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domingo, 20 de novembro de 2016

HÁ 35 ANOS, PARTIA MESTRE PASTINHA, CRIADOR DA CAPOEIRA DE ANGOLA.

Pastinha dedicou sua vida a defender, divulgar e ensinar uma das expressões culturais mais fortes do Brasil.
Mauro Ramos Brasil de Fato


"A capoeira é espiritualizada e materializada no eu de cada qual" / Reprodução

Vicente Ferreira Pastinha nasceu em 1889 e, segundo ele mesmo, aprendeu capoeira com apenas oito anos de idade, com um africano chamado Benedito que, ao vê-lo brigar com um garoto mais velho, resolveu lhe ensinar a capoeira.
Em 1902, Pastinha entrou para e escola de aprendizes marinheiros, onde passou oito anos de sua vida. Na Marinha, praticou esgrima e aprendeu a tocar violão. Ao mesmo tempo, ensinava capoeira a seus companheiros.
Em 1910, Mestre Pastinha começou a ministrar aulas de capoeira às escondidas na sua própria casa, pois a prática havia sido proibida, e quem contrariasse as regras poderia ir para a cadeia.
Pastinha se tornou defensor e a principal referência da capoeira de Angola, que possui movimentos mais lentos, rasteiros e lúdicos do que outros estilos do jogo.
No documentário “Pastinha, uma vida pela capoeira”, o escritor Jorge Amado fala sobre Pastinha:
“Ele era um homem pequeninho, não era alto; ágil como um gato. Eu me lembro de tê-lo visto brincar, jogar capoeira… num hábito tão importante tão belo, em que homens de todas as classes se juntavam para brincar ao som dos atabaques, as cantigas de escravos…”
Mestre Pastinha trabalhou ainda como pedreiro, pintor, entregando jornais, entre muitas outras ocupações.
Mestre Curió, discípulo de Pastinha, fala sobre o pensamento de seu mestre sobre a capoeira:
“Ele combatia a violência, e dizia que capoeira não é violência. Capoeira é arte, dança, mandinga, malícia, filosofia, educação, cultura e, na hora da dor, é que ela passa a ser uma luta perigosíssima”.
Em 1966, Mestre Pastinha realizou o seu sonho de conhecer a África ao representar o Brasil por meio da capoeira angola no 1º Festival Mundial das Artes Negras, em Dacar, no Senegal. Ele estava ficando cego, consequência de uma trombose que atingiu sua visão, e não chegou a passear em terras africanas.
O último lar do mestre foi no abrigo para idosos, Dom Pedro II, onde morreu aos 92 anos, no dia 13 de novembro de 1981.
Confira o programa Mosaico Cultural, da Radioagência Brasil de Fato CLICANDO NO LINK   https://soundcloud.com/brasil-de-fato/ha-35-anos-partia-mestre-pastinha-criador-da-capoeira-de-angola

Fonte: www.brasildefato.com.br

18 de Novembro de 2016

ARTICULAÇÃO DE MOVIMENTOS PROMOVE ATOS EM TODO BRASIL NO DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA

Pelo menos 18 capitais realizam manifestações, como São Paulo, Vitória, Manaus, Belém, Brasília e Rio de Janeiro.

