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quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

RANKING DOS PROPRIETÁRIOS FORTALECE LUTAS SOCIAIS


Dados diponibilizados no site (proprietariosdobrasil.org.br) ajudam a compreender, por exemplo, os interesses que mobilizam autoridades a decretar a derrubada do Museu do Índio e o despejo de 70 famílias no Assentamento Milton Santos

Vivian Virissimo do Rio de Janeiro (RJ)

 
O governador do RJ, Sérgio Cabral, e o empresário Eike Batista. 2,4 milhões
para analisar privatização do Maracanã. Foto Carlos Magno / Governo do RJ

A luta dos indígenas da Aldeia Maracanã e dos trabalhadores rurais do Assentamento Milton Santos são as primeiras resistências que já utilizaram os dados organizados no ranking Quem são os proprietários do Brasil, produzido pelo Instituto Mais Democracia (IMD) e pela cooperativa Educação, Informação e Tecnologia para a Autogestão (Eita).

“Queremos que essa pesquisa seja ferramenta de luta dos movimentos sociais. A ideia é que este produto não seja somente para utilização acadêmica ou puramente informacional”, explica o jornalista Carlos Tautz, um dos coordenadores do IMD.

Desde que o ranking foi disponibilizado no site (proprietariosdobrasil.org. br), os pesquisadores têm fornecido dados que ajudam a compreender os interesses que mobilizam autoridades a decretar a derrubada do Museu do Índio e o despejo de 70 famílias no Assentamento Milton Santos em São Paulo.

Nas duas lutas, o IMD e o Eita apontaram alguns dos responsáveis e beneficiados diretamente, mostrando a dependência de recursos públicos destas iniciativas privadas, bem como sua relação com o sistema político partidário. “Temos que colocar as tecnologias de informação e comunicação a serviço dos movimentos sociais”, disse o engenheiro eletrônico Alan Tygel, cooperado da Eita. “Essas informações são públicas, mas nunca são disponibilizadas de forma que a sociedade em geral possa usar. Nosso trabalho foi de destrinchar dados públicos e mostrá-los de forma que façam sentido para a luta dos movimentos sociais”.

Associação de dados

Associando dados do ranking com informações do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), os pesquisadores mostraram os nomes e os valores envolvidos no negócio em torno da Aldeia Maracanã. Um dos citados foi o empresário Eike Batista, que recebeu R$ 2,4 milhões do governo do Estado para realizar estudo de viabilidade econômica da privatização do Maracanã e mostra que o prefeito Eduardo Paes e o governador Sérgio Cabral receberam, respectivamente, R$ 500 mil e R$ 700 mil do empresário durante suas campanhas em 2008 e 2010.

A iniciativa teve amplo engajamento nas redes sociais, alcançando mais de 1.000 compartilhamentos no Facebook. Já a família Abdalla e seu extenso patrimônio foram divulgados para contextualizar o possível desalojamento dos produtores rurais do assentamento Milton Santos. Juca Adalla, por exemplo, possui um poder acumulado de R$ 10,88 milhões e é controlador do Banco Clássico S/A. Através dele, possui ações ainda na Tractebel Energia que recebeu R$ 90 milhões do BNDES em 2009 e doou R$ 155 mil a candidatos nas campanhas de 2010 e 2012.

Os exemplos da Aldeia Maracanã e do Assentamento são apenas o começo das relações possíveis de serem feitas com a metodologia adotada pelo Eita e pelo IMD. Dados também já contribuem para as lutas dos operários do Porto do Açu em São João da Barra, e dos os pescadores que estão sendo afetados pelo Polo Siderúrgico da TKCSA na Baía de Sepetiba.

É possível investigar os grandes proprietários do Brasil em diferentes áreas e a tendência é ampliar ainda mais os horizontes da pesquisa. No topo da lista do ranking dos proprietários do Brasil, figuram o conglodomerado Telefônica, a Previ (fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil), o grupo Telemar, a BBD Participações (holding que controla o Bradesco), a Stichting Gerdau Johannpeter (dona da Gerdau) e a Wilkes Participações S.A. (controladora do Pão de Açúcar).

Chama a atenção a renomeação dos grupos econômicos, e a altíssima concentração de poder: os 12 primeiros colocados acumulam 51% do poder total.

Metodologia 

A metodologia utilizada foi desenvolvida pela EITA e IMD, com base em alguns estudos semelhantes desenvolvidos em outros países. A partir das informações das empresas listadas na bolsa de valores de São Paulo, chegou-se a uma teia de poder com quase 6 mil atores, incluindo empresas, pessoas físicas e órgãos públicos. Dentre estes, foram identificados os controladores últimos e a empresas com participação intercadeias, que figuram no ranking por serem as mais poderosas pelo critério do Índice de Poder Acumulado.

Detalhes da metodologia podem ser vistos no portal. Além de considerar a receita dos maiores grupos de capital aberto, a pesquisa inclui também a participação do Estado brasileiro, através de suas estatais, sobretudo do BNDES, um dos maiores bancos públicos do mundo.

Mais sobre o assunto: 

Fonte:http://www.brasildefato.com.br/node/11898

07/02/2013

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