A proposição de políticas públicas esbarra na
violação contra os direitos das mulheres no interior dos grandes projetos
econômicos.
Pedro Carrano de Curitiba (PR)
Uma das medidas para coibir a violência contra a mulher foi a promulgação
da Lei Maria da Penha, em 2006 - Foto: Marcello Casal Jr./ABr
|
No período de dez anos do Partido dos Trabalhadores
(PT) no governo houve a implementação de medidas institucionais e políticas
públicas. A Lei Maria da Penha, para coibir a violência contra a mulher, foi
promulgada em 2006, no contexto do seu governo, mas apenas depois da condenação
internacional do Brasil na Comissão Interamericana de Direitos Humanos da
Organização dos Estados Americanos (OEA).
Dentre as medidas em favor das mulheres
conquistadas ao longo dessa década é possível citar fato de a Secretaria de
Políticas para as Mulheres ter adquirido caráter ministerial, ainda que careça
de mais articulação com outras esferas dos direitos humanos – de acordo com
análises de especialistas no tema. Junto a isso, a Lei nº 10778/03 representou
a notificação compulsória dos casos de violência contra as mulheres atendidas
nos serviços de saúde, públicos ou privados.
No combate à violência contra a mulher, houve
mudanças no Código Penal, que só tratava como estupro a agressão com penetração
vaginal comprovada. O toque e até a penetração anal eram tratados como atentado
ao pudor.
Outra medida é a Central de Atendimento à Mulher,
por meio do Ligue 180, que começa a mostrar a dimensão da violência doméstica.
No primeiro semestre de 2012, o Disque Denúncia do governo federal prestou
quase 390 mil atendimentos, quase 100 mil a mais do que no ano anterior,
deixando a interpretação de um maior aumento das denúncias e conscientização,
ao mesmo tempo em que os problemas estruturais persistem. “Fato é que as
denúncias aumentaram.
Também é fato que o tema de violência contra a mulher,
pós Lei Maria da Penha, passou a ser mais pautado e visibilizado no Brasil, o
que acaba dando mais condições de as vítimas denunciarem, conhecerem direitos.
Mas toda a estrutura de atendimento é bastante criticada”, afirma Paula Cozero,
uma das coordenadoras do Projeto Promotoras Legais Populares (PLPs) de
Curitiba. Em 2012, as PLPs realizaram na Universidade Federal do Paraná (UFPR)
curso para cerca de 60 mulheres do meio popular, universitário e sindical, em
mais de 20 módulos de debate e formação.
Contradição
A proposição de maiores espaços institucionais no
interior do Estado esbarra nos dados de que ocorrem violações contra os
direitos das mulheres no interior dos grandes projetos econômicos, entre os
quais as megaobras e projetos no contexto do Programa de Aceleração do
Crescimento (PAC).
Há uma tendência de aumento na exploração sexual de
mulheres em obras como as das usinas hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio, no
Rio Madeira, devido à migração de um contingente massivo de trabalhadores.
Ocorre então a mudança econômica e de padrão cultural na região.
De acordo com
relatório da missão realizada pela Relatoria Nacional do Meio Ambiente da
Plataforma Dhesca Brasil às cidades, constata-se o aumento de 208% no número de
violações em Porto Velho (RO) e de 18% de abuso e exploração sexual de crianças
e adolescentes entre 2007 (ano de iniciação da obra) e 2010.
Quando as obras da usina hidrelétrica de Belo
Monte, na região amazônica do Xingu, intensificaram-se, entre 2010 e 2011, a
Superintendência da Policia Civil de Xingu constatou um aumento de 18,75% de
crimes sexuais nos 11 municípios impactados pela construção da usina.
As
análises apontam ainda o aumento de 75% na cidade de Altamira, a maior das
cidades impactadas. Dos 144 municípios existentes no Pará apenas 12 têm Comissárias
Especiais de Combate a Violência contra a Mulher. “O modelo de desenvolvimento
brasileiro é, assim, como o liberalismo, uma manifestação do patriarcado e uma
expressão de violência estatal contra as mulheres”, afirma Jackeline Florêncio,
da Plataforma Dhesca.
Os projetos acontecem com recursos do BNDES. O
banco em tese deve cumprir os “Princípios de Equador”, conjunto de regras
criadas pelo Internacional Finance Corporation (IFC), órgão vinculado ao Banco
Mundial, que determina critérios mínimos sociais e ambientais para projetos com
custo superior a 50 milhões de dólares. Porém, é fato que os impactos sociais
não são motivo de atenção na análise dos impactos de uma obra.
Mais
sobre o assunto:
Fonte:http://www.brasildefato.com.br/node/11940
14/02/2013
Nenhum comentário:
Postar um comentário