Grupo Afro Imalê Ifé dança na celebração do Dia da Consciência Negra no monumento a Zumbi dos Palmares, em 2014 / Fernando Frazão/Agência Brasil
Manifestações em diversas cidades do Brasil irão celebrar neste domingo (20) o Dia da Consciência Negra. Os atos, que estão sendo organizados por uma articulação de movimentos negros chamada Convergência Negra, terá como mote "Fora, Temer, nenhum direito a menos para negros e negras!”.
Segundo nota dos organizadores, o objetivo do ato é "expor à sociedade que o governo de Michel Temer é oriundo de um golpe parlamentar e representa um retrocesso às conquistas democráticas e também uma ameaça aos direitos conquistados pela população negra nos últimos anos".
Um texto de convocação para as marchas apresenta onze pontos que unificam os movimentos negros brasileiros, como extermínio da juventude negra e intolerância religiosa.
Leonor Araújo, presidente nacional do Instituto Gangazumba e coordenadora do Coletivo de Entidades Negras (CEN), afirma que alguns atos serão no dia 20 e outros no dia 18, como em Vitória (ES), cidade onde mora. "Como os movimentos que participarão da marcha entregarão uma carta com pautas de reivindicação do povo negro ao governador do estado [do Espírito Santo, Paulo César Hartung Gomes], a marcha precisava acontecer em um dia útil", justifica.
Márcio Gualberto, coordenador político institucional no CEN e integrante da Convergência Negra em Salvador, conta que nas principais capitais haverá atos e manifestações, já que a data integra a agenda dos movimentos negros pelo país. Em cidades pequenas, médias ou grandes ocorrem atividades e, segundo ele aponta, pelo menos em 18 capitais haverá manifestação, e cita como exemplo São Paulo, Vitória, Manaus, Belém, Brasília, Rio de Janeiro e Maceió.
Marcha
Em Salvador (BA), o Dia da Consciência Negra será marcado por três atividades, com início ainda na madrugada do dia 20 com a ‘Alvorada dos Ojás’ que, de acordo com Gualberto, será uma cerimônia cultural que consiste em envolver os troncos das árvores do Dique do Tororó, lagoa onde estão as estátuas que representam os orixás, em um pano branco formando um laço. O ato simboliza a ligação do homem com a natureza. A atividade cultura é organizada pelo CEN, juntamente com outras entidades que partirão em caminhada até o Pelourinho.
Em mais dois pontos da cidade, nos bairros da Liberdade e Campo Grande, irão ocorrer duas marchas seguindo em direção ao encontro dos participantes da atividade cultural, como explica Gualberto. “Esse ano todas essas ações serão unificadas às 15h. Nós nos deslocaremos junto com o povo do Candomblé para o Pelourinho ao Terreiro de Jesus e receberemos as duas caminhadas que se unificarão ali, será uma culminância desses atos que ocorrem em lugares diferentes e elas se encontrarão para que a gente tenha um grande ato no centro de Salvador”, conclui.
Na capital paraense, como uma das manifestações em celebração ao Dia da Consciência Negra acontece o “Encontro de Negras e Negros do Pará (ENNPA) – Identidades negras, combate, enfrentamento e superação do racismo”, entre os dias 17 a 19 de novembro, organizado pelo Centro de Estudo e Defesa pelo Negro no Pará (Cedenpa).
O evento que será no Centro Cultural Tancredo Neves (Centur) e contará com feira de produtos de empreendedoras negras e empreendedores negros, exposição de artistas negras e negros, oficinas e plenárias. Os debates abordarão temas como o extermínio da juventude negra, a estética, a identidade, a religiosidade e a saúde. No dia 20, uma roda de negritude, com apresentação de artistas locais, encerrará o encontro, que será no Quilombo da República, localizado na Praça da República, em Belém.
E, integrando a agenda nacional, a marcha “Um milhão de negras e negros nas ruas contra o golpe” ocorreu em Belém, no dia 18. Segundo Arthur Leandro, integrante da Rede Amazônica de Matriz Africana (Reata), a data foi escolhida para que lideranças do povo tradicional de matriz africana pudessem participar, visto que a sexta-feira é um dia mais tranquilo nos terreiros. se comparado aos outros dias.
Em São Paulo (SP), a XIII Marcha da Consciência Negra será realizada no domingo (20), a partir das 11h no Museu de Arte de São Paulo (Masp), na Avenida Paulista. Na sexta (18), em comemoração a um ano da Marcha das Mulheres Negras, o coletivo impulsor da atividade no estado paulista organizou uma maratona de 12h de debates online. As entrevistas e debates estão disponíveis na página do coletivo de São Paulo da Marcha das Mulheres Negras.
Genocídio
Arthur Leandro, da Reata no Pará, afirma que várias organizações do movimento negro, coletivos de mulheres e juventude negra participarão da marcha em Belém afirmando o combate ao genocídio da população negra. Este ano, seis líderes afro-religiosos foram assassinados na região metropolitana da capital paraense, e neste mês é lembrado os dois anos da “Chacina de Belém”, nome pelo qual ficou conhecido o assassinato de onze jovens, todos moravam na periferia da cidade. “O Pará é um dos estados com maior índice de violência contra a juventude negra”, indica Leandro.
O “Mapa da Violência 2016: homicídios por armas de fogo no Brasil”, estudo que pesquisa a evolução de mortes causadas por armas de fogo, no período de 1980 a 2014, apontou que as maiores vítimas deste tipo de violência são homens jovens e negros. Segundo os dados do estudo, entre 2003 e 2014, as taxa de homicídios por arma de fogo na população branca diminuiu 26,1%, enquanto que na população negra aumentou 46,9%. No ano de 2003, morriam 71,7% mais negros do que brancos; em 2014, esse número saltou para 158,9%. Este é um dado que o próprio estudo chama de “perversa e preocupante” “seletividade racial”, ou seja, morrem 2,6 vezes mais negros do que brancos no país.
Fonte: www.brasildefato.com.br
20/11/2016
Edição: Vivian Fernandes


