Lá se vão 513 anos que a branquitude promove os
genocídios nestas terras. Do Cabral invasor ao Cabral governador, as vítimas
são as mesmas, racialmente escolhidas.
Núcleo
Akofena Bahia (BA)
São cenas de guerra, a desgraça em praça pública
assistida por uma nação. Eles, como sempre estão lá, brinquedinhos do governo,
soldadinhos acéfalos de chumbo. Empunham armas de fogo, alimentados por sangue.
Amantes da carnificina, capitães do mato contemporâneos exercem a truculência
genocida que o Estado brasileiro tem para nós, os índios e os negros.
Enquanto bravamente resistem os irmãos indígenas da
Aldeia Maracanã, no Rio de Janeiro, nós, do Núcleo Akofena, aqui do negro
recôncavo baiano, alimentamos de ódio a nossa militância acompanhando agoniados
os noticiários. Vivemos insuflados de revolta pela guerra racial que travaram
contra nós desde o sequestro à Africa, esta mesma revolta, sentimos pela
guerra, também racial, travada contra os povos indígenas em suas terras, nos
compreendemos do mesmo lado da trincheira de luta.
O Brasil assiste
inerte o governador nazista, na “cidade das maravilhas”, expulsar a Aldeia
Maracanã a tiros de borracha, sprays de pimenta e gás lacrimogêneo, do prédio
que ironicamente vinha a ser o Museu do Índio, tudo isso em nome da paixão
nacional, o futebol, a Copa.
Neste mesmo cenário, pseudo-revolucionários,
esmagadoramente brancos, tem feito a situação de palco político, teatral e de
interesses contrários. Lá se vão 513 anos que a branquitude promove os
genocídios nestas terras. Do Cabral invasor ao Cabral governador, as vítimas
são as mesmas, racialmente escolhidas.
A cada foto, vídeo, texto, acumula
em nós, um sentimento de miséria compartilhada, que revertemos em
solidariedade. Aqui, na memória da resistência negra, quilombola, favelada,
temos cada quilombo destruído motivando os mesmos sentimentos que as lembranças
do desenvolvimento hidrelétrico e industrial na Amazônia, a Usina Teles Pires
entre o Pará e o Mato Grosso, o Belo Monte no Rio Xingu...
Ver a
resistência indígena alimenta a nossa fé. Em tempos de “pré grandes eventos
esportivos” no Brasil, o terror do Estado contra comunidades indígenas e negras
se intensificam, e a truculência armada contra a Aldeia Maracanã potencializa
em nós a preocupação com o Quilombo Rio dos Macacos, em Simões Filho, na Bahia,
que vem sofrendo violentas investidas da Marinha de Guerra do Brasil na
tentativa de expulsão de suas terras ancestrais.
Os Genocídios não
param e assumem todas as frentes de ataques possíveis, sob os olhos dos setores
de Direitos Humanos do governo que deveriam ser responsáveis pela defesa destes
povos... Fundação Palmares, SEPPIR, SEPROMI, FUNAI, Comissão de Direitos
Humanos, silenciam-se diante da nossa miséria.
Apesar de
toda tentativa da braquitude no poder em nos aniquilar, durante séculos
resistimos, índios e negros. As resistências, porém, vêm acompanhadas de
omissão e passividade em relação ao genocídio do outro. Devemos solidariedade a
quem tomba no chão, vítimas das mesmas mãos e das mesmas armas que tombam
corpos nossos.
Neste momento,
uma carta política não deve mudar em nada a vivência dos povos indígenas, mas
compreendemos que nós do Movimento Social Negro - Núcleo Akofena, e Campanha
Reaja ou Será Morta, Reaja ou Será Morto – devemos uma solidariedade histórica
a estes índios.
Todo nosso respeito, e todo e nosso sentimento. Infelizmente,
somente pela impossibilidade geográfica, esta carta é a nossa contribuição mais
viável à luta de vocês.
Nós, que estamos na contenção direta com o
Quilombo Rio dos Macacos, queremos demonstrar a aldeia Maracanã à nossa
solidariedade quilombola, preta, favelada. Nós, que não recusamos nem um
segundo a mais de ódio, nos solidarizamos a vocês, também guerrilheiros, sem
escolha. Respeito Máximo! Essa luta também é nossa. Somos Quilombo Rio dos
Macacos! Somos Aldeia Maracanã!!!
O Núcleo Akofena é uma organização social que,
junto ao Quilombo X Ação Cultural, impulsiona a Campanha Reaja ou Será Morta,
Reaja ou Será Morto!
Fonte:http://www.brasildefato.com.br/node/12423
23/03/2013
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