Felipe Bianchi e Leonardo Severo, direto de Quito,
Equador ComunicaSul
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Em manifestação de encerramento, Rafael Correa defendeu a continuidade da Revolução Cidadã e apresentou candidatos da Alianza País para as eleições deste domingo (17) |
Na noite da última quinta-feira (14), dezenas de
milhares de pessoas cobriram de verde a tradicional Rua Michelena, no Sul de
Quito, para manifestar o seu apoio à reeleição do presidente Rafael Correa e
aos candidatos do Alianza País, movimento que reúne patriotas socialistas e
comunistas que sustentam a “Revolução Cidadã”.
“Este é o encerramento multitudinário de uma
campanha verdadeiramente nacional, de unidade do país. Aqui está a resposta
para a manipulação midiática, que diz que a campanha foi apática. Foi apática
para seus candidatos, e sem interesse, para a sua partidocracia. Nunca vi a
Michelena tão cheia, nunca vi tanta alegria, tanta esperança e tanto entusiasmo
para avançar”, declarou Correa.
O presidente reafirmou seu compromisso de garantir
a soberania e o desenvolvimento nacional , ampliando os investimentos públicos
e construindo uma “Pátria para sempre, para os filhos dos nossos filhos e
netos”.
Da mesma maneira, o candidato enfatizou o compromisso com a “Pátria
Grande” com que sonhou o libertador Simón Bolívar, investindo no fortalecimento
da integração latino-americana.
O hino da Unidade Popular, da vitoriosa campanha de
Salvador Allende no Chile, em 1970, e inúmeras canções revolucionárias, como
“Para siempre Comandante”, em homenagem a Che Guevara, embalaram a multidão.
Contra a manipulação eleitoral
Agradecendo o apoio da população que saiu às ruas
em setembro de 2010 para derrotar a tentativa de golpe perpetrada por “poucos
maus policiais que assassinavam o povo”, apoiados “tanto pela mais radical
direita quanto pela ‘suposta’ esquerda”, o presidente disse que não há no país
uma oposição democrática, “mas conspiradores”, que “vamos sepultar nas urnas no
próximo domingo (17)”.
Diante do contundente fracasso dos golpistas, que
“tomavam whisky em hotéis cinco estrelas para celebrar a morte do presidente, a
oposição se somou rapidamente aos grandes meios de comunicação para defender a
anistia aos assassinos”, apontou Correa.
“Esses meios mercantilistas”,
recordou, além de minimizarem a violência e a agressão à democracia e à ordem
constitucional, fizeram um “tremendo escândalo” para converter o agredido em
agressor.
Potencializar a liberdade de expressão
Mais de três mil pessoas participaram da elaboração
do programa de governo do Alianza País, que conta com 10 eixos e 35 propostas.
Entre elas, a implantação de ”políticas públicas no campo da comunicação para
potencializar a liberdade de expressão, distanciada de conceitos e critérios
mercantis. Fazer deste valor democrático e transformador uma ferramenta das
novas gerações”.
Em seu discurso Correa frisou o caráter amplamente
representativo da escolha das candidaturas do movimento: “Antes, quem tinha
dinheiro comprava a candidatura. Agora temos a lista de candidatos mais
diversificada do país: pequenos agricultores, mulheres, indígenas,
cooperativistas, ambientalistas, pequenos empresários e tantos outros”.
Como no
Equador o voto é em lista, os partidos elegem os parlamentares conforme seu
percentual de votos e na ordem em que foram inscritos.
Mulheres conquistam equidade
Por isso, ressaltou Correa, a metade das
candidaturas do Alianza é formada por mulheres, que alternam com os homens na
lista, garantindo que “não sirvam, como antes, apenas para figuração”. “Nossa
revolução crê verdadeiramente nas mulheres e na estrita equidade de gênero.
Acabou a discriminação, a mulher tem que ocupar o lugar que lhe corresponde na
política, na economia e na sociedade. A Revolução Cidadã tem rosto de mulher”.
Além disso, o movimento acordou que os suplentes participarão “em pelo menos
25% das seções”, privilegiando a ação coletiva sobre a individual.
Entre os vários candidatos que subiram ao palanque,
chamados um a um para saudar os presentes, o presidente citou a jovem Gabriela
Rivadeneira, de apenas 29 anos, e Marcelo Vilés, liderança dos trabalhadores
elétricos que se opuseram ao neoliberalismo e impediram a privatização da
eletricidade.
A questão ambiental também integra o programa do
Alianza Pais, que tem entre suas candidatas a ex-ministra do Meio Ambiente
Marcela Vallejo que, citou Correa, “diferente do ambientalismo infantil, coloca
o ser humano no centro, com o imperativo de vencer a pobreza com a utilização
adequada dos recursos naturais”.
O presidente mencionou, ainda, os candidatos
indígenas, “que nos enchem de esperança com seu amor e entrega pela Pátria, com
suas mentes lúcidas e corações ardentes” e dos inúmeros lutadores sociais “que
entregaram seus peitos às balas” contra os governos entreguistas.