quinta-feira, 10 de novembro de 2016

CONTOS E LENDAS AFRICANAS


Os Griots
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Depois de um bom jantar, com a lua brilhando, as pessoas de uma aldeia na África antiga podem ouvir o som de um tambor, chocalho, e uma voz que gritava: "Vamos ouvir, vamos ouvir!" Esses foram os sons do griot, o contador de histórias.

Quando eles ouviram o chamado, as crianças sabiam que estavam indo para ouvir uma história maravilhosa, com música e dança e música! Talvez hoje a história seria sobre Anansi, a aranha. Todo mundo adorava Anansi. Anansi podia tecer as teias mais bonitas. Ele foi quem ensinou o povo de Gana como tecer o pano de lama bonito. Anansi teve uma boa esposa, filhos fortes, e muitos amigos. Ele entrou em muita confusão, e usou sua inteligência e poder do humor de escapar.

Houve outras histórias que o povo gostava de ouvir mais e mais. Algumas histórias eram sobre a história da tribo. Alguns eram grandes guerras e batalhas. Algumas eram sobre a vida cotidiana. Não havia linguagem escrita na África antiga. Os narradores acompanhavam a história do povo.

Havia geralmente apenas um contador de histórias por aldeia. Se uma vila tentava roubar um contador de histórias de outra aldeia, era motivo de guerra! Os contadores de histórias foram importantes. Os griots não eram as únicas pessoas que podiam contar uma história. Qualquer um poderia gritar: "Vamos ouvir, vamos ouvir!" Mas os griots eram os "oficiais" contadores de histórias. O griot aldeia não tem que trabalhar nos campos. Sua tarefa era contar histórias.

Mil anos mais tarde, novas histórias sobre novos triunfos e novas aventuras ainda estão sendo informados pela aldeia pelos Griots.






