Estilo musical comemora 106 anos
e continua arrastando multidões
Há 106 anos o frevo segue colorindo as ruas de Pernambuco (Foto: Jan Ribeiro / Prefeitura de Olinda) |
O frevo que arrasta multidões no carnaval e
completa 106 anos neste dia 09 chega à nova idade sem deixar de ser atual.
Graças ao charme de seus acordes e a paixão de seus admiradores, o ritmo vem
sendo preservado e ainda hoje agita muitos foliões.
Neste mês de aniversário, o
portal globo cidadania ouviu apaixonados pelo som que
embala o sobe e desce das ladeiras de Olinda (PE) e as ruelas do Recife Antigo
(PE) durante a folia momesca. São artistas, estudiosos e foliões que, ajudam a
manter o ritmo centenário vivo e atual.
O compositor Getúlio Cavalcanti em mais uma de suas apresentações (Foto: Acervo pessoal) |
Getúlio Cavalcanti é um desses admiradores do ritmo
reconhecido pela Unesco como Patrimônio Imaterial da Humanidade. Mais do que
isso: é um dos responsáveis por fazer o frevo acontecer. Compositor e presença
certa no carnaval pernambucano há 50 anos, ele é o autor do frevo-canção
“Último Regresso”.
A música é uma das mais tocados no carnaval de Pernambuco e
já foi interpretada por Elba Ramalho, Gal Costa e Maria Rita. “O frevo é um
ritmo multicultural. É uma mistura que encanta todo mundo. Aquela hora em que
os instrumentos param e o povo segue cantando uma música que você compôs é
arrepiante! Até hoje me emociono quando isso acontece”, conta Getúlio.
Ele lembra que é no carnaval que o frevo
ganha mais destaque e, por isso, este momento acaba virando uma boa vitrine:
“Preservar nossos ritmos é um ato de cidadania. É através da música que o povo
fala, faz suas crônicas... E já que o frevo é um patrimônio, o carnaval é o
momento para mantê-lo sempre aceso e pulsando nos nossos corações animados. O
frevo é contagiante, uma referência de pureza e alegria”, comemora o
compositor.
A sabedoria popular de Getúlio encontra eco no
mundo acadêmico. A historiadora Rita de Cássia Araújo, da Fundação Joaquim
Nabuco, do Recife, concorda. Estudiosa do assunto, ela diz que o carnaval é o
momento ideal para preservar e renovar nossos ritmos. “Ao mesmo tempo que o
revela o que há sociedade, conserva a identidade e reflete o momento histórico.
A festa possibilita o processo de criação, que é fruto da memória popular”,
afirma.
O ritmo centenário conquista diferentes gerações (Foto: Jan Ribeiro / Prefeitura de Olinda) |
Nas pesquisas que faz sobre o frevo, Rita de Cássia
já encontrou informações preciosas como, por exemplo, a respeito de seu
nascimento. Ela conta que 09 fevereiro de 1907 foi a data em que houve o
primeiro registro da palavra “frevo” na imprensa, por isso, é esse oficialmente
o dia do aniversário do ritmo.
Mas a historiadora explica que antes de aparecer
nas páginas dos jornais, o frevo já era um velho conhecido nas ruas do Recife.
“A capital de Pernambuco sempre foi polo de trabalho, por isso, a base
fundamental do frevo são os trabalhadores urbanos. Antes de ser um gênero
musical, o frevo começou como um furdunço, um movimento de rua”, ensina.
O nome do ritmo é um capítulo à parte. Segundo a
historiadora, criou-se a lenda de que a mistura dos instrumentos musicais
provocava um certo calor no chão e as pessoas, por não possuírem um grau de
instrução muito elevado, flexionavam o verbo “ferver” de maneira errada,
usando-o como “frever”.
A partir daí, “frevo” virou sinônimo de
aglomeraçãoo, rebuliço, entre outras definições para reuniões de massa popular.
Ao todo, existem três tipos de frevo: de rua, de bloco e canção. Os passos
coreográficos somam cerca de 120: dobradiça, tesoura e parafuso, dentre outros.
Seja pela fama do ritmo ou pela devoção de seus seguidores, esses passos não
ficam restritos a Pernambuco e estão ultrapassando as fronteiras nordestinas.
O frevo já foi parar, por exemplo, no Cerrado do
Planalto Central. Tudo por causa de um grupo de pernambucanos que morava em
Brasília e em 2006 resolveu criar a Troça Carnavalesca Mista Suvaco da Asa. A
ideia era despretensiosa: matar a saudade de “frevar”, reunir os amigos e
trazer um pouco de carnaval para a capital do país.
O Bloco Suvaco da Asa leva a animação do frevo para o pré-carnaval de Brasília (Foto: Divulgação) |
No primeiro desfile, um pequeno carro de som animou
cerca de cem foliões. Com o passar dos anos, a troça cresceu, ficou conhecida
como bloco (apenas por ser um termo mais popular) e mesmo arrastando hoje cerca
de cinco mil pessoas ainda mantém o espírito mambembe que a tornou conhecida.
De acordo com um dos idealizadores do bloco,
Rodrigo Hilário, levar o ritmo para Brasília foi relativamente fácil por ser
uma cidade aberta para todas as manifestações culturais: “A cena de frevo já
existia em Brasília com o tradicional bloco Galinho, mas fomos os primeiros a
trazer essa cultura de desfile”, comenta.
Animado todos os anos por orquestras de frevo, o
Suvaco da Asa dissemina o ritmo pernambucano em outra região do país, onde o
carnaval não tem tanta expressão, e fortalece a diversidade cultural do país:
“É um ritmo muito próprio e contagiante. Ninguém sai imune”, destaca Rodrigo
que é baiano de nascimento, mas pernambucano desde a primeira “frevada”.
Fonte:http://redeglobo.globo.com/globocidadania/noticia/2013/02/no-dia-do-frevo-conheca-historias-sobre-o-ritmo-genuinamente-nacional.html
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