Da Redação
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Em carta, eles pedem que o governo federal interceda imediatamente e
de maneira enérgica com um plano de segurança para os povos indígenas no
Mato Grosso do Sul - Foto: Ruy Sposati/Cimi |
Lideranças indígenas Terena, Kadiwéu, Guarani
Kaiowá e Guarani Ñandeva entregaram uma carta na segunda-feira (25) à ministra
da Secretaria dos Direitos Humanos (SDH), Maria do Rosário, durante encontro em
Campo Grande (MS).
Endereçada ao governo federal, o documento pede o
afastamento dos delegados da Polícia Federal de Dourados, Chang Fan e Fernando
José Parizoto. Segundo os indígenas, os servidores possuem comportamento
declaradamente anti-indígena e preconceituoso, e dizem que temem represálias e perseguições
por parte dos dois.
Os indígenas também querem que o governo federal
interceda imediatamente e de maneira enérgica com um plano de segurança para os
povos indígenas no Mato Grosso do Sul. Confira abaixo a carta na íntegra.
Carta dos povos indígenas do Mato Grosso do Sul ao
Governo Federal
Nós, representantes dos povos indígenas, caciques e
lideranças Guarani Ñandeva, Guarani Kaiowá, Terena e Kadiwéu, representantes do
Conselho do Povo Terena, Conselho do Aty Guasu, do Conselho Continental da Nação
Guarani (CCNG), Conselho Nacional de Educação Escolar Indígena da Articulação
dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) reunidos em Campo Grande, vimos a público
exigir que o Governo Federal interceda imediatamente de maneira enérgica com um
plano de segurança para os povos indígenas no Mato Grosso do Sul.
No último período, as comunidades indígenas da
região sofreram ataques inaceitáveis. Os Kadiwéu, cuja terra indígena foi
demarcada há mais de 100 anos e homologada há quase 30, tem ao menos 23
fazendas incidindo sobre seu território. No segundo semestre do ano passado, a
Polícia Federal realizou reintegrações de posse na área em função de uma
liminar da Justiça Federal concedida a fazendeiros. Neste contexto, ameaças e
ataques de pistoleiros contra lideranças indígenas foram e são recorrentes.
Em janeiro, famílias Terena da terra indígena
Buriti, com 17 mil hectares declarados como território tradicional indígena em
2010 pelo Ministério da Justiça, mas apenas 2 mil ocupados, sofreram ataques de
jagunços de fazendeiros. Os conflitos advêm da morosidade do Estado em promover
a demarcação física dos limites da terra e os sucessivos passos para a
homologação do território.
As violências constantes contra os povos Guarani e
Kaiowá revelam na dor do nosso povo a incapacidade do governo de demarcar
nossas terras e de proteger nossas comunidades. Somente esse ano foram
contabilizados ao menos 10 ataques de pistoleiros e fazendeiros contra
acampamentos indígenas, culminando na execução do jovem Kaiowá Denilson Barbosa,
de 15 anos, do tekoha Tey’ikue, em Caarapó, cujo assassino é o confesso
proprietário de uma fazenda vizinha à aldeia.
Além da perseguição de fazendeiros, seguranças e
jagunços, também sofremos quando há envolvimento da polícia civil e militar –
via de regra comprometida com o latifúndio. Também sofremos o descaso e a
difamação nos veículos da grande imprensa local que está a serviço dos
fazendeiros e do agronegócio no Mato Grosso do Sul. Estamos cercados, em todos
os sentidos.
Exigimos que todos os casos relacionados a direitos
indígenas sejam tratados, investigados e julgados pela Justiça Federal e
Polícia Federal. Exigimos que o Governo Federal garanta a segurança plena de
nossas comunidades indígenas em situação de conflito devido a luta por seus
direitos constitucionais.
Denunciamos, também, o comportamento declaradamente
anti-indígena e preconceituoso dos delegados da Polícia Federal de Dourados
Chang Fan e Fernando José Parizoto. Após o assassinato de Denilson e os
sucessivos ataques de fazendeiros sofridos pela comunidade do Tey’ikue,
lideranças Guarani e Kaiowá foram a Dourados discutir um planejamento
emergencial de segurança para a comunidade com a PF.
Na presença da Fundação
Nacional do Índio, o delegado Fernando Parizoto, de forma arrogante e autoritária,
negou aos indígenas o auxílio da Polícia, retrucando que os equivocados nessa
história eram os próprios Guarani e Kaiowá que, segundo ele, haviam invadido
propriedade privada e seriam investigados por isso. Por temermos mais
represálias, perseguições e ambos não terem sensibilidade e clareza para lidar
com a questão indígena, exigimos que o Governo Federal os afaste do cargo.
A tudo isso, somam-se os ataques anteriores e toda
a violência a qual fomos historicamente submetidos e que resultaram em mortes,
empobrecimentos, perda de território e de identidade – quadros que são
reforçados quando, na prática, governos ignoram nossas demandas.
Por fim, não nos resta outra alternativa a não ser
reafirmar a carta de Pyelito Kue. Estamos preparados para morrer em nossas
terras. Não vamos desistir nunca. Vamos retoma-lás uma a uma, fazendo nossa
autodemarcação. Basta de impunidade, de fazendeiros assassinos andando à luz do
dia, enquanto na terra se abre mais uma cova, que destruiu os sonhos de mais um
jovem indígena.
Num contexto em que as comunidades e lideranças
ameaçadas, mesmo as que estão sob proteção de programas de governo, não tem
segurança; em que todos os nossos assassinos e expropriadores continuam
impunes; em que não temos acesso à água, comida, saúde, escola e terra; nós
exigimos Justiça. Nossos filhos não podem sofrer como nós já sofremos.
Campo Grande, 25 de fevereiro de 2013.
Lideranças Terena, Kadiwéu, Guarani Kaiowá e
Guarani Ñandeva
Fonte:http://www.brasildefato.com.br/node/12092
26/02/2013
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