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Segundo ONG e advogados, detentos que participam de protesto passam de 100, número negado por militares/Foto: Reprodução |
Detentos da prisão norte-americana na baía de
Guantánamo, em Cuba, estão em greve de fome há 44 dias em protesto contra o
confisco de bens pessoais como fotografias, cartas e exemplares do Corão. A
informação partiu de advogados dos prisioneiros, que alertam para a
precariedade da saúde deles, classificada de "extremamente grave".
Segundo os defensores, a persistência da direção da
prisão em manter a punição, além das já alegadas contínuas violações aos
direitos humanos dos detidos, só fez aumentar o número de grevistas.
A direção da prisão fala em 14 detentos, mas a rede
norte-americana NBC afirma que eles chegam a 21. A ONG Centro de Direitos
Constitucionais, baseada em Nova York, afirma a greve de fome já alcança 130
dos 166 detentos.
Na última quinta-feira (14), um grupo de 51
advogados escreveu uma mensagem ao novo chefe do Pentágono (secretário de
Defesa dos EUA), Chuck Hagel, pedindo que ele interviesse, após não terem
obtido resposta do comando da prisão. Também não foram respondidos.
Segundo os defensores, a maioria dos detentos
(corroborando os números da ONG estadunidense) do campo 6 (setor da prisão que
possui o maior número de detentos) está em "greve de fome desde 6 de
fevereiro".
"Eles realmente estão ameaçando suas próprias
vidas em um esforço heroico para expressar seu senso de autonomia e seu ultraje
por estarem presos no que pode ser considerada nada menos do que uma câmara de
tortura medieval norte-americana", afirmou o antropólogo Mark Mason, especialista
em fatores culturais causadores de sofrimento humano, em entrevista à rede
russa RT. "Mais da metade deles está livre de acusações. Eles deveriam
estar na rua, saírem da prisão hoje mesmo", adicionou Mason.
Testemunha ocular
O ex-detento de Guantánamo Murat Kurnaz descreveu
ao RT as condições que encarou enquanto estava preso lá, e explicou as razões
por trás da greve de fome. “Fui torturado de várias formas diferentes. Não
existem direitos humanos lá. Isso significa que eles podem fazer o que quiserem
com a gente”, disse Kurnaz.
“Eles me torturaram para me forçar a assinar documentos e toda a vez que eu recusava, eles continuavam a me torturar de maneiras diferentes."
“Eles me torturaram para me forçar a assinar documentos e toda a vez que eu recusava, eles continuavam a me torturar de maneiras diferentes."
“Eu não consigo descrever as condições horríveis, o
tratamento e a humilhação que muitos desses detentos reportaram. Eles são
obrigados a ficar em pé, sem roupas, em salas geladas por horas. Só isso já
constitui estresse físico, é uma tortura psicológica indescritível”, completou.
“Eles [militares norte-americanos] realmente tentam de tudo para nos quebrar,
incluindo tortura física e psicológica.
Eu mesmo fui torturado com eletrochoques e waterboarding [simulação de afogamento]. Presenciei ainda crianças entre nove e 12 anos dentro dos campos. É muito difícil observar essas crianças sendo espancadas em minha frente”, acrescentou”.
Eu mesmo fui torturado com eletrochoques e waterboarding [simulação de afogamento]. Presenciei ainda crianças entre nove e 12 anos dentro dos campos. É muito difícil observar essas crianças sendo espancadas em minha frente”, acrescentou”.
Kurnaz explicou que os detentos têm “vários bons
motivos” para fazerem greve de fome. “É uma situação difícil, os prisioneiros
querem ir ao tribunal e querem seus direitos de volta. Eles não têm a
oportunidade de ir ao tribunal ou de verem suas famílias. Eles nem têm o
direito de escrever ou receber cartas”.
Por sua vez, o diretor de Relações Públicas da
prisão, capitão Robert Durand, negou qualquer irregularidade no tratamento aos
detentos. "Vamos continuar a levar nossa missão de providenciar um
ambiente seguro e humano”, disse em comunicado. Ele confirmou o confisco de
exemplares do Corão, mas alegou motivos de segurança.
Durand negou que a greve de fome tenha sido adotada
pela maioria dos detentos e culpa os advogados de espalharem falsas
informações.
A prisão de Guantánamo, criada durante o governo do
republicano George W. Bush para deter suspeitos de terrorismo, a maioria de fé
islâmica - mesmo sem julgamento prévio ou autorização judicial -, tinha sido
alvo de críticas, em 2008, do então candidato democrata à Presidência dos
Estados Unidos, Barack Obama, que chegou a afirmar que o fechamento do
estabelecimento seria seu primeiro ato caso fosse eleito presidente.
Quatro anos depois, mesmo após ter sido reeleito, nenhuma medida do governo norte-americano foi tomada nessa direção.
Quatro anos depois, mesmo após ter sido reeleito, nenhuma medida do governo norte-americano foi tomada nessa direção.
Fonte: http://www.brasildefato.com.br/node/12402
21/03/2013
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