A DISPERSÃO DOS MACACOS
Antigamente, os macacos viviam num único grupo. Moravam num deserto onde não havia alimentos. Meteram-se, então, aos campos dos homens, para roubar comida; mas os donos guardaram-na. Vendo isso, os macacos combinaram o seguinte:
"Tomemos uma macaca, cortemos-lhe o rabo, transformemo-la, façamos dela uma mulher para que casem-se com ela, tenho um campo e nós aí comamos".
Agarraram numa macaca, cortaram-lhe o rabo e fizeram dela uma mulher. Um homem casou-se com ela e as pessoas abriram-lhe um campo muito grande. Depois do marido preparar a terra, homem e mulher quiseram semeá-lo, mas ela afirmou que podia fazer esse trabalho sozinha.
Quando a macaca foi semear, entoou esta canção:
Macacos, macacos,
Mueé, mueé
Vinde semear o milho
Eles ouviram-na. Semearam o milho e comeram o que sobrou. Mal se criaram as maçarocas, os macacos chegaram de novo para as comer, mas o marido afugentou-os com a espingarda.
Chegou o dia da colheita. Marido e mulher levaram o milho para casa. Os macacos ficaram furiosos e resolveram colar novamente o rabo à macaca. Levaram o rabo e iam cantando assim:
Andemos depressa
entreguemos o rabo à dona
Ao ouvirem esta canção, as pessoas ficaram surpreendidas. Os macacos chegaram a cantar e, encontrando a mulher deitada no chão, puseram-lhe o rabo, e logo ela se transformou em macaca, como dantes.
A aldeia estava cheia de macacos, mas, quando os homens pegaram nos arcos e nas espingardas, os macacos dispersaram, dois para um lado, três para o outro, e nunca mais se reuniram. Por isso há macacos em toda a parte.
(In: Contos Moçambicanos - INLD – 1979


Lenda do tambor africano
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Dizem na Guiné que a primeira viagem à Lua foi feita pelo Macaquinho de nariz branco. Segundo dizem, certo dia, os macaquinhos de nariz branco resolveram fazer uma viagem à Lua a fim de traze-la para a Terra. Após tanto tentar subir, sem nenhum sucesso, um deles, dizem que o menor, teve a idéia de subirem uns por cima dos outros, até que um deles conseguiu chegar à Lua.

Porém, a pilha de macacos desmoronou e todos caíram, menos o menor, que ficou pendurado na Lua. Esta lhe deu a mão e o ajudou a subir. A Lua gostou tanto dele que lhe ofereceu, como regalo, um tamborinho. O macaquinho foi ficando por lá, até que começou a sentir saudades de casa e resolveu pedir à Lua que o deixasse voltar.

A Lua o amarrou ao tamborinho para descê-lo pela corda, pedindo a ele que não tocasse antes de chegar à Terra e, assim que chegasse, tocasse bem forte para que ela cortasse o fio.
O Macaquinho foi descendo feliz da vida, mas na metade do caminho, não resistiu e tocou o tamborinho. Ao ouvir o som do tambor a Lua pensou que o Macaquinho houvesse chegado à Terra e cortou a corda. O Macaquinho caiu e, antes de morrer, ainda pode dizer a uma moça que o encontrou, que aquilo que ele tinha era um tamborinho, que deveria ser entregue aos homens do seu país. A moça foi logo contar a todos sobre o ocorrido.
Vieram pessoas de todo o país e, naquela terra africana, ouviam-se os primeiros sons de tambor.





O Homem e a Filha
Era uma vez um casal que teve uma filha. A mulher morreu pouco depois do parto e a criança foi criada pelo pai. Quando a menina cresceu, o pai anunciou-lhe:
__ Minha filha, quero casarcontigo!
Mas a menina respondeu:
__ Isso não é bom. Seremos descobertos pelos outros, pois no mundo não há segredos!
__ Sempre quero ver se no mundo não há segredos, disse o pai.
Foi buscar arroz, vazou duas medidas numa panela e cozinhou-o. Em seguida, levou a panela para o mato e enterrou-a. Ninguém sabia que ele tinha enterrado no mato uma panela cheia de arroz a não ser ele próprio e a filha.
Tempos mais tarde, apareceram homens com redes para caçar no mato. Eles não sabiam que no local onde caçavam, debaixo de uma árvore, estava enterrada uma panela cheia de arroz. Descobriram, admirados, que formigas brancas saídas da terra junto daquela árvore, transportavam grão de arroz.
De imediato cavaram o buraco e encontraram uma panela cheia de arroz cozido.
A filha, então, voltou-se para o pai:
__ Está a ver papá? Eu não lhe disse que o mundo não tem segredos?!

