em nada a vivência dos povos indígenas, mas compreendemos que nós do Movimento Social Negro - Núcleo Akofena, e Campanha Reaja ou Será Morta, Reaja ou Será Morto – devemos uma solidariedade histórica a estes índios.

 Todo nosso respeito, e todo e nosso sentimento. Infelizmente, somente pela impossibilidade geográfica, esta carta é a nossa contribuição mais viável à luta de vocês. 

Nós, que estamos na contenção direta com o Quilombo Rio dos Macacos, queremos demonstrar a aldeia Maracanã à nossa solidariedade quilombola, preta, favelada. Nós, que não recusamos nem um segundo a mais de ódio, nos solidarizamos a vocês, também guerrilheiros, sem escolha. Respeito Máximo! Essa luta também é nossa. Somos Quilombo Rio dos Macacos! Somos Aldeia Maracanã!!!

O Núcleo Akofena é uma organização social que, junto ao Quilombo X Ação Cultural, impulsiona a Campanha Reaja ou Será Morta, Reaja ou Será Morto!

Fonte:http://www.brasildefato.com.br/node/12423
23/03/2013

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