A campanha que percorreu e mobilizou os habitantes
da Serra, Costa, Amazônia, Galápagos e entre “nossos irmãos migrantes”,
declarou o presidente, “permitiu recorrer casas, ruas e praças pintadas pelo
coração e a consciência de um povo empoderado”.
Para chegarmos até aqui,
ressaltou, “houve resistências e batalhas históricas de um povo cansado de
viver em um país sequestrado por presidentes títeres das oligarquias nacionais
e estrangeiras”. “O povo equatoriano se levantou e estamos aqui os
representantes das bases, dos excluídos. Somos a geração que está recuperando a
Pátria, devolvendo a dignidade e a esperança à nossa terra e ao nosso povo”.
Recuperar a memória de lutas
Rafael Correa reiterou durante vários momentos de
seu discurso que “é proibido esquecer”, lembrando que o país chegou a ter sete
presidentes em dez anos, sempre seguindo o receituário de Washington. “Temos
avançado tanto e os mesmos de sempre querem voltar ao passado de entreguismo,
de servilismo, de terceirização, exploração do trabalhador e de migração
forçada, que destruiu centenas de milhares de famílias”, disse.
Recordou a
resistência contra os TLCs (Tratados de Livre Comércio), a retirada da base
militar estadunidense em Manta, entre outras ações que a grande mídia e a elite
tentam relegar ao esquecimento.
Ao mesmo tempo, o presidente citou o exemplo de
“Bolívar, Alfaro, Che Guevara, Sandino e Zapata, símbolos de rebeldia e
emancipação” e se comprometeu a reafirmar a cada dia os seus princípios,
“trabalhando pelos anos que sejam necessários”.
Desenvolvimento e industrialização
O ex-ministro coordenador de Setores Estratégicos e
candidato a vice-presidente Jorge Glas comparou o Equador antes e depois da
Revolução Cidadã, mostrando-se comprometido em alavancar o potencial de
crescimento do país. “Antes de Correa, 80% do nosso petróleo ficava com as
transnacionais e apenas 20% era nosso. Renegociamos os contratos e, além de
sermos donos do petróleo, estamos em vias de inaugurar a maior refinaria do
Pacífico”, diz.
Apesar de comemorar as conquistas dos últimos seis
anos, Glas reiterou a necessidade de o Equador se desenvolver ainda mais, mudando
a matriz produtiva: “Por décadas os oligarcas nos falavam que o país 'tinha
vocação para a agricultura'.
Por anos, disseram que não podíamos nos
desenvolver. Mas vamos por mais”, bradou. “Temos que nos industrializar,
refinar nosso petróleo, investir em petroquímica, telecomunicações, siderurgia,
metalurgia”. Esta mudança da matriz produtiva, advertiu, “é essencial para
garantirmos nossa soberania”.
Juventude protagonista
Gabriela Rivadeneira e Virgilio Hernández, duas
importantes lideranças do movimento Alianza Pais, também foram ovacionados pela
multidao, reafirmando o apoio ao presidente e comprometimento com a Revolução
Cidadã.
Candidata mais jovem à Assembleia – e que encabeça
a lista de candidatos do Alianza Pais –, Rivadeneira lembrou a importância da
juventude para consolidar o processo de transformações pelo qual o país tem
passado: “Por muito tempo saímos às ruas para protestar contra os oligarcas,
pintando muros contra os TLCs e indo às ruas.
Por muito tempo gritamos contra a
privatização e defendemos o que é do povo equatoriano. Agora, temos um papel
ainda mais importante: o de lutarmos pela continuidade da Revolução Cidadã, que
tem transformado em realidade o sonho de milhares de equatorianos”.
De acordo com Rivadeneira, “necessitamos que nasçam
milhões de Correas, milhões de Chávez e milhões de Ches”, pois “para consolidar
este processo precisamos cada vez mais nos entregarmos à sua construção”.
Liderança do distrito sul de Quito, aonde acontecia
o comício, Virgilio Hernández destacou a “conquista da dignidade” e denunciou a
política de entrega do patrimônio público às transnacionais e ao sistema
financeiro implementada pelos diferentes governos neoliberais, que tem seu
representante no banqueiro Guillermo Lasso, candidato da oposição.
“A Revolução
Cidadã fez da população de cada rincão do país uma população digna. Mais que
isso, hoje todos temos autoestima e nos orgulhamos de sermos equatorianos”.
No encerramento do ato, que ocorreu no dia do Amor
e da Amizade, Correa e os candidatos da Alianza Pais entoaram, junto à
multidão, a música “Nuestro Juramento”, de Julio Jaramillo: “Eu te prometo,
escreverei a história de nosso amor com toda a alma cheia de sentimento. A
escreverei com sangue, com a tinta sangue do coração”.
Fonte:http://www.brasildefato.com.br/node/11985
17/02/2013
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