Comentário: No mundo não há segredos, a filha bem o sabia!

(Eduardo Medeiros-Contos populares moçambicanos,http://www.terravista.pt/Bilene/4619/Conto2.html)



A Menina que não Falava

Certo dia, um rapaz viu uma rapariga muito bonita e apaixonou-se por ela. Como se queria casar com ela, no outro dia, foi ter com os pais da rapariga para tratar do assunto.
__ Essa nossa filha não fala. Caso consigas fazê-la falar, podes casar com ela, responderam os pais da rapariga.
O rapaz aproximou-se da menina e começou a fazer-lhe várias perguntas, a contar coisas engraçadas, bem como a insultá-la, mas a miúda não chegou a rir e não pronunciou uma só palavra. O rapaz desistiu e foi-se embora.
Após este rapaz, seguiram-se outros pretendentes, alguns com muita fortuna mas, ninguém conseguiu fazê-la falar.
O último pretendente era um rapaz sujo, pobre e insignificante. Apareceu junto dos pais da rapariga dizendo que queria casar com ela, ao que os pais responderam:
__ Se já várias pessoas apresentáveis e com muito dinheiro não conseguiram fazê-la falar, tu é que vais conseguir? Nem penses nisso!
O rapaz insistiu e pediu que o deixassem tentar a sorte. Por fim, os pais acederam.
O rapaz pediu à rapariga para irem à sua machamba, para esta o ajudar a sachar. A machamba estava carregada de muito milho e amendoim e o rapaz começou a sachá-los.
Depois de muito trabalho, a menina ao ver que o rapaz estava a acabar com os seus produtos, perguntou-lhe:
__ O que estás a fazer?
O rapaz começou a rir e, por fim, disse para regressarem a casa para junto dos pais dela e acabarem de uma vez com a questão.
Quando aí chegaram, o rapaz contou o que se tinha passado na machamba. A questão foi discutida pelos anciãos da aldeia e organizou-se um grande casamento.
Eduardo Medeiros (org.). Contos populares moçambicanos, 1997http://www.terravista.pt/Bilene/4619/Conto2.html




Duas Mulheres


HAVIA DUAS MULHERES AMIGAS, uma que podia ter filhos __ e tinha muitos __ e a outra não.
Um dia, a mulher estéril foi a casa da amiga e convidou-a a visitá-la, dizendo:
__ Amiga, tenho muitas coisas novas em casa, venha vê-las!
__ Está bem __ concordou a outra.
De manhã cedo, a mulher que tinha muitos filhos foi visitar a amiga. Ao chegar a casa desta, chamou-a:
__ Amiga, minha amiga!
Trazia consigo um pano que a mulher estéril aceitou e guardou.
As duas amigas ficaram a conversar, tomando um chá que a dona da casa tinha preparado para as duas. Ao acabarem o chá, a dona da casa quis, então, mostrar à amiga as coisas que tinha comprado. Passaram para a sala e a mulher estéril abriu uma mala mostrando à amiga roupa, brincos, prata e outras coisas de valor.
No final da visita, a mulher que tinha muitos filhos agradeceu, dizendo:
__ Um dia há-de ir a minha casa ver a mala que eu arranjei.
E, um certo dia, a mulher que não tinha filhos, foi a casa da amiga. Mal a viram, os filhos desta gritaram:
__ A sua amiga está aqui!
Agradeceram a peneira que ela trazia na cabeça e guardaram-na. Começaram, então, a preparar o chá.
A mãe das crianças chamava-as uma a uma:
__ Fátima!
__ Mamã?
__ Põe o chá ao lume!
__ Mariamo!
__ Sim?
__ Vai partir lenha!
__ Anja!
__ Sim?
__ Vai ao poço
__ Muacisse!
__ Mamã?
__ Vai buscar açúcar!
__ Muhamede!
__ Sim?
__ Traz um copo!
__ Mariamo!
__ Vamos lá, despacha-te com o chá!
Assim que o chá ficou pronto, tomaram-no e conversaram todos um pouco.
Quando a amiga se ia embora, a mulher que tinha filhos disse:
__ Minha amiga, eu chamei-a para ver a mala que arranjei, mas a minha mala não tem roupa nem brincos! A mala que lhe queria mostrar são os meus filhos!
A mulher que não podia ter filhos ficou muito triste e, antes de chegar a casa, sentiu-se muito mal, com dores de cabeça e acabou por morrer.


