Dados diponibilizados no site (proprietariosdobrasil.org.br)
ajudam a compreender, por exemplo, os interesses que mobilizam autoridades a
decretar a derrubada do Museu do Índio e o despejo de 70 famílias no
Assentamento Milton Santos
Vivian Virissimo do Rio de Janeiro (RJ)
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O governador do RJ, Sérgio Cabral, e o empresário Eike Batista. 2,4 milhões
para analisar privatização do Maracanã. Foto Carlos Magno / Governo do RJ
|
A luta dos indígenas da Aldeia Maracanã e dos
trabalhadores rurais do Assentamento Milton Santos são as primeiras
resistências que já utilizaram os dados organizados no ranking Quem são os
proprietários do Brasil, produzido pelo Instituto Mais Democracia (IMD)
e pela cooperativa Educação, Informação e Tecnologia para a Autogestão (Eita).
“Queremos que essa pesquisa seja ferramenta de luta
dos movimentos sociais. A ideia é que este produto não seja somente para
utilização acadêmica ou puramente informacional”, explica o jornalista Carlos
Tautz, um dos coordenadores do IMD.
Desde que o ranking foi disponibilizado no site
(proprietariosdobrasil.org. br), os
pesquisadores têm fornecido dados que ajudam a compreender os interesses que
mobilizam autoridades a decretar a derrubada do Museu do Índio e o despejo de
70 famílias no Assentamento Milton Santos em São Paulo.
Nas duas lutas, o IMD e o Eita apontaram alguns dos
responsáveis e beneficiados diretamente, mostrando a dependência de recursos
públicos destas iniciativas privadas, bem como sua relação com o sistema
político partidário. “Temos que colocar as tecnologias de informação e
comunicação a serviço dos movimentos sociais”, disse o engenheiro eletrônico
Alan Tygel, cooperado da Eita. “Essas informações são públicas, mas nunca são
disponibilizadas de forma que a sociedade em geral possa usar. Nosso trabalho
foi de destrinchar dados públicos e mostrá-los de forma que façam sentido para
a luta dos movimentos sociais”.
Associação de dados
Associando dados do ranking com informações
do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e do Banco Nacional do Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES), os pesquisadores mostraram os nomes e os valores
envolvidos no negócio em torno da Aldeia Maracanã. Um dos citados foi o
empresário Eike Batista, que recebeu R$ 2,4 milhões do governo do Estado para
realizar estudo de viabilidade econômica da privatização do Maracanã e mostra
que o prefeito Eduardo Paes e o governador Sérgio Cabral receberam,
respectivamente, R$ 500 mil e R$ 700 mil do empresário durante suas campanhas
em 2008 e 2010.
A iniciativa teve amplo engajamento nas redes
sociais, alcançando mais de 1.000 compartilhamentos no Facebook. Já a família
Abdalla e seu extenso patrimônio foram divulgados para contextualizar o
possível desalojamento dos produtores rurais do assentamento Milton Santos.
Juca Adalla, por exemplo, possui um poder acumulado de R$ 10,88 milhões e é
controlador do Banco Clássico S/A. Através dele, possui ações ainda na
Tractebel Energia que recebeu R$ 90 milhões do BNDES em 2009 e doou R$ 155 mil
a candidatos nas campanhas de 2010 e 2012.
Os exemplos da Aldeia Maracanã e do Assentamento
são apenas o começo das relações possíveis de serem feitas com a metodologia
adotada pelo Eita e pelo IMD. Dados também já contribuem para as lutas dos
operários do Porto do Açu em São João da Barra, e dos os pescadores que estão
sendo afetados pelo Polo Siderúrgico da TKCSA na Baía de Sepetiba.
É possível investigar os grandes proprietários do
Brasil em diferentes áreas e a tendência é ampliar ainda mais os horizontes da
pesquisa. No topo da lista do ranking dos proprietários do Brasil,
figuram o conglodomerado Telefônica, a Previ (fundo de pensão dos funcionários
do Banco do Brasil), o grupo Telemar, a BBD Participações (holding que
controla o Bradesco), a Stichting Gerdau Johannpeter (dona da Gerdau) e a
Wilkes Participações S.A. (controladora do Pão de Açúcar).
Chama a atenção a renomeação dos grupos econômicos,
e a altíssima concentração de poder: os 12 primeiros colocados acumulam 51% do
poder total.
Metodologia
A metodologia utilizada foi desenvolvida pela EITA
e IMD, com base em alguns estudos semelhantes desenvolvidos em outros países. A
partir das informações das empresas listadas na bolsa de valores de São Paulo,
chegou-se a uma teia de poder com quase 6 mil atores, incluindo empresas,
pessoas físicas e órgãos públicos. Dentre estes, foram identificados os
controladores últimos e a empresas com participação intercadeias, que figuram
no ranking por serem as mais poderosas pelo critério do Índice de Poder
Acumulado.
Detalhes da metodologia podem ser vistos no portal.
Além de considerar a receita dos maiores grupos de capital aberto, a pesquisa
inclui também a participação do Estado brasileiro, através de suas estatais,
sobretudo do BNDES, um dos maiores bancos públicos do mundo.
Mais
sobre o assunto:
Fonte:http://www.brasildefato.com.br/node/11898
07/02/2013
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