(Eduardo Medeiros - Contos populares moçambicanos, 1997,http://www.terravista.pt/Bilene/4619/Conto2.html)


FONTE:http://mitosnobairrodapaz.blogspot.com.br/


sexta-feira, 19 de agosto de 2016

19 DE AGOSTO DIA DO HISTORIADOR

A proposta de homenagear os historiadores é de autoria do senador Cristovam Buarque (PDT-DF), um dos políticos mais capacitados para falar de educação neste país. Inicialmente, a data escolhida foi o dia 12 de setembro. Mas ai foi proposta uma emenda, aprovada pela comissão, que alterava a data para 19 de agosto. Isso tudo foi registrado na LEI Nº 12.130, DE 17 DE DEZEMBRO DE 2009. 


O objetivo era aproveitar a data para homenagear Joaquim Nabuco, que nasceu no dia 19 de agosto de 1849. Nabuco, para quem gosta de História do Brasil, foi um dos maiores abolicionistas deste país. Também foi político, diplomata, jurista, jornalista, um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras e também Historiador. 


Para homenagear a data de hoje, coloco aqui um trecho da justificativa do senador para criar o Dia do Historiador:

 “Um povo sem história é um povo sem memória. Essa afirmação, mais que um dito já popular, é também uma verdade histórica, pois todos os agrupamentos humanos que não preservaram sua memória - em histórias, documentos, objetos de arte e arquitetura - acabaram sucumbindo a ditaduras e até acabaram por desaparecer da face da Terra. 


Por essa razão, não apenas a disciplina que trata das histórias dos povos deve merecer nossa atenção, mas também os cientistas que se dedicam a essa tarefa tão nobre. Obviamente, a história se faz por seus protagonistas: lideranças políticas, religiosas e econômicas, por um lado; grupos populares, lutas contra a opressão e pela libertação, por outro. E para registrar tudo, o historiador. 


E de tal modo é importante o papel dos historiadores que, por vezes, eles ajudam, também, a reconfigurar a história de um País. Ao lado da Filosofia e da Literatura, a História está presente desde os primeiros momentos da nossa tradição ocidental, constituindo um dos saberes mais antigos de nossa civilização."

Meus parabéns a todos os colegas Historiadores! 




Acessado em 19 de agosto de 2016

segunda-feira, 25 de julho de 2016

DIA INTERNACIONAL DA MULHER NEGRA AFRO-LATINA E CARIBENHA E O DIA NACIONAL DA MULHER NEGRA

Redação São Paulo (SP)


Brasil de Fato / Arte: Gabriela Lucena

Hoje, nós mulheres negras celebramos o Dia Internacional da Mulher Negra Afro-Latina e Caribenha e o Dia Nacional da Mulher Negra, uma homenagem a luta da quilombola Tereza de Benguela.
As mulheres negras no Brasil são muitas e diversas. Somos jovens, quilombolas, cotistas, feministas, cristãs, lésbicas, militantes partidárias, mulheres trans, anarquistas, bissexuais, idosas, representantes de povos tradicionais de matriz africana, trabalhadoras domésticas, sem-terra, periféricas, imigrantes e refugiadas, rurais, mães, autônomas… 
Mulheres que, apesar da diversidade que nos separa, juntas formamos uma camada sobrevivente da sociedade. Não está fácil ser mulher e negra no Brasil, que a exemplo dos demais países latino-americanos e diaspóricos, segue tradição escravocrata e colonialista.
Hoje, há 49 milhões de mulheres negras brasileiras, que têm o protagonismo negativo de encabeçar os piores índices de direitos humanos em todas as áreas: saúde, emprego, moradia, acesso à educação, etc…
A nossa luta começa pelo primordial: as mulheres negras querem viver! O feminicídio no Brasil também tem cor: houve um aumento de 54% de assassinatos de mulheres negras. A cada 1 hora e 50 minutos uma mulher negra morre. Temos dificuldade de acessar a rede de proteção contra a violência por motivos diversos pautados pelo racismo e pobreza.
Dados da situação da mulher negra na sociedade brasileira revelam a urgência da articulação entre gênero e raça ser pensada dentro das políticas públicas. Mulheres negras têm três vezes mais chance de serem estupradas do que mulheres brancas, são as maiores vítimas de violência doméstica, as que mais padecem por conta da criminalização do aborto, sem falar na violência simbólica cotidiana, alimentada por uma mídia racista que invisibiliza a participação na sociedade de mulheres negras, indígenas, lésbicas e transexuais.

Foto: Da direita à esquerda Gisele Brito, Simone Freire, Juliana Gonçalves, Nadine Nascimento, Rute Pina, Norma Odara e Camila Rodrigues; jornalistas do Brasil de Fato.

Pluralidade de vozes e protagonismo feminino negro
A mídia hegemônica tem um lugar reservado para a figura da mulher negra e este espaço simbólico e real nunca é de protagonismo ou poder. Isso transparece desde os assuntos pautados até na cor da maioria dos profissionais de mídia.
Segundo a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) 23% dos jornalistas são negros e negras, embora não haja um recorte de quantas negras atuam como profissionais de imprensa. Os dados apontam que a maioria dos jornalistas brasileiros é formada por mulheres brancas, solteiras e com até 30 anos de idade. 
A ampliação da abordagem de jornais e revistas com recorte étnico racial passa pela contratação de profissionais negros. Dentro das redações, as jornalistas negras tendem a fazer a diferença.
“Nós, Mujeres”, o especial que entra no ar hoje no Brasil de Fato, é prova disso. Somos sete mulheres negras, produzindo conteúdo em diversos cargos desde a reportagem, passando pela edição, e pela coordenação política e editorial.
Nesse especial buscamos dar voz a seis mulheres negras de diferentes áreas. Vamos contar uma história por dia. Além disso, vamos acompanhar as mobilizações de mulheres negras neste Dia 25 de Julho, data marcada pelo contexto histórico de resistência feminina negra que rememora Aqualtune, Acotirene, Luisa Mahin, Dandara, Maria Firmino dos Reis, Carolina de Jesus, Maria Brandão dos Reis, Antonieta de Barros, Lélia Gonzales, Beatriz Nascimento, Laudelina Campos, Theresa Santos, e tantas outras que aqui chegaram e nasceram.
Entendemos que ao entrevistar as brasileiras Jurema Werneck, Geni Guimarães, MC Soffia, Ialorixá Wand d’Oxum, Lucia Udemezue e a cubana Maria Faguana, estamos dando visibilidade a essa luta histórica das mulheres negras contra o privilégio branco que estrutura a sociedade racista que vivemos.
Termos nossas vozes expandidas pelos veículos de comunicação é algo essencial para ampliação da luta. Tendo em vista, como traz Audre Lorde, “que não esperavam que sobrevivêssemos”, não só sobrevivemos, como temos voz e exigimos espaços equânimes, pois temos certeza de que se uma mulher negra avança ninguém ficou para trás.


 

Fonte: brasildefato.com.br

25 de Julho de 2016